Porque votei em Salazar

Porque tenho andado seriamente a tentar perceber-me a mim própria por ter votado em Salazar (já alguém reparou o quanto sou contraditória, além da MC? :p ), porque estou com uma valente dor de cabeça que não me permite pensar muito (vulgo, ressaca - mas fizemos 250€ ontem na festa da rifa do álcool!!!), e porque tenho as minhas colegas à espera para o trabalho de Economia Financeira, deixo-vos com um texto muito bem escrito, na minha opinião, e onde se poderão encontrar alguns motivos que conduziram o meu voto em Salazar (se bem que, analisando atentamente, acho que também fui influneciada pela leitura d' "Os Amores de Salazar"):

"Ditador ou Salvador?


A RTP fez, por acaso, serviço público, estando finalmente ao serviço da liberdade de expressão em Portugal. Pode ser que, no futuro, não se tenha de levar sempre com a versão de esquerda da História e qualquer um possa expressar livremente as suas ideias, sem ruído, sem interrupção e sem uma pronta descredibilização como agora acontece. Pode ser até que se consiga defender ideias que não são de esquerda ou centro sem se ser logo rotulado de "fascista" e censurado. Isso seria positivo para a dita "pluralidade" e para o país.


Nada muda de repente, vemos hoje o mesmo tipo de ruído e propaganda que perturba a verdade desde a "revolução". Os mesmos analistas e intervenientes políticos, com os mesmos argumentos, lá vão saindo dos seus buracos para fazer cada um o seu teatro de revista anti-fascista. Não é surpresa que, a par do resultado de um concurso, saia logo um estudo de opinião preparado para desmentir, ou suavizar, o resultado. Porque os militantes e moralistas do politicamente correcto, com maiores ou menores tiques de elite, fazem este tipo de coisa sempre que alguém sussurra, à opinião pública, uma opinião contrária à estabelecida, de jure e por decreto, como a certa.


O que é que há de novo? Temos o resultado de uma votação auditado por uma empresa estrangeira num programa tipo concurso sobre o maior português de sempre. E ganhou, destacado (41%, a 22 pontos do segundo), António de Oliveira Salazar, totalmente contra a corrente de opiniões que escoa diariamente nos media.


Essa corrente vai reforçar-se nos próximos dias e pelo menos até ao final de Abril. Depois deste resultado, muitos acharão necessário introduzir mais ruído, repetir as ideias feitas contra o Estado Novo, reforçar uma imagem demoníaca de Salazar, enfim, continuar o programa de lavagem cerebral iniciado em 74. Após o resultado ter sido divulgado, ninguém pareceu muito à vontade no estúdio. Praticamente todos procuraram uma desculpa para o resultado - ou para não o analisarem. É como quando as crianças puxam a barba do Pai Natal e vêem que é apenas o tio: o choque fá-las entrar numa fase de negação. Parece-me que esse estúdio é uma amostra razoável do panorama intelectual português, ainda em fase de negação. Não sabem bem o que fazer. Podem acontecer duas coisas: a saída saudável mas difícil, que será enfrentaram a realidade e aceitarem a História, ou a saída doente mas fácil, que será convencerem-se todos outra vez que o seu mundo de fantasia é o mundo real.


Vejamos os argumentos, ou melhor, os lugares-comuns que se usaram e continuarão a usar para prossegui no caminho fácil:


1. O básico, repetido como por um papagaio na enorme massa "pensante" do politicamente correcto, é o que diz, sempre com muita convicção: "se Salazar ainda existisse não podíamos estar aqui a discutir isto ou aquilo". É um lugar-comum mágico, verdadeiro feitiço arrancado de uma história de Harry Potter, porque em qualquer situação transforma do seu emissor um mensageiro da liberdade - mesmo que seja defensor de um regime marxista. Este "argumento", no entanto, não só não invalida que um grande líder seja um grande líder (na História existiram muitos grandes líderes em regimes não-democráticos - os historiadores de esquerda que tentem provar o contrário), como também pode ser aplicado a todos os outros finalistas à excepção de Aristides Sousa Mendes, que nem teve poder para poder ser julgado desta forma. Se há 50 anos esta votação/debate não podia existir, há 500 ou 800 ainda menos. Logo é um argumento pouco criativo e de efeito zero numa mente racional.


2. As pessoas quiseram dar um voto de protesto ao actual estado de coisas votando em Salazar. Isto é, não gostam dele, nunca gostaram, nunca poderão vir a gostar ou ver nele uma migalha de valor - o que acontece é que, como a democracia não trouxe a felicidade plena (nem, pelos vistos, meios de protesto suficientes), a população decide protestar votando em massa num programa televisivo. Se isto fosse verdade, isto é, se os descontentes-que-votam-contra fossem tão expressivos, o PCP ou o Bloco de Esquerda já tinham tido maioria absoluta há muito tempo. Mas nunca tiveram - longe disso. A grande maioria dos votos é dada ao centro, apesar de serem os partidos de centro que governam e sofrem desgaste. Portanto os gurus desta teoria do "voto de protesto" em Salazar têm de explicar como é que há uma proporção tão pequena de protestantes radicais em outras votações ou sondagens. Ou ficarem calados. Entre uma e outra, geralmente optam por insistir na mesma ideia como uma mosca a bater numa vidraça... Mais um caso de pouca imaginação.


3. As pessoas votaram em Salazar por ignorância. Não sabem, votaram ao calhas e acertaram em Salazar, que rima com azar. Geralmente esta ideia é suavizada com um discurso deste tipo: "ainda não passámos [nós, a elite intelectual dos esclarecidos] bem a mensagem ao povo, temos de insistir e continuar a lutar para que as pessoas percebam". Isto falha em dois pontos. Primeiro, considera fracos os preconceitos instaurados contra o regime salazarista - que não são poucos. Segundo, há muitas pessoas que viveram no Estado Novo. Um português hoje com 50 anos, digamos, teria 17 em 1974 e já se lembraria de algo. Cerca de metade da população encaixa nesta faixa etária. Se Salazar foi tão terrível como diz a propaganda, como é que estas pessoas não se aperceberam disso? É muito estranho - ou muito estúpido. Talvez as pessoas com mais de 50 anos não saibam mexer em telemóveis para votar nestes programas, e por isso não contem. Seja como for, assumir que quem tem menos de 50 anos é ignorante não tem qualquer fundamento.


4. O argumento PCP: há um plano secreto dos fascistas para regressar ao poder. A RTP e a Price Waterhouse Coopers, ignorando a Constituição, uniram-se aos salazaristas ("fascistas" no vocabulário da enciclopédia das edições Avante!, que é um termo que engloba todo o espectro da direita, mais os capitalistas, os judeus, os monárquicos e todos os críticos da esquerda) e planearam copiar um concurso feito em outros países para promover o nome de Salazar. As votações foram falsas, mas eficazes. Um exército de salazaristas conspira para tomar o poder, sendo o último bastião da liberdade e da democracia o PCP. Perto disto a Guerra Fria foi mero um jogo de berlindes. A luta continua. No final, todos serão felizes para sempre desde que pertençam ao PCP, não o tentem renovar e concordem com a existência de democracias maduras em Cuba e na Coreia do Norte, assim como com o facto indesmentível da reforma agrágria ter sido óptima para o país.


Não me parece que qualquer destes argumentos possa ser fundamentado. Os melhores analistas vão fazer dar-lhes um aspecto interessante e colorido, mas quem rema contra a lógica e os factos acaba por naufragar mais tarde ou mais cedo.
Pessoalmente parece-me que os motivos são outros:


1. Oportunidade de mostrar que merecemos mais do que a pobre e estupidificante versão do Estado Novo, do Salazar e do 25A com que nos moem a cabeça desde a escola primária. Merecemos uma análise histórica com rigor científico e honestidade no que diz respeito à nossa pátria. Não queremos versões revolucionárias e anti-fascistas da realidade - queremos somente a realidade. Não queremos julgamentos feitos e empacotados. Queremos os factos e a liberdade de os julgar como entendermos melhor.


