Para viver

"Para viver, é preciso coragem. Tanto a semente intacta como aquela que rompe a sua casca têm as mesmas propriedades. No entanto, só a que rompe a casca é capaz de ser lançar na aventura da vida.
Essa aventura requer uma ousadia única: descobrir que não se pode viver através da experiência dos outros, e estar disposto a entregar-se. Não se pode ter os olhos de um, os ouvidos de outro, para saber de antemão o que vai acontecer; cada existência é diferente da outra.
Seja o que for que me espera, eu desejo estar com o coração aberto para receber. Que eu não tenha medo de colocar o meu braço no ombro de alguém, até que ele seja cortado. Que eu não tema fazer algo que ninguém fez antes, até que seja ferido. Deixa-me ser tolo hoje, porque a tolice é tudo o que eu tenho para dar esta manhã; posso ser criticado por isso, mas não tem importância. Amanhã, quem sabe, serei menos tolo."

in Cartas de Amor do Profeta, Kahlil Gibran,
traduzido por Paulo Coelho

Intrigued by you

A força do acaso sempre me fascinou. Não como coincidências, que existem. Não como probabilidades, que as há. Nem como destino, que esse, és tu quem o fazes. Antes como um mistério indecifrável, que nos toca e nos intriga e nos seduz.



Sempre gostei do inesperado, de ser surpreendida. Talvez seja por isso que nunca faço grandes dramas quando acabo por me perder. Porque é preciso haver desconhecido para haver conhecido...



Talvez aches que já sabes o que importa. Talvez te baste o sonho e o conforto de saberes que há vida atrás destas palavras. Porque sabes bem o que isto é, as tuas horas a não condizerem com as minhas, não saberes onde é o meu largo, e eu a não ver o teu deus. Não te enganas com a ilusão de um caminho diferente, porque bem sabes que és daí, onde não ouvem fado. (Sabes o que significa fado? Destino.) Também não me iludo. Sim, é outro mundo. Mas o sol que te aquece é o mesmo que me aquece. O carinho por que anseias tem a mesma exigência do meu. O riso descontrolado e o toque certo, também eu o quero partilhar. Ser dona de mim, poder viver sem medo de errar e de desiludir, também é o que quero para mim. Não deveria apenas bastar a vontade de ser feliz?



Porventura, acharás que o meu tu não podes ser tu. Que estou ocupada e com a renda por pagar. Vê melhor. Estou em mudanças e só me falta trancar a porta e fechar as janelas.



Entraste-me pelos dias adentro por acaso. Mas não tem sido por acaso que fico pensativa à noite e sei que não é por acaso que tenho olhado com maior demora para as ondas que se perdem na areia. Não é uma declaração, descansa! Talvez seja somente alucinação minha, que não estou habituada a tanta atenção! Ou...Perhaps I'm just intrigued. Intrigued by what? By you*

Música do Dia

Volver, Estrella Morente

Acho que já aqui coloquei antes esta música mas...não importa. Gosto. Hoje em Lisboa.

Do filme "Volver" de Almodovar e com Penélope Cruz.

Apanhados*

Os apanhados da velhinha RTP1, gosto tanto! :) Atenção aos dois últimos apanhados, os melhores! Ãhn, Ãhn!

"Não tem nada que saber o meu nome! Sou um cristão. Um cristão. Um cristão não teme!" LOL

Advertência: a mulher a dizer RTP1 a cada 5 segundos é altamente irritante! Para quem quiser mais, aqui está.

* ou o verdadeiro povo português :)

Everybody Lies



Ontem terminou o House. Pessoalmente, prefiro o ER - Serviço de Urgência (RTP2, Terças, 22h40), muito mais real, com a pressão de trabalhar nas Urgências e com personagens muito interessantes e cheias de problemas pessoais. Mas, é impossivel ser-se indiferente ao estupidamente fantástico ou fantasticamente estúpido Gregory House, nem que seja por causa disto.

Eu sei e você sabe

Eu sei e você sabe
Já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo
Levará você de mim

Eu sei e você sabe
Que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste

Por isso meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham a você.

Assim como o Oceano, só é belo com o luar
Assim como a Canção, só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem, só acontece se chover
Assim como o poeta, só é bem grande se sofrer
Assim como viver sem ter amor, não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você!

