Porque tenho andado seriamente a tentar perceber-me a mim própria por ter votado em Salazar (já alguém reparou o quanto sou contraditória, além da MC? :p ), porque estou com uma valente dor de cabeça que não me permite pensar muito (vulgo, ressaca - mas fizemos 250€ ontem na festa da rifa do álcool!!!), e porque tenho as minhas colegas à espera para o trabalho de Economia Financeira, deixo-vos com um texto muito bem escrito, na minha opinião, e onde se poderão encontrar alguns motivos que conduziram o meu voto em Salazar (se bem que, analisando atentamente, acho que também fui influneciada pela leitura d' "Os Amores de Salazar"):
"Ditador ou Salvador?
A RTP fez, por acaso, serviço público, estando finalmente ao serviço da liberdade de expressão em Portugal. Pode ser que, no futuro, não se tenha de levar sempre com a versão de esquerda da História e qualquer um possa expressar livremente as suas ideias, sem ruído, sem interrupção e sem uma pronta descredibilização como agora acontece. Pode ser até que se consiga defender ideias que não são de esquerda ou centro sem se ser logo rotulado de "fascista" e censurado. Isso seria positivo para a dita "pluralidade" e para o país.
Nada muda de repente, vemos hoje o mesmo tipo de ruído e propaganda que perturba a verdade desde a "revolução". Os mesmos analistas e intervenientes políticos, com os mesmos argumentos, lá vão saindo dos seus buracos para fazer cada um o seu teatro de revista anti-fascista. Não é surpresa que, a par do resultado de um concurso, saia logo um estudo de opinião preparado para desmentir, ou suavizar, o resultado. Porque os militantes e moralistas do politicamente correcto, com maiores ou menores tiques de elite, fazem este tipo de coisa sempre que alguém sussurra, à opinião pública, uma opinião contrária à estabelecida, de jure e por decreto, como a certa.
O que é que há de novo? Temos o resultado de uma votação auditado por uma empresa estrangeira num programa tipo concurso sobre o maior português de sempre. E ganhou, destacado (41%, a 22 pontos do segundo), António de Oliveira Salazar, totalmente contra a corrente de opiniões que escoa diariamente nos media.
Essa corrente vai reforçar-se nos próximos dias e pelo menos até ao final de Abril. Depois deste resultado, muitos acharão necessário introduzir mais ruído, repetir as ideias feitas contra o Estado Novo, reforçar uma imagem demoníaca de Salazar, enfim, continuar o programa de lavagem cerebral iniciado em 74. Após o resultado ter sido divulgado, ninguém pareceu muito à vontade no estúdio. Praticamente todos procuraram uma desculpa para o resultado - ou para não o analisarem. É como quando as crianças puxam a barba do Pai Natal e vêem que é apenas o tio: o choque fá-las entrar numa fase de negação. Parece-me que esse estúdio é uma amostra razoável do panorama intelectual português, ainda em fase de negação. Não sabem bem o que fazer. Podem acontecer duas coisas: a saída saudável mas difícil, que será enfrentaram a realidade e aceitarem a História, ou a saída doente mas fácil, que será convencerem-se todos outra vez que o seu mundo de fantasia é o mundo real.
Vejamos os argumentos, ou melhor, os lugares-comuns que se usaram e continuarão a usar para prossegui no caminho fácil:
1. O básico, repetido como por um papagaio na enorme massa "pensante" do politicamente correcto, é o que diz, sempre com muita convicção: "se Salazar ainda existisse não podíamos estar aqui a discutir isto ou aquilo". É um lugar-comum mágico, verdadeiro feitiço arrancado de uma história de Harry Potter, porque em qualquer situação transforma do seu emissor um mensageiro da liberdade - mesmo que seja defensor de um regime marxista. Este "argumento", no entanto, não só não invalida que um grande líder seja um grande líder (na História existiram muitos grandes líderes em regimes não-democráticos - os historiadores de esquerda que tentem provar o contrário), como também pode ser aplicado a todos os outros finalistas à excepção de Aristides Sousa Mendes, que nem teve poder para poder ser julgado desta forma. Se há 50 anos esta votação/debate não podia existir, há 500 ou 800 ainda menos. Logo é um argumento pouco criativo e de efeito zero numa mente racional.
2. As pessoas quiseram dar um voto de protesto ao actual estado de coisas votando em Salazar. Isto é, não gostam dele, nunca gostaram, nunca poderão vir a gostar ou ver nele uma migalha de valor - o que acontece é que, como a democracia não trouxe a felicidade plena (nem, pelos vistos, meios de protesto suficientes), a população decide protestar votando em massa num programa televisivo. Se isto fosse verdade, isto é, se os descontentes-que-votam-contra fossem tão expressivos, o PCP ou o Bloco de Esquerda já tinham tido maioria absoluta há muito tempo. Mas nunca tiveram - longe disso. A grande maioria dos votos é dada ao centro, apesar de serem os partidos de centro que governam e sofrem desgaste. Portanto os gurus desta teoria do "voto de protesto" em Salazar têm de explicar como é que há uma proporção tão pequena de protestantes radicais em outras votações ou sondagens. Ou ficarem calados. Entre uma e outra, geralmente optam por insistir na mesma ideia como uma mosca a bater numa vidraça... Mais um caso de pouca imaginação.