2. Voto de protesto, sim, mas pela liberdade de expressão. Um país só é livre quando todos podem ter a opinião que entenderem e formarem os partidos e associações que acharem melhor, independentemente da sua ideologia, credo ou raça. Ninguém pode acreditar nisto enquanto a própria Constituição proibir a manifestação de uma ideologia.


3. Cura do complexo anti-salazarista. Aceitar o passado, em vez de o apagar da memória, é a melhor terapia para um país traumatizado. Restaurar o verdadeiro nome da ponte sobre o Tejo, construir o museu Salazar, falar sobre o Estado Novo tal como ele foi, com as suas virtudes e defeitos, no seu contexto histórico, sem preconceitos. Já nos libertámos do salazarismo - alguém duvida? Só falta libertar-nos da doença anti-salazarista que alguns querem perpetuar. Esta votação pode ter sido um primeiro passo.


4. A mensagem de que virtudes como o patriotismo, a honestidade, a lealdade, a rectidão moral, a capacidade de liderança, são importantíssimas num homem de Estado, e que poucos existiram até hoje como Salazar nesse aspecto.


5. A importância de Salazar no contexto do século XX. A estabilização política, o crescimento da economia, a neutralidade na Segunda Guerra. Muitos sentem que devem isso a Salazar. Tal não quer dizer que gostassem do regresso de um Salazar, penso, ou mesmo que simpatizassem com ele. Quer apenas dizer que reconhecem o seu papel na vida nacional.


6. Voto contra Álvaro Cunhal. Sem dúvida, um motivo também muito válido e também já referido ontem por Paulo Portas. Apesar de fraco. É o único argumento que poderá coincidir com o "politicamente correcto", porque serve de desculpa.


Nenhum dos motivos, porém, me parece ter sido eleger Salazar como o maior português de sempre. Nem o segundo classificado teve tais motivos, nem o terceiro, pelo que o concurso não deixou de ser, nem na conclusão, algo mais relevante que o novo Big Brother da TVI.


Uma coisa vale aquilo que se dá por ela. A água, que no deserto vale mais que diamantes, na cidade vale menos que um BigMac. Vejamos o impacto que terá esta votação na sociedade actual, durante os próximos dias. Quanto mais palermas a negar o óbvio, mais mérito para o programa e mais louros para o grande estadista."

retirado daqui.

Quando Nietzsche Chorou

Acabei há momentos de ler aquele que se tornou num dos meus livros preferidos - "Quando Nietzsche Chorou" de Irvin D. Yalom (que lançou recentemente "A Cura de Schopenhauer" e que também espero ler em breve) - , um romance de ideias que retrata a história de uma amizade entre dois grandes homens, Friederich Nietzsche e Joseph Brauer, um dos pais da psicanálise.

"Friederich Nietzsche, o maior filósofo da Europa, está no limite de um desespero suicida, incapaz de encontrar cura para as insuportáveis enxaquecas que o afligem. Josef Breuer, médico distinto e um dos pais da Psicanálise, aceita tratar o filósofo com uma terapia nova e revolucionária: conversar com Nietzsche e, assim, tornar-se um detective na sua cabeça.

Pelas ruas, cemitérios e casas de chá da Viena do sec. XIX, estes dois gigantes do seu tempo vão conhecer-se um ao outro e, fundamentalmente, conhecer-se a si próprios.E no final não é apenas Nietzsche que exorciza os seus fantasmas. Também Breuer encontra conforto naquelas sessões e descobre a razão dos seus próprios pesadelos, insónias e obsessões sexuais.


Quando Nietzsche Chorou funde realidade e ficção, ambiente e suspense, para desvendar uma história superior sobre amor, redenção e o poder da amizade."

Ainda agora não consigo arranjar palavras suficientes para descrever o livro e o efeito que teve sobre mim. É demasiado inquietante e verdadeiro (por vezes tinha de parar para absorver devidamente todo o peso daquelas palavras!). Demasiado poderoso, para caber num simples texto. De resto, todo o escrito desse grande filósofo, assim também o é. Mesmo que não se concorde em traços gerais com as ideias defendidas, parece-me impossível ficar-se indiferente...

Por isso, na impossibilidade de falar deste livro que ecoa com tal estrondo na alma, deixo-vos com algumas citações brilhantes que, espero, despertem o interesse de o ler. É um livro para ler devagar. Recomendo-o, mais que vivamente, sobretudo a quem gosta de ser inquietado ou é frequentemente assolado por dúvidas de sempre...

"Atinge-se a verdade através da descrença e do ceptiscismo e não do desejo infantil de que uma coisa aconteça de certa maneira".

"Não é a verdade que é sagrada, mas a procura da nossa própria verdade! Haverá acto mais sagrado do que a auto-inquirição?"

"Transforma-te em quem és"

"Isso (confiar em Deus) não é escolha para um homem. Não é uma busca humana, mas sim a busca de uma ilsuão externa a nós. Tal escolha, a escolha de outrém, do sobrenatural é sempre debilitadora. É sempre redutora do homem em si. Amo aquilo que nos torna mais do que somos!"

"Os inimigos da verdade não são as mentiras, mas as convicções."

"Qual é o sinal da libertação? Não se envergonhar perante si próprio!"

"Tudo o que não me mata, fortalece-me."

"Se as crenças e o comportamento humano devem ser entendidos, é preciso primeiro acabar com a convenção, a mitologia e a religião, sem pré-concepções."

"Todas as acções são auto-dirigidas, todo o serviço é auto-serviço, todo o amor é amor-próprio."

"A derradeira meta é ser independente das opiniões dos outros."

"O espírito de um homem constrói-se a partir das suas escolhas."

"Não tomar posse do seu plano de vida é deixar que a sua existência seja um acidente."

"Claro que sofre, é o preço de ter visão. Claro que sente medo, viver significa correr perigo."

"Viveu a sua vida? Ou foi vivido por ela? Escolheu-a? Ou escolhe-o ela a si? Amou-a? Ou lamentou-a?

"O imortal é esta vida, este momento. Não existe uma vida após a morte, uma meta para a qual aponta esta vida, um tribunal ou julgamento apocalíptico. Este momento existe para sempre e apenas você é a sua própria plateia."

"Cada pessoa tem que escolher a verdade que consegue suportar"

"Amor fati, escolhe o teu destino, ama o teu destino."

A minha Consolação*

"Sim, mar, eu sei, tu és para mim a outra margem."
Vinicius de Moraes, Versos Soltos no Mar


O meu Largo. Varanda dos meus sonhos. Testemunha da minha vida. Refúgio das minhas tristezas. Depósito das minhas mágoas e das minhas reflexões. Minha maior consolação. Um eterno regresso a casa.

O meu Forte. Esquecido mas imemorial. Um resistente.

A minha praia. Única. Dum lado areia. Do outro rocha. Dum lado dia. Do outro noite.

Haverá sítio mais acolhedor do que a nossa casa?

Mar. Meu mar. Já tenho saudades de te olhar, de me sentir pequenina, de me render à tua grandeza e poder e de me maravilhar. Inquietas-me. Pacificas-me. Deixa-me morrer afogada de ti...

* que, esclareço para que não haja trocadilhos, é a praia mais perto de minha casa! =)

Portugoal =)

Excelente crónica esta:
"EM TEMPOS já muito idos, ainda no século passado, dirigia eu uma revista por sinal multinacional e de nome francês, decidi, autocraticamente, criar uma norma interna que proibia que se usasse qualquer língua estrangeira nos títulos dos artigos. Houve um bocadinho de choro e ranger de dentes: algumas jornalistas garantiam-me que o inglês tinha mais graça e era um sinal de sofisticação (aliás, a palavra que usavam era a portuguesíssima «glamour»). Retorqui que assim que a edição inglesa da revista prestasse preito tituleiro à língua de Camões, nós faríamos o mesmo - até lá, honrosamente portuguesinhas nos manteríamos. Dezenas de excepções me foram depois propostas - «só desta vez, isto não pode ser dito de outra maneira» - mas a minha vetusta pessoa, acabada de criar na gloriosa década de oitenta em que o rock nacional conseguia ser simultaneamente inspirado e cantado em língua portuguesa e as estações de rádio tratavam a música portuguesa tão bem como se fosse estrangeira, manteve-se inamovível. E a verdade é que nunca deixámos de encontrar títulos portugueses para todos os temas da revista. Havia, nesse fim de século, a ideia de que salvaguardando a língua estávamos a promover a cultura e a imagem de um país que se notabilizara, acima de tudo, pelo fulgor da sua criatividade literária. Percebi que esta ideia era um bocadinho ingénua, para não dizer mesmo desfasada do real quando, perto do virar do milénio, ouvi um director de jornal gabando-se de ter contratado, por uns larguíssimos milhares de contos de réis, um par de especialistas norte-americanas que estavam a «estudar a calçada de Lisboa e as cores da cidade» para que depois, com base nesse estudo, se realizasse uma moderníssima revolução gráfica no jornal. Senti desmaiar dentro de mim a defesa da língua nacional, substituída por uma vontade súbita de me tornar uma especialista norte-americana em calçada portuguesa.