Vinicius de Moraes

Música do Dia

Why, Avril Lavigne

Para uma nova amiga, com um beijo*

(as últimas imagens do vídeo são dispensáveis mas...foi o melhor vídeo que encontrei..)

Surpresa

E não é que as minhas suspeitas se confirmaram? :) Afinal, o autor do blog Do Portugal Profundo e agora arguido por ter denunciado o escândalo da licenciatura de Sócrates é o mesmo prof. Caldeira da minha escola. Logo ele, que sempre me pareceu um despistado, mas sempre muito bem-disposto e o único que se dignou estar no nosso baile de finalistas! :) Há cada coincidência! Ainda me conseguem surpreender! E fica agora a certeza: o departamento de Marketing, da responsabilidade do meu querido orientador, é aquele de que mais gosto em toda a escola, nem que seja por ser o que mais incomoda os outros e o mais provocativo!
Prof. Caldeira, tenha a certeza que, pelo menos, os alunos da ESGS estão consigo.!

Lisboa precisa DE Governo

Hoje comprei a Sábado, por causa da Princesa Diana e do José Luís Peixoto. Mas, vou mesmo é falar de Fernando Negrão. :) Começo a ter pena do homem!

Ele nem faz por mal mas tem sido infeliz nos slogans que usa e nas afirmações que faz...


Primeiro, o "Lisboa a sério" - como se antes fosse a brincar!

Depois, chamou Alberto a António Costa e também trocou Lisboa por Setúbal - tudo uma questão de nomes!

Depois, a EPAL, o IPPAR, e a EPUL - tem dificuldade com siglas!






Agora, vem mais um monte de afirmações infelizes na entrevista de hoje:


* " - Iria a uma parada gay?
- Não. É uma coisa que me faz alguma confusão";


*" - Quando acorda a primeira coisa que faz é olhar-se ao espelho?
- Não, primeiro visto um roupão e tomo duche";


*" - (...) Passou muito tempo a estudar dossiês?
- Normalmente, até peco por defeito. Preparo-me excessivamente.
- Então é por excesso.
- Pois, tem razão. Por excesso".


* Jardins suspensos? Um passeio turístico com ciclovia do Parque das Nações até Algés?
- "Mas o que é que isto tem de megalónomo?" (sim, o quê? A Câmara está a abarrotar em dinheiro. Porque não?)




E gosta que o comparem a Richard Gere!




As coisas que Ana diz

Obviamente, foi demitido!

Peço desculpa pelas legendas que, obviamente, não são minhas e contêm linguagem imprópria.

Piadinha Engraçada

Diz José Sócrates para o Secretário: - Vou atirar esta nota de 100 Euros pela janela e fazer um português feliz.
- Sr. Primeiro- Ministro não acha preferível atirar 2 de 50 e fazer 2 portugueses felizes? - diz o Secretário.
- Não faça isso Sr. Primeiro-Ministro. Atire 20 notas de 5 e faça 20 portugueses felizes! - diz o Escriturário lá no seu canto.
Ouvindo isto tudo, sugere a senhora de limpeza: - Porque é que o senhor não se atira da janela e faz dez milhões de portugueses felizes?

Bastava-nos amar

Bastava-nos amar. E não bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar.
Pelo mar. Por um rio ou uma veia.

Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.

Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.
E bastava. Bastava respirar

a tua pele molhada de sereia.
Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.

Joaquim Pessoa

Música do Dia

Hurt, Nine Inch Nails

Esta é para ti, JAM. Parabéns! Beijo*

Música do Dia

You're Gorgeous, Babybird

Because you're gorgeous I'd do anything for you.

Because you're gorgeous our love will see us through.

Because you're gorgeous I'd do anything for you.

Because you're gorgeous I know you'll get me through.

Do Orgulho [Act.]


Ler isto, isto e ainda isto.



Orgulho ou discriminação pela positiva?



"Melvin: Don't you ever think about the day you're going to stand under judgment before God? What are you going to say to him when he opens the Book of Life and reads your sins?




Bette: I will say, "I am your creation, and I am proud." "


in TLW 2 x 11

Música do Dia

Sonny & Cher, I Got You Babe

Velhinha mas ainda gostosa de ouvir! A Cher era tão mais bonita sem cirúrgias plásticas...