3. As pessoas votaram em Salazar por ignorância. Não sabem, votaram ao calhas e acertaram em Salazar, que rima com azar. Geralmente esta ideia é suavizada com um discurso deste tipo: "ainda não passámos [nós, a elite intelectual dos esclarecidos] bem a mensagem ao povo, temos de insistir e continuar a lutar para que as pessoas percebam". Isto falha em dois pontos. Primeiro, considera fracos os preconceitos instaurados contra o regime salazarista - que não são poucos. Segundo, há muitas pessoas que viveram no Estado Novo. Um português hoje com 50 anos, digamos, teria 17 em 1974 e já se lembraria de algo. Cerca de metade da população encaixa nesta faixa etária. Se Salazar foi tão terrível como diz a propaganda, como é que estas pessoas não se aperceberam disso? É muito estranho - ou muito estúpido. Talvez as pessoas com mais de 50 anos não saibam mexer em telemóveis para votar nestes programas, e por isso não contem. Seja como for, assumir que quem tem menos de 50 anos é ignorante não tem qualquer fundamento.
4. O argumento PCP: há um plano secreto dos fascistas para regressar ao poder. A RTP e a Price Waterhouse Coopers, ignorando a Constituição, uniram-se aos salazaristas ("fascistas" no vocabulário da enciclopédia das edições Avante!, que é um termo que engloba todo o espectro da direita, mais os capitalistas, os judeus, os monárquicos e todos os críticos da esquerda) e planearam copiar um concurso feito em outros países para promover o nome de Salazar. As votações foram falsas, mas eficazes. Um exército de salazaristas conspira para tomar o poder, sendo o último bastião da liberdade e da democracia o PCP. Perto disto a Guerra Fria foi mero um jogo de berlindes. A luta continua. No final, todos serão felizes para sempre desde que pertençam ao PCP, não o tentem renovar e concordem com a existência de democracias maduras em Cuba e na Coreia do Norte, assim como com o facto indesmentível da reforma agrágria ter sido óptima para o país.
Não me parece que qualquer destes argumentos possa ser fundamentado. Os melhores analistas vão fazer dar-lhes um aspecto interessante e colorido, mas quem rema contra a lógica e os factos acaba por naufragar mais tarde ou mais cedo.
Pessoalmente parece-me que os motivos são outros:
1. Oportunidade de mostrar que merecemos mais do que a pobre e estupidificante versão do Estado Novo, do Salazar e do 25A com que nos moem a cabeça desde a escola primária. Merecemos uma análise histórica com rigor científico e honestidade no que diz respeito à nossa pátria. Não queremos versões revolucionárias e anti-fascistas da realidade - queremos somente a realidade. Não queremos julgamentos feitos e empacotados. Queremos os factos e a liberdade de os julgar como entendermos melhor.
2. Voto de protesto, sim, mas pela liberdade de expressão. Um país só é livre quando todos podem ter a opinião que entenderem e formarem os partidos e associações que acharem melhor, independentemente da sua ideologia, credo ou raça. Ninguém pode acreditar nisto enquanto a própria Constituição proibir a manifestação de uma ideologia.
3. Cura do complexo anti-salazarista. Aceitar o passado, em vez de o apagar da memória, é a melhor terapia para um país traumatizado. Restaurar o verdadeiro nome da ponte sobre o Tejo, construir o museu Salazar, falar sobre o Estado Novo tal como ele foi, com as suas virtudes e defeitos, no seu contexto histórico, sem preconceitos. Já nos libertámos do salazarismo - alguém duvida? Só falta libertar-nos da doença anti-salazarista que alguns querem perpetuar. Esta votação pode ter sido um primeiro passo.
4. A mensagem de que virtudes como o patriotismo, a honestidade, a lealdade, a rectidão moral, a capacidade de liderança, são importantíssimas num homem de Estado, e que poucos existiram até hoje como Salazar nesse aspecto.
5. A importância de Salazar no contexto do século XX. A estabilização política, o crescimento da economia, a neutralidade na Segunda Guerra. Muitos sentem que devem isso a Salazar. Tal não quer dizer que gostassem do regresso de um Salazar, penso, ou mesmo que simpatizassem com ele. Quer apenas dizer que reconhecem o seu papel na vida nacional.
6. Voto contra Álvaro Cunhal. Sem dúvida, um motivo também muito válido e também já referido ontem por Paulo Portas. Apesar de fraco. É o único argumento que poderá coincidir com o "politicamente correcto", porque serve de desculpa.
Nenhum dos motivos, porém, me parece ter sido eleger Salazar como o maior português de sempre. Nem o segundo classificado teve tais motivos, nem o terceiro, pelo que o concurso não deixou de ser, nem na conclusão, algo mais relevante que o novo Big Brother da TVI.
Uma coisa vale aquilo que se dá por ela. A água, que no deserto vale mais que diamantes, na cidade vale menos que um BigMac. Vejamos o impacto que terá esta votação na sociedade actual, durante os próximos dias. Quanto mais palermas a negar o óbvio, mais mérito para o programa e mais louros para o grande estadista."
retirado daqui.