A campanha de promoção do Allgarve, agora lançada pelo nosso sempre imaginativo e intrépido ministro Manuel Pinho, acelerou decisivamente a minha adesão ao choque tecnológico e ao ecuménico espírito desta década zero. Sou um bocadinho lenta; de outra maneira poderia já ter entendido a mensagem quando o nosso ministro da Economia publicitou na China a barateza da mão de obra lusitana - e ainda na semana passada tivemos notícia de como essa mão de obra de saldo é eficientemente vendida, por intermediários portugueses, para território espanhol, conseguindo o pluricultural prodígio de diminuir o desemprego em Portugal e aumentar a rentabilidade espanhola. A comunicação social, sempre cheia de maldade e obscuros intuitos de destruição (como muito bem vai sublinhando o blogue oportunamente criado pelo Ministério da Administração Interna), pôs-se logo a chamar «escravatura» a essa modalidade de contratos de trabalho, tão contemporânea no seu despojado minimalismo.


Ficarmo-nos pelo Allgarve é pouco - é Portugal inteiro que temos de afeiçoar ao esperançoso esperanto do inglês. Porque no Allgarve, mesmo quando era só Algarve, já os ingleses se sentiam tão à vontade que até nas caixas de supermercado era possível encontrarmos súbditas da Rainha Isabel II perguntando, aflitas com as contas em português: «Do you speak english?» Proponho que Portugal passe a chamar-se Portugoal - anunciando assim, de uma forma sintética, o facto de sermos um país de objectivos e um país de futebol. Os múltiplos estádios de futebol que o pós-Euro transformou em pastos abandonados poderiam ser alugados à época a equipas europeias, revitalizando a hotelaria de norte a sul do País. Lisboa, que é uma confusão babélica para o turismo - Lisbon, Lissabon, Lisbonne, etc. - passaria a chamar-se uniformemente Lisgood ou Lisgod, consoante se pretendesse enfatizar a boa qualidade de vida material (sol, gastronomia, vinho, panoramas típicos) ou espiritual (simpatia dos nativos, fado, igrejas, vinho, panoramas típicos, doçaria conventual). O Porto fixar-se-ia como Portwine, Coimbra como Little Cambridge, evocando simultaneamente o perfil académico da cidade e o histórico Portugal dos Pequenitos. Aljubarrota chamar-se-ia Allspanishdied, Alcobaça poderia chamar-se Allcommunion, invocando assim em simultâneo a dilacerante paixão de Pedro e Inês e o sonho comunitário português, das Descobertas à União Europeia. Guimarães ficaria Gutstown, homenageando a bravura do nosso primeiro rei e terceiro grande português, Bragança chamar-se-ia Mother’s Dance, recordando o internacionalmente famoso Movimento das Mães de Bragança, e Faro denominar-se-ia Farwell, aglutinando as sensações de bem-estar e de despedida. Não esqueçamos que Portugoal é um território de sensações mistas, místicas, quiçá até melancólicas. E a melancolia vende. Não vou agora entrar em mais pormenores sobre este amplo projecto de reformulação turística da nação - mas posso fazê-lo por metade do preço de um par de especialistas norte-americanas em cromatismo lisboeta. Adianto apenas que a bela ilha da Madeira poderia, vantajosamente, dar pelo nome de Woodstock, com pica-pau amarelo incluído."
por Inês Pedrosa, na Única desta semana

Final dos Grandes Tugas


Ontem não vi a final d' "Os Grandes Portugueses". Estive mais entretida a ver Os Pequenos Portugueses, que acham que os habitantes da Palestina são os Pastelianos, que não fazem a menor ideia de que há um homem chamado Alberto João Jardim (ou será João Alberto Torres??), e onde ficou provado que a Clara Pinto Correia pode facilmente ser apelidada de Cabra! :) LOL
Sinceramente, não me surpreendeu mesmo nada o resultado. Ganhou António de Oliveira Salazar e, embora o formato do programa seja só por si duvidoso (até me admiro de não ter chegado nenhum futebolista à final!), não deixa de ser, no mínimo, interessante por colocar as pessoas a pensar na História de Portugal e intrigante por ter sido tal figura a reunir a maioria dos votos. Porque, refira-se, não foi o programa que o elegeu, mas sim, portugueses.
Confesso que o meu voto também recaiu nele. Não esperava era que mais pessoas partilhassem da minha orientação de voto! Note-se que não acho Salazar uma personagem simpática e que só beneficiou o País! Não o tenho como herói e não sou fascista. Heróis foram todos aqueles que, anonimamente ou não, se ergueram contra aquela ditadura...Mas sei que ninguém discorda do quanto ele marcou a nossa história.
Tenho plena consciência das inúmeras barbáries que foram cometidas durante o regime, até porque são bem visíveis num dos "teatros" da PIDE e que é um marco no meu concelho - o Forte de Peniche, - mas não posso deixar de lhe reconhecer o devido mérito e genialidade.
Fica a inquietação. Terá sido uma forma de protesto pelo caos deste rectângulo à beira-mar plantado? Queixamo-nos, coitadinhos de nós, mas, afinal, parece que "antes é que era bom"...Será que todos preferimos alguém autoritário para tomar as rédeas de Portugal? Um bom tirano, de brandos costumes? Continuamos todos presos ao "Deus, Pátria e Família"? Saudosistas? Parece que sim. Em Santa Comba, alguém deve estar a dar voltas no túmulo...
E, uma vez que já falei de Salazar em posts anteriores, não quero agora tornar a repetir-me, até porque há quem argumente melhor! :) Ler ainda:
http://womenageatrois.blogspot.com/2007/03/and-winner-is.html

Motherfuckers


By Bondage @ Maxmen Tv na TVI
LOOOL

Coisas de quem não tem mais nada pa dizer! :)

Descobri recentemente que tenho uma qualquer paixão por coisas britânicas. E de acordo com os meus padrinhos, pelos vistos, desde pequena! :)
Ora bem, coisas que adoro em terras de Sua Majestade:

* A língua, the original british accent, (nada de americanices!) com aquelas palavras que não tem tradução correcta em português;
* A monarquia com sua sui generis Família Real, sobretudo, a querida Lady Di;
* A diversidade étnica que compõe Londres;
* Londres itself (apesar de só lá ter ido duas vezes...);
* O Madame Tussauds!!!;
* O humor inglês;
* A pontualidade (odeio pessoas que se atrasam);
* O chá das 17h;
* O Harrod's e a Oxford Street;
* Shakespeare;
* As casas de campo;
* As corridas de cavalos;
* As universidades, com toda a tradição e reputação que têm (Oxford - já lá tive! - e Cambridge);
* Sir Anthony Hopkins =), Sir Sean Connery, Colin Firth, Hugh Grant =), etc, etc...
* Rachel Shelley =), Catherine Zeta-Jones, Emma Thompson, Elizabeth Hurley =), etc, etc...
* Mr. Bean;
* Aston Martin, Bentley, Jaguar!!!
E toda uma panóplia de coisas que não consigo agora recordar...Não descarto mesmo a possibilidade de me mudar para lá um destes dias! :)

A importância de usar óculos! =)


Retirado daqui.