Têm de ler isto

Redacção feita por uma aluna de Letras, que obteve a vitória num concurso interno promovido pelo professor da cadeira de Gramática Portuguesa.

"Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador.Um substantivo masculino, com aspecto plural e alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. O artigo, era bem definido, feminino, singular. Ela era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingénua, silábica, um pouco átona, um pouco ao contrário dele, que era um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos.

O substantivo até gostou daquela situação; os dois, sozinhos, naquele lugar sem ninguém a ver nem ouvir. E sem perder a oportunidade, começou a insinuar-se, a perguntar, conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado e permitiu-lhe esse pequeno índice.De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro.Óptimo, pensou o substantivo; mais um bom motivo para provocar alguns sinónimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a movimentar-se. Só que em vez de descer, sobe e pára exactamente no andar do substantivo.Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela no seu aposento.Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, suave e relaxante. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela.Ficaram a conversar, sentados num vocativo, quando ele recomeçou a insinuar-se. Ela foi deixando, ele foi usando o seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo.Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo directo.

Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o seu ditongo crescente. Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples, passaria entre os dois.Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula.Ele não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe soletrasse no seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, pois estava totalmente oxítona às vontades dele e foram para o comum de dois géneros.

Ela, totalmente voz passiva. Ele, completamente voz activa. Entre beijos, carícias, parónimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais.Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo do objecto, tomava a iniciativa. Estavam assim, na posição de primeira e segunda pessoas do singular.Ela era um perfeito agente da passiva; ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.

Nisto a porta abriu-se repentinamente.Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo e entrou logo a dar conjunções e adjectivos aos dois, os quais se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas.Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tónica, ou melhor, subtónica, o verbo auxiliar logo diminuiu os seus advérbios e declarou a sua vontade de se tornar particípio na história. Os dois olharam-se; e viram que isso era preferível, a uma metáfora por todo o edifício.Que loucura, meu Deus!Aquilo não era nem comparativo. Era um superlativo absoluto. Foi-se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado aos seus objectos. Foi-se chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo e propondo claramente uma mesóclise-a-trois.Só que, as condições eram estas:Enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria no gerúndio do substantivo e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido depois dessa situação e pensando no seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história. Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, atirou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva. "

Fernanda Braga da Cruz
descoberto aqui

Música do Dia

By Your Side, Sade

...your so much better than you know...

Mar Adentro

Cartas do Inferno

"Não existe escravidão mais imoral do que a da consciência. Essa é a cultura da involução, do inferno, da morte, porque leva irremediavelmente ao ressentimento, ao crime, à destruição.
Onde foram parar todas as verdades sagradas e profanas, todas as vidas sacrificadas por defendê-las que hoje são consideradas crimes contra a humanidade?
Um dos grandes erros filosóficos é negar ao indivíduo o direito de renunciar à vida. O que significa que nunca se lhes quer reconhecer que a vida é propriedade dele. Livre e adulto.
Não se ensina a arte da boa morte porque se defenda a sacralidade da vida, mas por receio de que os escravos renunciem em massa ao inferno de umas vidas miseráveis.
É coerente que os dominantes justifiquem o sofrimento como um dever moral porque é a fonte do seu prazenteiro bem-estar. O que é absurdo é que aqueles que foram escravos, quando são legitimados pela consciência colectiva para corrigir o abuso, o erro, ou o crime, continuem a aplicar as leis do antigo amo e seus fundamentos - refiro-me aos socialistas e à Constituição.
O direito de nascer parte de uma verdade: o desejo do prazer. O direito de morrer parte de outra vontade: o desejo de não sofrer. A razão ética põe o bem ou o mal em cada um dos actos. Um filho concebido contra a vontade da mulher é um crime. Uma morte contra a vontade da pessoa também. Mas um filho desejado e concebido por amor é, obviamente, um bem. Uma morte desejada para uma pessoa se libertar da dor irremediável, também.
A vida parte de uma verdade. Evolui corrigindo sistematicamente o erro. O manual de instruções é a natureza. Quem o interpreta erradamente cria o caos.
Quando se nega o direito de renunciar à dor sem sentido, proibe-se também o direito a ser mais livre, mais nobre, mais justo, à utopia de libertar-se de uma armadilha em que o enfiaram os legisladores. Exterminaram as feras para ocupar o seu lugar, e agora fazem de mestres. Ditam leis e fundamentos de direito, criam escravidões do que nenhuma razão consiga escapar. A razão criou para a sua espécie uma ratoeira infernal.
A liberdade significa a liberdade do todo. A justiça significa o amor, bem-estar e prazer para o todo. Isto é, equilíbrio.
Nenhuma liberdade pode ser construída sobre uma tirania. Nenhuma justiça sobre uma injustiça ou dor. Nenhum bem universal sobre um sofrimento injusto. Nenhum amor sobre uma obrigação. Nenhum humanismo sobre uma crueldade, seja qual for o ser vivo que a sofra. A diferença entre a razão ética e a crença fundamentalista é que a primeira é a luz, a libertação; a segunda a treva, a armadilha infernal."