E Depois Admiram-se...

"No documento ‘Sacramento de Caridade’, o Papa lança directrizes para os católicos e lembra aos políticos que há valores inegociáveis

Os padres não se casarão, os católicos divorciados não receberão a comunhão e, se a quiserem, terão de viver como irmãos, sem sexo, com o seu novo par. A simples vivência em comum de homens e mulheres não deverá ser reconhecida legalmente e os convertidos ao catolicismo que vivam em poligamia deverão optar por uma só mulher.


Estas são algumas das directrizes obrigatórias para os católicos que Bento XVI tornou públicas esta semana, através do documento ‘Sacramento de Caridade’. Trata-se de um verdadeiro programa do pontificado de Ratzinger, que se veio somar às mudanças já realizadas na cúpula do Vaticano e através das quais sublinhou a sua intenção de apontar para o espiritual e menos para os aspectos sociais e políticos.


O Papa propõe aos católicos uma religião intransigente, mas talvez muitos católicos gostassem que a mensagem cristã fosse algo alegre e formulada num tom mais positivo e aberto à sociedade moderna, e não através de listas de proibições. Por outro lado, longe de Roma as palavras de Bento XVI correm o risco de soar como uma utopia, em todos os lugares onde são os próprios padres e bispos que admitem os divorciados à comunhão, aceitam que nas suas dioceses haja padres casados e com filhos e que os jovens vivam juntos antes de se casarem ou sem terem intenção de o fazer.


O documento do Papa surpreenderá ainda mais estes cristãos, na medida em que abre de novo a possibilidade da missa ser dita em latim, idioma que foi abolido de facto quando o Concílio Vaticano II (1962-1965) introduziu as missas nos idiomas nacionais e quando a maioria dos bispos já não a fala nem entende.


O Papa também afirma que nas igrejas é preciso voltar a cantar em gregoriano, uma música do século VI que foi utilizada até metade do século passado. Para isso, pede que os seminaristas aprendam bem o latim e o gregoriano e que nos encontros católicos internacionais se utilize o latim e o gregoriano para sublinhar a universalidade do catolicismo.


Neste documento, Bento XVI também recomenda que os sermões não sejam longos e que sejam bem preparados, que os hábitos sagrados dos sacerdotes e a arquitectura e decorações dos templos sejam adequados. Aos políticos católicos, Bento XVI disse que há “valores que não são negociáveis”. Como a família composta por homem e mulher, a defesa da vida e contra o aborto, a não manipulação dos embriões, a morte natural e não pela eutanásia.


No dia seguinte à publicação do documento, o Vaticano avisou pública e oficialmente Jon Sobrino, teólogo espanhol que vive em El Salvador, de que a sua dedicação à libertação dos pobres e das classes desfavorecidas o tinha levado a apresentar a figura de Jesus Cristo tão humana que quase tinha deixado de ser um Deus. Para já, ainda não foi castigado."
in Expresso desta semana
"Acabou-se a musiqueta, as palmas e a guitarrada nas missas. O Papa quer canto gregoriano e mais latim, que isto dos fiéis perceberem o que se anda por ali a dizer não faz grande sentido. Poucas modernices na arquitectura, na pintura, na música e na escultura. Menos improvisação. Harmonia do rito, das vestes litúrgicas e da decoração. Tudo a condizer e em ordem para o rebanho não se baralhar. Tolerância zero para divorciados e nem pensar em misturadas com cristãos não-católico.

Mas o Sanctus Pater Benedictus XVI (eu cá cumpro as regras) quer, e perdoem-me o plebeísmo pouco canónico, sol na eira e chuva no nabal: que os políticos católicos legislem de acordo com a moral da Igreja. Esperando que não tenha de ser em latim, interrogo-me se, com as igrejas mais selectivas que clubes ingleses, ainda sobrarão políticos que saibam ao que devem obedecer. Não me interpretem mal. Eu acho tudo isto excelente. Só não esperava que fosse o Papa a fazer o trabalho sujo: fechar a Igreja num museu. A isso eu digo ámen."
in Opinião, de Daniel Oliveira, no Expresso

Fonte de Mim

"Não busqueis a felicidade fora, mas sim dentro de vós, caso contrário nunca a encontrareis"
Epicteto

Será que sou mesmo uma extraterrestre que veio parar a este universo por puro acaso?

Vejo colegas de escola, antes autênticas borgas, hoje casadas e mãe de filhos. Raparigas da minha idade. E, mesmo tendo noção que antes as mulheres casavam muito mais cedo, ainda não consigo deixar de me surpreender. Encontro pessoas cujo objectivo máximo de vida é casar e ter filhos. Nada mais! Pessoas que não imaginam mais nenhum cenário senão esse, talvez porque não saibam que ele possa existir. E pergunto-me como é possível. Pergunto-me se serão felizes. Umas parecem-no, mas serão, de facto?

Talvez o problema seja meu. Eu, que sou uma romântica mas também uma realista. Eu, que não gosto de me conformar e que tenho a mania que tenho de ser diferente. Não sei...Não compreendo como é que alguém se pode realizar através e pelo Outro. Não me levem a mal. Não se trata de nenhuma condenação do casamento!
Simplesmente não quero, para mim, uma vidinha de dona-de-casa-desesperada (a não ser, é claro, se for como a da Gabrielle Solis!). Não quero aquela rotina, previsibilidade, monotonia. E é a isso que mais tarde ou mais cedo se reduz toda uma relação de projecção no Outro, ao invés de uma relação com o Outro - uma vida desprovida de magia, paixão, mistério. Deixam de ser um casal, passam a ser gémeos siameses! :)

Simplesmente não partilho da opinião daqueles que pensam encontrar a felicidade numa outra pessoa. Não acredito em fontes de felicidade. Talvez contribuintes de felicidade. :) Não gosto daqueles "preciso de ti para ser feliz". Até porque tempos depois, eventualmente, se poderá comprovar que não. Intrigam-me as pessoas que precisam de outra para viver (e, infelizmente para ela, tenho uma amiga assim. E, como o namorado agora não está cá, encontra-se num estado de total apatia e alheamento...).É claro que estarmos com alguém que amamos contribui largamente para nos sentirmos felizes e realizados, tenho a certeza disso, mas atrevo-me a dizer que, em última instância, é dentro de nós que encontramos tudo aquilo que tanto procuramos. Acredito que a nossa realização deve partir de nós, deve ser interior e não algo que se possa buscar ou encontrar em alguém. Somos nascente de nós. Nós somos a fonte.

Ou então sou mesmo uma extraterrestre! =)

"Tudo é ilusão. Sonhar é sabê-lo"*

"Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos."
Antoine de Saint-Exupéry

Amore, Ornella Erminio

*Fernando Pessoa

Santa Ignorância!

Alguém me ensina como se mete uma música num post? Já tentei com o rádioblog mas...há coisas demasiado complicadas para pessoas como eu! :) Por isso, na impossibilidade de colocar aqui só a música, deixo-vos com o music video que encontrei no youtube. Bem sei que a qualidade do vídeo poderia ser melhor, mas atentem na música e na letra. É o meu estado de espírito das quase-17-horas de hoje. :) Enjoy...
Collide, Howie Day

The dawn is breaking

A light shining through

You're barely waking

And I'm tangled up in you

Yeah

I'm open, you're closed

Where I follow, you'll go

I worry I won't see your face

Light up again

Even the best fall down sometimes

Even the wrong words seem to rhyme

Out of the doubt that fills my mind

I somehow find

You and I collide

I'm quiet you know

You make a first impression

I've found I'm scared to know

I'm always on your mind

Even the best fall down sometimes

Even the stars refuse to shine

Out of the back you fall in time

I somehow find

You and I collide

Even the best fall down sometimes

Even the wrong words seem to ryhme

Out of the doubt that fills your mind

You finally find

You and I collide

Don't stop here

I lost my place

I'm close behind

Even the best fall down sometimes

Even the wrong words seem to ryhme

Out of the doubt that fills your mind

You finally find

You and I collide

You finally find

You and I collide

You finally find

You and I collide

Prisioneiros do Outro


"Um Encontro de dois: olhos nos olhos, face a face. E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus; E arrancarei meus olhos para colocá-los no lugar dos teus; Então ver-te-ei com os teus olhos e tu ver-me-ás com os meus." (J.L.Moreno)

Mudando o Foco, Bianca Repsold
"Tudo que sabemos é uma impressão nossa, e tudo que somos é uma impressão alheia" (Fernando Pessoa)
Uma nova amiga, que muito me alegro de ter "descoberto", presenteou-me há uns tempos com uma carta repleta de reflexões e questões profundas. Quem me conhece, sabe que poucas coisas me tocam tanto como aquelas que têm o dom de me chegar à alma e ao coração. Gosto, por definição, de ser provocada. A pensar, a sentir, a viver.