in Cartas do Inferno, de Ramón Sampedro

Demorei algum tempo até decidir qual o excerto do livro que iria deixar por aqui. Optei por um dos textos mais pequenos, mas ainda assim rico em polémica. Contudo, todo o livro é uma colectânea de cartas verídicas de Ramón, um homem espanhol, tetraplégico, que durante 30 anos pediu a eutanásia, que sempre lhe foi recusada. Finalmente, a 13 de Janeiro de 1998, libertou-se da vida.

É um relato comovente, que obriga a uma reflexão profunda, e que serviu de mote para o filme Mar Adentro. Para quem se interessar pelo lado mais humano deste tema, aconselho vivamente.

Da Eutanásia

"A legalização da eutanásia em Portugal é defendida por 39% dos médicos oncologistas , mas apenas 23,8% admitiram praticar esse acto se a legislação o permitisse. Dados obtidos através de um inquérito anónimo a estes profissionais da saúde, a que se acrescenta o facto de 20% já terem recebido pedidos para a prática da eutanásia e apenas 5% para o suicídio assistido. No entanto, poucos (apenas 11%) estariam disponíveis a praticar a eutanásia a pedido de outra pessoa."

Resultados surpreendentes e preocupantes, porque demonstram alguma inversão do que a ética médica determina", afirmou ontem o director do Serviço de Bioética da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, ontem durante a apresentação do estudo levado a cabo por Ferraz Gonçalves, pioneiro dos cuidados paliativos no país.

Os dados deste estudo, obtido junto dos profissionais de saúde que lidam diariamente com doentes terminais, estão sujeitos a várias interpretações, como referiram os dois responsáveis, sublinhando no entanto, que se deve abrir o debate à sociedade, porque não se conhece a sua opinião.

Para Rui Nunes, os médicos "podem ter mudado de opinião, ou esta é uma forma de demonstrar o seu descontentamento face à evolução da sociedade". Isto é, acrescentou, "vários estudos indicam que a maioria que solicita estes actos não o faz pela dor física, mas por uma dor psicológica tratável". Logo, sublinhou, "há que alterar o Serviço Nacional de Saúde e dotá-lo de uma verdadeira rede de cuidados paliativos".Ferraz Gonçalves salientou que "alguns dos pedidos feitos pelos doentes poderiam ser evitados, desde que existissem cuidados paliativos e não o abandono de doentes terminais".

Quanto à diferença que existe entre os médicos favoráveis à legalização e os que praticariam a eutanásia ou o suicídio assistido, não foi dada uma explicação clara, apenas foram apresentadas algumas especulações."Uma razão pode estar relacionada com o código deontológico (que agora vai ser alterado) que não permite e até pune tais actos, como a Interrupção Voluntária da Gravidez . A outra razão pode ser uma questão de princípio - a finalidade da medicina não é tirar vidas, em caso de legalização outros a podiam fazer".

"Sempre se praticou a eutanásia em privado"

"Defendo que se deve legislar rigorosamente sobre a matéria, o que implica a monitorização das situações onde o médico assistente pode fazer, o que se chama de morte assistida. Um exemplo recente disso, foi em Espanha, uma mulher presa a uma cama há mais de 15 anos que pedia para morrer e o que os médicos fizeram foi desligar as máquinas que lhe garantiam a sobrevivência. Chamaram morte assistida, mas foi eutanásia. A eutanásia só pode ser feita com a permissão do paciente, vontade que exprimiu de forma consciente e congruente com a realidade médica, porque se trata de um acto médico, de conferir dignidade à morte, evitando o sofrimento inútil e vazio, com controlo rigoroso. Nesse contexto, sou claramente a favor da eutanásia, que sempre se praticou em privado".