Escrevia ela que há todo "um sistema que nos coage a seguir determinados padrões", pelo que vivemos muitas vezes amordaçados "a fugir dos nossos desejos, desejos e manias. Tudo em prol do definido, daquilo que nos traz mais segurança e tem maior poder de integração".

Revi-me completamente nas suas palavras, porque também eu tenho esse "contentamento descontente", essa "ânsia de libertação". Sim, acredito que somos, inexoravelmente, prisioneiros. Prisioneiros do meio em que crescemos, da época em que nascemos, do nosso contexto biográfico. Escravos da normatividade, das aparências, das nossas crenças e medos, das expectativas dos outros, até de nós próprios. Ousar ser diferente é demasiado difícil. Escolher outro caminho é arriscarmo-nos a ser marginais na sociedade. Às vezes pergunto-me porque é que ainda nos preocupamos tanto com a visão que os outros têm de nós. Pergunto-me se haverá alguém que se sinta inteiramente livre.

Não ambiciono ser só mais uma, a comungar em verdadeiro "espírito de rebanho". Acredito que não existe só um caminho possível, não existem etapas obrigatórias (o "está na altura de"...), não existe o certo e o errado. O caminho é teu. Só teu. E, só por isso, deve à partida ser diferente do caminho do Outro.

Acredito que a vida é mais estimulante e inspiradora por isso mesmo – na medida em que pressupõe outras hipóteses e possibilidades (a relatividade de tudo!), em vez de um círculo fechado, sem alternativas, sem sonhos, sem realização. Deveria bastar isso, ser-se fiel a si mesmo, deixar de ser essa impressão alheia para passar a ser uma certeza nossa. Mas, nunca é assim. Ainda nos preocupamos muito com a roupa que vestimos (que tem de ser de marca e adequada à nossa profissão e estatuto), com as coisas que temos (casa, trabalho, família...) ou não , com as pequenas loucuras que fazemos, com o que os outros podem dizer. Somos uns verdadeiros reprimidos de nós mesmos...Ainda assim, sei que também eu continuo presa ao convencional, porque também eu tenho patamares que quero atingir. Atrevo-me a dizer que falta-nos a nós, escravos inconscientes, a coragem de sermos livres.

Preso em Ti, Rui Pedro Queirós

Representamos constantemente muitos e variados papéis sociais. Será que não passamos de uma encenação para o mundo?

De Mi pa Ti :)


Ontem, antes de ir para casa, mandei-te uma mensagem para o telemóvel a contar o sucedido. Limitaste-te a dizer: "não é um simples plágio que me deixa menos orgulhosa de ti :) ". E hoje, como ontem e como sempre, só te posso responder:
Adoro-te, sabes? :)
The Cat's Pet, Letizia Volpi

Aqui me Confesso...

Não gosto de falsos arrependimentos. Não gosto de enganar as pessoas (os meus pouquíssimos mas muito especiais leitores). Não se trata de qualquer encoberta estratégia de contenção de danos ou de procurar uma maneira simpática de me redimir. Errar é humano e, como humana (demasiado humana!) que sou, erro. Não tenho, por isso, medo de assumir os meus erros. Poderia ter simplesmente apagado o comentário ou o post. Não o fiz.

Acredito que somos, invariavelmente, a soma das escolhas que fazemos, dos actos que tomamos. E, é nesse sentido, que sou apologista de que não devemos ignorar ou fugir às suas consequências. Posto isto, tenho a dizer que hoje cometi plágio (vide post "A Burra e o Totó"). Levei outros a crer, por omissão, que aquele texto era totalmente da minha autoria. "Sujei" as mãos com papel carbono...

Poderia dizer que não tive consciência de que estava a cometer esse crime, mas, embora verdade, soaria a desculpa esfarrada. Não o nego, então. Apropriei-me de palavras terceiras com o intuito de as tornar minhas. E, se noutras ocasiões é difícil reparar na ténue linha que separa a influência e a inspiração da cópia pura, neste caso, é óbvio que se tratou de uma perfeita cópia.

Tem razão quem diz que o programa em si, de tão inútil, nem sequer merecia que me sujeitasse a isto. Concordo. Mas tal não me desculpa. Não se trata de estar a ser demasiado dura comigo mesma. Cometi um erro imperdoável que fere a minha integridade e ética, põe em causa a minha imagem perante os outros e lesa o verdadeiro autor do texto. Na impossibilidade de me poder redimir de tão grande e vergonhosa falta (mea culpa, mea maxima culpa!), apresento aqui, na esperança de que me sirva de alguma coisa, as minhas desculpas públicas e bem visíveis a quem de direito pertence o texto e a todos os que o lêem.

(Aqui fica a prova de que não sou, afinal, tão certinha quanto todos pensam, não é?...)

Facethoven

A Mentirem às Pessoas! :)


"Isso do dinheiro não trazer felicidade é só uma coisa que dizemos aos pobres para eles não se revoltarem"
(or something like that..) :p

Gabrielle Solis, das Donas de Casa Desesperadas

A Pensar...

Achei tanta piada a isto que tinha de postar aqui (sim, este blog, está cada vez mais banal e pouco original...). Para que se respeitem os devidos direitos de autor, indico que retirei o texto daqui.


Lili Caneças, simplesmente não pensa.
Rute Marques pensa que é Grace Kelly.
Paulo Pires pensa que é o Diogo Infante.
Diogo Infante pensa que é Paulo Pires.
Pedro Abrunhosa pensa que é António Variações.
E António Variações já não pensa mais.
Manuel Luís Goucha pensa que é a Teresa Guilherme.
Teresa Guilherme pensa que é a Manuela Moura Guedes.
Manuela Moura Guedes não pensa, quem pensa é o Moniz.
Luís de Matos pensa que é David Copperfield.
Edite Estrela pensa que é Hillary Clinton.
E Ana Malhoa, simplesmente pensa que pensa.
Júlia Pinheiro pensa que é Barbara Walters.
Herman José pensa que tem graça.
João Baião pensa que vai ser mãe.
João Pinto pensa que é intelectual.
Belmiro de Azevedo, com todo o dinheiro que tem, pode pensar o que quiser.
Ronaldinho pensa que é o número 1.
Fernanda Serrano pensa que é actriz.
Paulo Portas pensa que é Deus.
O Mourinho tem a certeza!
O teu chefe pensa que estás a trabalhar e o meu também..."

A Burra e o Totó

"Faz tudo como se alguém te contemplasse"
Epicuro


Todos os dias deparo-me com esta frase, porque todos os dias tenho de passar por ela a caminho da escola e, invariavelmente, acabo por a seguir.
Surpreendo-me com a nossa obsessão por contemplar a vida dos outros. Big Brother, Big Brother 1, Big Brother Famosos, Quinta das Celebridades, Primeira Companhia, Pedro o Milionário e, agora, A Bela e o Mestre (sim, parece pornográfico mas não deve ser, digo eu!) :p
Ainda não tive oportunidade de ver devidamente como é afinal o programa, mas, ao que parece trata-se de uma espécie de encenação levada ao extremo do "Pigmalião" de George Bernard Shaw, em que rapazitos inteligentes tentarão fazer milagres nas belas cabecinhas ocas das suas companheiras de programa. Uma verdadeira experiência social mas tudo cheio de clichés e estereotipos!
Elas, loiras, boazudas e mais burras que verdadeiros burros (e diga-se que até os burros têm o seu quê de inteligentes!), rindo-se sempre muito, mesmo quando não conseguiam reconhecer Woodie Allen, Fidel Castro ou Camões (por amor de Deus!), do estilo "não sei nada disto, mas olha que engraçada que eu sou, aqui nesta mesa com a minha mini-saia".
Eles, todos retratados como verdadeiros totós, que só sabem marrar e, em consequência disso, devem ser uns tarados sexuais, ávidos de sexo.
Do pouco que vi, achei um completo absurdo. Primeiro, como é que alguém supostamente inteligente (os mestres) se mete num programa daqueles? Segundo, como é que alguém, no seu pleno juízo, se pode sentir quase orgulhosa por ser uma verdadeira acéfala (mais parecia uma competição para ver qual era a mais burra!). É preciso ser-se mesmo muito burra para se ficar contente em participar num programa onde o pré-requisito para ser seleccionada é mesmo ser muito burra.Há coisas que, realmente, me fazem uma certa confusão. Neste caso, o preço do dinheiro...
Não há dúvida de que a TVI insiste em chamar-nos, constantemente e sem rodeios, estúpidos. Só me espanta é como é que o programa tem tanta audiência...Seremos todos uns parvinhos que riem da burrice dos outros?
PS: Agora que o erro já está cometido não adianta de muito a correcção e devido pedido de desculpas, mas, a bem da verdade, devo dizer que muito deste texto foi copy-paste daqui. Alguma preguiça mental e pouca ética da minha parte. Mea culpa, mea maxima culpa...

So cute :)

Confesso que gosto mais de cães do que gatos (adoro o meu Dani!!!), mas não posso deixar de lhes reconhecer a sua piada...Olhem só para isto...Tão queridos! :)

Os Nossos Amorins

"A tão discutida frase do ministro Manuel Pinho na China, a propósito da vantagem competitiva da economia portuguesa que lhe adviria dos baixos salários que por cá se praticam, só pecou por ser dita no local errado: de baixos salários e «dumping» social se compõe a vertiginosa produtividade da economia chinesa e o seu originalíssimo modelo de ‘socialismo’, em que já só o PCP parece acreditar. À parte esse erro geoestratégico, o que Manuel Pinho disse reflecte exactamente o que continua a ser o pensamento dominante em largas camadas do nosso patronato e até dos nossos economistas. Por mais ‘modernização’ invocada, por mais ‘choques tecnológicos’ apregoados, por mais verbas públicas gastas em ‘qualificação’ e formação profissional, há coisas que nunca mudam, como essa fé de tantos empresários de que quanto pior pagarem aos seus trabalhadores, mais próspera será a firma. Uma excelente reportagem da autoria de Raquel Moleiro, saída a semana passada na revista do Expresso veio lembrar exemplarmente esta triste realidade: esse Portugal empresarial ‘profundo’, assente nos baixos salários, na desumanização do trabalho e nos métodos de gestão mais primitivos continua aí, sólido e imutável, mesmo onde se esperaria que fosse sucedendo o contrário.

A reportagem descreve-nos a situação de duas trabalhadoras, em firmas diferentes. A primeira trabalha numa multinacional - a Xerox - é licenciada em gestão de «marketing» e vendedora de produto. Logicamente, ganha mais do que a outra, que é controladora de rolhas de cortiça na Corticeira Amorim. A primeira ganha quatro vezes mais do que a segunda, embora esteja no início da sua vida profissional, e tem ainda direito a carro, telemóvel, computador, comissões e prémios, tudo pago pela empresa. A segunda, depois de mais de vinte anos a trabalhar para a empresa, tem um salário de 527 euros, mais subsídio de refeição, e ponto final. Até aí, não fosse o salário da segunda tão miserável, ainda se poderia tentar compreender: diferentes qualificações, diferentes salários e regalias. O que já não dá para justificar são as diferenças abissais na política social de ambas as empresas, e isso é igual para todos os trabalhadores. Na Xerox, ao quarto mês de licença de parto, a empresa junta um quinto mês, por sua iniciativa e extensível aos pais; dá 27 dias úteis de férias por ano, mais duas pontes e o dia de aniversário do trabalhador; tem creche, ginásio com professor, piscina, campo de futsal e farmácia dentro das suas instalações, para que as mães, por exemplo, não tenham de perder tempo para ir comprar produtos para os bebés; uma vez durante a manhã e outra durante a tarde procede-se a uma distribuição de fruta fresca pelos locais de trabalho e, se alguém pensar em prolongar o trabalho até tarde, as luzes são desligadas automaticamente às 20 horas, porque a empresa acredita que quanto melhor for a vida familiar de um trabalhador, melhor é o seu desempenho profissional. Já a trabalhadora da Corticeira Amorim não tem direito a nada disto. Trabalha em pé oito horas por dia, com uma hora de intervalo para almoço, com a função de escolher, entre 100.000 rolhas que lhe passam à frente todos os dias, quais as que têm defeito. É um trabalho digno das sequências célebres dos ‘Tempos Modernos’ de Charlie Chaplin e uma fonte constante de doenças profissionais de toda a ordem. Mesmo assim, foi preciso uma greve para que as escolhedoras de rolhas da Corticeira Amorim conquistassem o direito a ter um intervalo de quinze minutos de manhã e outro à tarde. Neste quadro, não admira que a trabalhadora da Xerox, que acaba de ser mãe, planeie ter dois ou três filhos, enquanto que a da Corticeira Amorim sonha sem esperanças poder ter um segundo filho, se o marido entretanto não emigrar em busca de uma vida menos indigna do que esta.

Resta acrescentar que a Corticeira Amorim não é uma empresa qualquer no panorama nacional. Domina largamente o negócio da transformação da cortiça, estabelecendo de facto os preços à produção. Pertence a um grupo que está presente em vários sectores da vida económica do país e além-fronteiras e no passado recebeu abundantes verbas do Fundo Social Europeu justamente para qualificar trabalhadores. É propriedade de Américo Amorim, tido como o segundo homem mais rico de Portugal, feito comendador de Mérito Industrial por um ou mais do que um Presidente da República. Volta e meia a imprensa transpira notícias sobre os milhões que ele ou o grupo ganharam em negócios bolsistas sem qualquer riqueza acrescentada - apenas porque o dinheiro faz dinheiro, como explicou Marx. Ou então, publicam-se outras notícias, nem sempre abonatórias, sobre a prosperidade dos seus negócios em Angola, em parceria com a inevitável filha do Presidente José Eduardo dos Santos e seguramente não em benefício da legião de miseráveis que morre de fome ou de doença em Angola, no meio da ostentação de outros.

Não sei se o comendador Américo Amorim terá lido esta reportagem e, em caso afirmativo, como terá sido a sua reacção: terá encolhido os ombros com indiferença, terá ficado incomodado, terá ficado a meditar no assunto, terá concluído que os da Xerox não sabem gerir uma empresa? O que pensará um empresário quando fica a saber que alguns dos que trabalham para si só o fazem porque não têm alternativa de subsistência? "
in Crónica do Miguel Sousa Tavares, Expresso desta semana
Meu Deus! Como me sinto enganada! E eu a pensar que o Amorim até era dos bons...:(
Quando for grande :) quero ir trabalhar para a Xerox! :)
Um obrigado para o meu prof de Fiscalidade III (um dos prof mais inteligentes e brilhantes que tenho e que não deixa por isso de ser modesto e sem a mania das grandezas, apesar de ser inspector da DGCI em Lisboa!) que nos recomendou a leitura desta crónica.

Ser indiferente é ser diferente?


"The opposite of love is not hate, it's indifference. The opposite of art is not ugliness, it's indifference. The opposite of faith is not heresy, it's indifference. And the opposite of life is not death, it's indifference."
E. Wiesel
Não gosto de usurpar ideias a ninguém, mas a verdade é que depois de ler esta frase tão pertinente neste blog, fiquei tão pensativa acerca do seu conteúdo (gastei uns bons 45 minutos a falar disso com a minha melhor amiga!) que me permiti reproduzi-la aqui. Espero que não se importem...