"Não se pode permitir a banalização deste actos"

"Sou contra por várias razões. Primeira, por uma questão de princípio, a vida humana não é um bem disponível. Por outro lado, está provado que em 99% dos casos das pessoas que pedem a eutanásia não estão em condições para o fazer do ponto de vista ético. Isto é, a generalidade dos doentes com cancro acabam por desenvolver uma doença afectiva, que é tratável. Os 20 mil casos de cancro anuais certamente têm pensamentos suicidas, mas a solução não passa pela eutanásia, mas sim pelo tratamento. Depois, há também a questão ética. Uma coisa é avaliar um acto concreto, outra é legalizar uma política que tem consequências. Não se pode permitir a banalização destes actos, como aconteceu na Holanda. Corre-se o risco de se estender essa liberdade a crianças e a pessoas inconscientes, incapazes de decidirem por si. Neste caso, permite-se que alguém decida pela vida ou pela morte de uma outra pessoa"."

in JN de ontem

Como costume, surgem comentários muito pertinentes aqui. De igual modo, gostei de ler isto, aplicável também ao post anterior.

Querem destruir a família


"Tenho uma amiga que tem uma namorada. Tem uma namorada há dois anos. A namorada tem três filhas. A minha amiga descobriu há muito que, do ponto de vista, digamos, romântico e sexual, prefere as mulheres aos homens. A namorada dela não descobriu nada disso. Apaixonou-se por uma mulher ao fim de duas décadas de relacionamentos com homens. Custa a imaginar a coragem necessária para que alguém na situação dela assuma uma relação assim. Perante os outros, mas antes de mais perante ela própria. É uma experiência tanto mais radical quanto se mantém sólida em quase todas as cabeças a ideia de que a nossa identidade se estabelece a partir de uma espécie de ditotomia sexual e desejante inabalável.

“Agora és fufa, é?”, perguntaram-lhe alguns amigos, amigos que deixaram de ser. Por essas e por outras, a namorada da minha amiga não assumiu ainda a sua relação perante a maior parte das pessoas. Em dois anos, não considerou poder correr esse risco. A minha amiga sofre com isso. A namorada, decerto, também. Têm uma relação estável e exclusiva, mas vivem como amantes clandestinas. Penso sempre nelas quando oiço as pessoas estranhar, por exemplo, que “os homossexuais queiram casar”. Ou quando me dizem que “já não há discriminação”, que “não se percebe o que ‘eles’ querem mais”. Penso nelas quando vejo, como há dias, uma manifestação a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Roménia, onde a homossexualidade deixou de ser crime há seis anos, ser atacada à pedrada e a gritos de “querem destruir a família”.

Não faço ideia se a minha amiga e a namorada quereriam casar. Sei que gostariam de poder fazer uma série de coisas que são normais num casal, mas que no caso delas seriam consideradas “exibicionismo” ou “provocação”. Andar na rua de mão dada, trocar um beijo quando apetece. Coisas que os apaixonados fazem. Sei que gostariam de não morrer de medo da reacção das crianças à assunção da verdade. Nunca percebi de que falam as pessoas que defendem ser a aceitação social e cultural plena dos casais do mesmo sexo -- que simbolicamente tem um passo essencial na alteração dos artigos do Código Civil que só permitem o casamento de pessoas de sexo diferente -- um “ataque à família”.

Família, para mim, é um núcleo fundado a partir da ideia do afecto e da comunhão de vida – e não creio que a história, ou mesmo essa coisa chamada “tradição”, digam outra coisa. Mas, mesmo que desse de barato que existe uma “família tradicional” que corresponde à imagem de um casal de sexo diferente que se une com a ideia de ter um rancho de filhos, não se entende em que é que ela é afectada pela existência de outro tipo de uniões. Em que é que o casamento de pessoas do mesmo sexo diminui ou prejudica o casamento de pessoas de sexo diferente? Será que há quem pense que, mal seja possível “oficializar” uma relação entre pessoas do mesmo sexo, não haverá quem queira outra coisa? Ou é mesmo aquilo que parece, a determinação em perseguir e invisibilizar aquilo que se considera “uma aberração”, a determinação de destruir, de fazer sofrer, as pessoas que vivem de uma forma que se não aprova?