A questão original resumia-se à primeira frase - a da relação amor/ódio/indiferença (que é diferente de resignação!). Como tive oportunidade de lá referir, concordo plenamente com a citação original. Tanto o amor como o ódio, partem do mesmo princípio: ambos estão prenhes de sentimento, são emoções extremas e poderosas. Nessa lógica, só algo que fosse desprovido de sentimento, como a indiferença, um total alheamento e estado de despreocupação, de ausência, poderá ser visto como um contrário ao amor e, como muito bem foi dito, "de tudo o que nos faz sentir".
Não posso, no entanto, deixar de atribuir alguma razão a quem afirma que indiferença e amor/ódio não são sentimentos comparáveis ou contrários, porque a indiferença, por constituir uma espécie de apatia ou quase-morte, não carrega consigo nenhuma emoção ou sentimento e, consequentemente, seria errado colocá-la lado a lado com algo tão intenso de sentimento, como o amor ou o ódio. Nessa linha de pensamento, seria o ódio a verdadeira antítese do amor.
Não se trata de preferir um meio-termo, mas a verdade é que acho que ambas as correntes têm a sua lógica. No fundo, acho que estão a ver a mesma coisa mas sob prismas diferentes. Como contrário do amor podemos, então, encontrar o contraste emoção/não emoção (amor/indiferença) ou o contraste emoção forte positiva/emoção forte negativa (amor/ódio).
Não negando já que ambas as respostas são aceitáveis, levantam-se assim outras questões: O que é de facto a indiferença? O que é indiferença, em todas as suas dimensões, que extrapolam a do amor? Um costume, uma forma de sobrevivência, um mecanismo de defesa, de resistência, ou consequência do egoísmo e do medo? (E quantas vezes passamos nós "ao largo" de demasiadas coisas, realidades, factos e pessoas, em algumas situações, até de nós mesmos?) O que é pior : ser alvo de indiferença ou alvo de ódio? E de qual dos dois é mais fácil recuperar? Acreditem que estas questões não me são...indiferentes! :)
Não quero aqui duplicar opiniões que já sei à partida, mas...adendas serão sempre bem-vindas! :)

Dor e Sofrimento

"A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional."
Carlos Drummond de Andrade

Imagine Me & You



Acreditam em amor à primeira vista? Como ter a certeza de que se fez a escolha certa num mundo ilimitado de possibilidades?
Imagine Me & You é uma refrescante, incomum e bonita comédia romântica britânica (e como adoro tudo o que é britânico!!) sobre as variadas formas de amor e suas constantes surpresas. Como por exemplo, uma jovem noiva que descobre o amor à primeira vista no dia do seu casamento! :)
Quando Rachel (Piper Perabo) aparece na igreja para aquele que promete ser um casamento de conto de fadas, ela está encantada por se ir unir para toda a vida com aquele que é o seu amor de sempre e também o seu melhor amigo, Heck (Matthew Goode). E é então que o impensável acontece.

Num momento que altera tudo aquilo em que ela pensava acreditar, Rachel cruza o olhar com uma completa desconhecida (Lena Headey) - a florista do casamento, Luce - e neles encontra a sua própria alma. Apesar de prosseguir com o casamento, algo nela mudou profundamente. Tudo acerca da vida é agora posto em questão, incluindo o facto de Heck não ser afinal "the one", e Rachel é de repente forçada a repensar o significado daquele "e viveram felizes para sempre" ainda antes de ir de lua-de-mel. O que se segue é toda uma viagem de descoberta pessoal, romântica e humorada, familiar a todos aqueles que tiveram sorte suficiente para estarem sob o feitiço do amor.

Acho que o filme foi pouco divulgado, o que é uma pena. Não direi que é um filme brilhante, mas é sem dúvida um daqueles filmes que nos alimenta a esperança de, também nós, encontrarmos a nossa alma gémea...Apesar de ter a certeza de que nunca conseguiria continuar um casamento por compaixão para com a outra pessoa, confesso que também não sei se teria a coragem suficiente para dar esse passo, que Rachel deu... Mas, a vida é feita de escolhas.
É um filme de final feliz, prova de que o amor vence todas as questões, todos os medos, todos os preconceitos. E hoje, é isso que me apetece.

Deixo-vos com o trailer (aviso que é impossível tirar a canção "Happy Together" da cabeça por uns dias!) e com as minhas citações preferidas do filme, que muitas vezes recordo espontaneamente, tal o efeito que surtiram em mim...Enjoy.
Luce: Don't forget me.
Rachel: I won't remember anything else.

Luce: I think you know immediately. As soon as your eyes... Then everything that happens from then on just proves that you have been right in that first moment. When you suddenly realize that you were incomplete and now you are whole...

H: What happens when an unstoppable force meets an immovable object?

Edie: You need a love life.
Luce: I have a like life. It suits me fine.

Why Don't You Like Me? *

Porque a vida continua e este blog também, deixo-vos com a minha mais recente obsessão: Mika, de Grace Kelley. Enjoy...


Do I attract you?

Do I repulse you with my queasy smile?

Am I too dirty?

Am I too flirty?

Do I like what you like?

I could be wholesome

I could be loathsome

I guess Im a little bit shy

Why dont you like me?

Why dont you like me without making me try?

I try to be like Grace Kelly

But all her looks were too sad

So I try a little Freddie

Ive gone identity mad!

I could be brown

I could be blue

I could be violet sky

I could be hurtful

I could be purple

I could be anything you like

Gotta be green

Gotta be mean

Gotta be everything more

Why dont you like me?

Why dont you like me?

Why dont you walk out the door!

How can I help it

How can I help it

How can I help what you think?

Hello my baby

Hello my baby

Putting my life on the brink

Why dont yo like me

Why dont you like me

Why dont you like yourself?

Should I bend over?

Should I look older just to be put on your shelf?

(...)

Say what you want to satisfy yourself

But you only want what everybody else says you should want

I could be brown

I could be blue

I could be violet sky

I could be hurtful

I could be purple

I could be anything you like

Gotta be green

Gotta be mean

Gotta be everything more

Why dont you like me?

Why dont you like me?

Why dont you walk out the door!

*Uma pergunta que faço demasiadas vezes! :)

Morte


"Vir a morte e levar-nos. E não fazermos falta a ninguém. Nem a nós. Que outra vida mais perfeita?" Vergílio Ferreira
A minha avó morreu. Morreu. Morreu. Morreu. Morreu. Morreu. Se repetirem muitas vezes a palavra (qualquer uma), ela deixa de ter um sentido, torna-se apenas um conjunto de letras, uma combinação de sons e entoações. Morreu. Morreu.


Tenho-a dito, melhor, tenho-a pensado, demasiadas vezes por estes dias. Somos nós quem atribui um significado às palavras e é por isso que algumas passam a ser só nossas ou de mais alguém (veja-se as private jokes). Só hoje dei um significado a “morreu”.
Talvez, afinal, não sofra de uma qualquer deficiência emocional à maneira d’ “O Estrangeiro”. Ou talvez a sofra, mas com uma variante – tal como se aplica o princípio de que “não há crime sem corpo”, eu precisei de ver o corpo para que houvesse morte. Só então a morte existiu. A plena consciência de um fim. E, com isso, a inevitável descoberta de que também nós não somos imortais. Dizem que o ser humano é o único animal que tem consciência de que vai morrer um dia. Eu, só hoje a tive de facto. É por isso inevitável, que me sinta hoje intrigada, aterrorizada, amedrontada, mas consciente, talvez demais.


Ser. Ter planos, sonhos, futuro. Estar a pensar nalguma coisa ou em alguém (pergunto-me quais teriam sido os últimos pensamentos, pergunto-me se ela teria tido consciência de que iria/estava a morrer). E depois, sem que o notemos, suspeitemos, imaginemos. Ela vem sorrateira. Um acidente, uma doença, um AVC. Morre-se. E acabou. O fim inexorável. O Nada. Absoluto e ridículo. Hoje somos. Amanhã

não. Deixar de existir. Mesmo!
Sem aquela ideia reconfortante de que há uma vida eterna depois, melhor, maior (preferia tanto acreditar que sim!). Sem o mito de Paraísos, Infernos e meios-termos, Purgatório. Não fica ninguém a velar por nós. Ninguém a ver como choramos. Ninguém a pensar no quanto a vida poderia ter sido diferente. Não é um sono. Não é uma viagem. Acabou. Assim. Sem mais. Simplesmente.


Não morre só o corpo, mas tudo o que fomos, tudo o que fizemos, tudo o que sonhámos, todos os que amámos. Não só a vida, mas todo o universo. Porque os outros continuam a existir, o sol continua a brilhar, a casa mantém-se de pé, o cão (que ficou para mim) continua a ladrar, a vida continua a existir. Mas para os outros. Só quem morre não pode mais sabê-lo.


E os que ficam, os que resistem, hão-de lembrar. Deixa-se de ter uma existência palpável para se ser uma lembrança ocasional no pensamento daqueles que eram nossos. Com, sorte, estes transmiti-la-ão aos filhos. Seremos só um nome. E, teremos então uma segunda morte, menos visível, menos dolorosa, mais lenta. Morreremos no tempo. Como morreram os avós dos nossos avós e os bisavôs dos nossos bisavôs. Nem sequer seremos insignificantes, porque os que vêm nunca saberão que existimos um dia. Tal é a nossa pequenez.


Achamo-nos toda uma grande coisa, porque temos uma boa profissão, estudos e ideias, pessoas que amamos e que nos amam, haveres, conquistas. E afinal…não passamos de farrapos, detritos, restos. Marionetas nas mãos do tempo. Joguetes do nosso corpo. Carne, nervos, sangue, ossos, prontos para decomposição. Um corpo vestido, limpinho, bonitinho, arrumado dentro de um caixão, coberto de terra, verdadeiro alimento para vermes.
Um grão de pó que o vento da vida levantou e depois deixa cair, sem qualquer cuidado ou preocupação. É isso que somos. Só. Tão-somente isso…


Perdoem-me o cinzento deste texto, ou melhor, o luto que ele encerra. Não quero, de modo algum, com isto dizer que encaro esta morte como algo exterior a mim. Pelo contrário. É por me ser tão interior e tão íntima, tão minha (porque somos nós, com as nossas crenças, ideologias, contexto, que atribuímos um significado nosso às coisas), que não consigo deixar de lhe encontrar o seu quê de horroroso, cruel, impiedoso, frio. Seria ingénuo acreditar que há um para além disso ou que é só isso, apesar de preferirmos não pensar naquilo que é a mais triste verdade.


E é por causa dessa nossa condição humana que quando vejo a minha avó, não a vejo inerte e inanimada, enterrada num cemitério. Nem penso na última vez, a beijar-lhe a testa no hospital e ela a abrir por um breve instante os olhos, eu sem saber sequer se ela me reconhecera.
Vejo-a como uma mãe formidável, capaz de criar 7 filhos e outros que lhe foram aparecendo. A matriarca. Uma mulher corajosa, que viveu a sua juventude sozinha em Lisboa, e preferiu (e conseguiu) viver sozinha na sua própria casa, aquando da morte do meu avô. Uma mulher resmungona, crítica, divertida, generosa, com um carácter muito seu. E uma avó carinhosa e atenta, que espera ansiosamente por mim no fim da missa. Vejo-a, especialmente, no fundo dos olhos do meu pai...


Dizemos tão poucas vezes a quem amamos, o quanto os amamos, não é?
Primeiro foste Emília. Depois Mãe. Depois Avó. E agora? Nada. E mesmo assim, Tudo.
A vida continua. Nunca sem ti. Nunca para além de ti. Talvez por causa de ti.
"O que mais me intriga e dói na nossa morte, como vemos na dos outros, é que nada se perturba com ela na vida normal do mundo. Mesmo que sejas uma personagem histórica, tudo entra de novo na rotina como se nem tivesses existido. O que mais podem fazer-te é tomar nota do acontecimento e recomeçar. Quando morre um teu amigo ou conhecido, a vida continua natural como se quem existisse para morrer fosses só tu. Porque tudo converge para ti, em quem tudo existe, e assim te inquieta a certeza de que o universo morrerá contigo. Mas não morre. Repara no que acontece com a morte dos outros e ficas a saber que o universo se está nas tintas para que morras ou não. E isso é que é incompreensível - morrer tudo com a tua morte e tudo ficar perfeitamente na mesma. Tudo isto tem significado para o teu presente. Mas recua duzentos anos e verás que nada disto tem já significado."
Vergílio Ferreira, in 'Escrever'

7 de Março de 2007

A minha avó morreu.
"Father, Father, Father, Father,
Father/ Into your hands/I/commend my spirit,
Father, into your hands,

Why have you forsaken me,
In your eyes forsaken me,
In your thoughts forsaken me,
In your heart forsaken, me oh,

Trust in my self righteous suicide,
I, cry, when angels deserve to die,
In my self righteous suicide,
I, cry, when angels deserve to die. "

in Chop Suey, SOAD

Como gostava de ter sido eu a escrever isto...


"Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.


Talvez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo."
Pablo Neruda

"Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi:
não soube que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo
."

Pablo Neruda

Que a flor desperte.


Não sei lidar com a morte ou com a iminência dela. Nas duas mortes mais recentes da família - os meus bisavós - nem fui ao funeral, apesar deles me serem muito queridos. Nem fui ao cemitério ainda (porque é que cá os cemitérios não são como nos filmes americanos? Verde, cruzes brancas, harmonia?).
A minha mãe não sabe, mas é ela o meu maior orgulho. Não corre para o hospital à menor constipação (apesar de dever fazê-lo!). Não é uma coitadinha, daquelas que só sabem lamentar-se da sua triste sina...E, no entanto, já esteve na iminência da morte e eu, alheada de tudo, nunca tive consciência disso. Até ao dia em que fui à dentista e a mulher começou a chorar ao perguntar pela minha mãe. Até ao dia em que disseram que o Féher poderia ter morrido devido a uma embolia pulmonar. A minha mãe sobreviveu a uma embolia pulmonar. A uma paragem cardíaca de demasiados segundos. À trombose que teve mal o meu irmão nasceu. E às inúmeras tromboflebites que lhe povoam as pernas, apesar da sua terna idade (40 aninhos), fruto de uma anomalia rara no sangue, porventura, hereditária (sendo que, depois de testes feitos, eu tenho mais probabilidade de a ter do que o meu irmão). Às vezes esqueço-me da sorte que tenho de a ter...
Pelos vistos (só soubemos hoje a meio da tarde. Que raio de família esta, a do meu pai!), a minha avó sofreu ontem à tarde um AVC. O segundo da vida dela, este muito mais forte. Esta avó nunca me foi muito próxima. E tal como noutras ocasiões, fiquei estupidamente normal quando recebi a notícia. Começo a pensar que sofro de uma qualquer deficiência (e lembrei-me d' "O Estrangeiro" de Camus que não chorou no funeral da mãe e, consequência indirecta disso, foi acusado do seu homícidio...). Mas hoje, na hora da visita, ao vê-la completamente impotente (não fala, mal abre os olhos, está entubada e tem o lado direito paralisado, as próximas 48h são fundamentais para avaliar as lesões), completamente tão desamparada, tão só (também ela tem a coragem de viver sozinha há mais de 15 anos, quando morreu o meu avô), senti-me tão, tão triste. E, obviamente, não soube o que dizer ou o que fazer senão estar ali a olhá-la na esperança de que ela me reconhecesse. Podia tê-la visitado mais antes disto tudo, visitá-la todas as semanas, sem pretextos, como faço com a minha outra avó. Vendo bem, nem sei assim muito da sua vida, nunca conversámos sobre nada importante, nunca tomámos chá à hora do lanche...
Hoje temo ter perdido demasiadas coisas, demasiadas oportunidades e demasiado tempo. Nunca saberei lidar com acidentes, doenças, hospitais. Hoje...sinto-me muito cinzenta. Hoje sinto já a falta da minha avó.