“Querem acabar com a família”? Querem. Querem acabar com a família que a minha amiga e a namorada dela gostariam de ser. É essa a família que está sob ataque diário, milimétrico, acerado e sem piedade. Tão perseguida e tão cercada que às vezes não lhe vejo hipótese. Aberração é haver quem ache que precisa, para ser feliz, de fazer outros sofrer assim."

Fernanda Câncio

(texto publicado na notícias magazine de domingo passado, na coluna 'sermões impossíveis' e aqui)

Música do Dia

She, Elvis Costello

She

May be the face I can't forget

The trace of pleasure or regret

May be my treasure or the price

I have to pay

She

May be the song that summer sings

May be the chill that autumn brings

May be a hundred different things

Within the measure of a day

She

May be the beauty or the beast

May be the famine or the feast

May turn each day into a heaven or a hell

She

may be the mirror of my dreams

The smile reflected in a stream

She may not be what she may seem

Inside her shell

She

Who always seems so happy in a crowd

Whose eyes can be so private and so proud

No one's allowed to see them when they cry

She

May be the love that cannot hope to last

May come to me from shadows of the past

That I'll remember till the day I die

She

May be the reason I survive

The why and wherefore I'm alive

The one I'll care for through the rough in ready years

Me

I'll take her laughter and her tears

And make them all my souvenirs

For where she goes I've got to be

The meaning of my life is

She

She, oh she

Lovemarks

"De marca a lovemark: a importância do emotional branding na indústria do automóvel de luxo". É esta a razão porque este blogue andará mais sossegado nos próximos dias. Motivos maiores (adiantar o trabalho final de curso) se levantam. Ainda assim, fica a questão: quais as marcas que vocês amam, as vossas lovemarks?

"Assentes no amor, as Lovemarks podem definir-se como uma marca, evento, lugar ou experiência, que se traduz numa devoção passional das pessoas, inspirando uma fidelidade que vai além da razão (definição minha)".

Mais informação sobre o assunto aqui.

Que nome te dar?

"(Que nome te dar? Tu és única. Tu és todas. Ou talvez nenhuma. Eu sou tu. Tu és eu. A outra metade de mim. A parte de ti que em mim ficou. A parte de mim que foi contigo. Ninguém me foi tão próximo. Ninguém me escapou tanto.
Como foi que constantemente no encontrámos e nos perdemos?
Esta é a história. Uma história sem história. Uma história só isto.)"

in A Terceira Rosa, de Manuel Alegre

(um dos meus livros preferidos)

Música do Dia

Turn Your Lights Down Low, Bob Marley ft. Lauren Hill

Não é a música dos Parabéns mas...é como se fosse, porque sei que gostam desta tanto como eu!

Parabéns, Mircão (o meu nome carinhoso para Marco!), pelos 19 aninhos. Beijos da mana que te adora*

Parabéns, Leninha, pelos 23 aninhos. Beijo da amiga que te adora*

Tomatina

Com uma inarrável surpresa e contentamento venho por este meio informar os meus estimados leitores e outras ocasionais visitas que este blog foi nomeado por Pedro Correia, do Corta-Fitas, como um Blog com Tomates.

Sem falsas modéstias ou bajulações, devo adiantar que, sinceramente, não creio estar ao mesmo nível dos restantes nomeados, conquanto tudo o que por aqui escrevo não passam de simples devaneios de alguém que tem muito pouco que fazer.

Não sabendo bem o que fiz de especial para merecer tal nomeação e, sabendo que este é dos mais reputados prémios bloguistas a que alguém pode almejar, quero ainda manifestar aqui publicamente o meu agradecimento a Pedro Correia por tamanha distinção conferida. Com o tempo, farei por merecê-la, mas sobretudo, na vida real que transcende este blog. O meu obrigado, caro Pedro.

Continuando na lógica do "passa a outro e não ao mesmo" aponto seguidamente cinco daqueles que me merecem a maior consideração e que são, no meu entendimento, verdadeiros blogs com eles no sítio:






La Femme Fatale

É oficial. Em confirmação aos muitos rumores que se criaram durante as Presidenciais, chega agora a notícia: Ségolène Royal anunciou ontem a sua separação de François Hollande.

"J'ai demandé à François Hollande de quitter le domicile, de vivre son histoire sentimentale de son côté, désormais étalée dans les livres et les journaux et je lui ai souhaité d'être heureux."

Sem retirar o reconhecido mérito político a Hollande, diga-se que é sempre complicado viver na sombra de uma grande mulher...Vai ser interessante a disputa pela liderança do partido! Ai se vai...

Uma constatação não menos pertinente é o facto desta notícia parecer suscitar maior atenção entre os franceses do que propriamente o resultado e rescaldo das legislativas. Querem ver que se tratou de uma manobra de diversão, para roubar protagonismo ao partido ganhador? :p

Cada Lugar Teu

Levou os dedos à boca, para sentir o sal em que se afundavam as mãos com que sentia o mundo, no mar. Era bela, muito bela. Não daquela beleza estonteante, forçada, de barbie, mas antes uma beleza secreta de tão sua, que lhe preenchia os gestos e o olhar celeste. Cheirava a maresia e a praia. Tinha a pele suave e morena, uma coloração de sol, viva e radiante. Sabia a sal e dava sede de mais, muito mais. O seu cabelo era um emaranhado de sensações, fios pontilhados por uma rebeldia de areia fina, que agora dançavam, acompanhando a brisa fresca que lhe percorria o corpo.

Era um fim de tarde de Verão e o sol morria num laranja de paz. Sentou-se, com as pernas flectidas, uma mão agarrando os joelhos, outra brincando distraída com a areia que lhe fugia, como o tempo. Olhava as ondas à procura de uma resposta, e sentia-se em casa, com uma inesgotável sensação de plenitude. No seu sorriso sereno havia o encanto de quem se sabe ilimitado. No seu olhar, a segurança de quem é dona do mundo. Olhava para longe, contemplativa, indiferente a tudo, absorta na eternidade daquele momento mágico, em que o sol se afoga no mar. Talvez para o guardar melhor na memória, ancorá-lo e, depois mais tarde, poder saboreá-lo com nostalgia.

Ela era assim, sempre consciente da efemeridade de tudo e, por isso, sempre a querer absorver a vida em todos os poros. Foi por isso que ela, centrada nos murmúrios do mar que dizia seu, não o ouviu aproximar-se, por trás. Mas, quando ele lhe tocou no ombro, ela ergueu a cabeça e olhou-o no fundo dos olhos, sem nada dizer. Depois fez o sorriso mais bonito que tinha e soltou uma palavra que lhes uniria a vida. "Sim".

Cada Lugar Teu, Mafalda Veiga

NOTA1: Descobri ao acaso (como nas coisas boas da vida) uma pérola, aqui.

NOTA2: Nunca tinha reparado bem na letra desta música. Linda! É bom ouvir música portuguesa assim...

O meu melhor conselho

"Ama e faz o que quiseres."
Santo Agostinho

Música do Dia

Quelqu'un m'a dit, Carla Bruni

Se hoje me puderes ouvir

Não sei por que carga de água é que hoje me lembrei do J.B. (não, não é whisky), das cartas para o CCL e dos tempos em que era "princesa". À distância de todos estes anos, sei que tudo aquilo foi um engano grave, sem consequências de maior. A memória apaga o que não é importante. Mas ficou-me na memória este presente, o meu primeiro poema de José Tolentino de Mendonça, que o amor ensinou a recitar de cor...

Haverá coisa mais querida do que oferecerem-nos poesia de qualidade? :)

"O poder ainda puro das tuas mãos

é mesmo agora o que mais me comove
descobrem devagar um destino
que passa e não passa por aqui

à mesa do café trocamos palavras

que trazem harmonias
tantas vezes negadas:
aquilo que nem ao vento sequer segredamos

mas se hoje me puderes ouvir
recomeça,
medita numa viagem longa
ou num amor
talvez o mais belo."

José Tolentino de Mendonça

Música do Dia

Closer, Travis

A Tia Rosalina

A batalha foi difícil e demorada. Um dia ganhavas tu, noutro ganhava ele. Não deste tréguas mas o bicho acabou por vencer-te, no fim. É quase sempre assim. Bicho estúpido! Cruel!
Ontem foste-te, escurecia o céu.

Depois de tudo o que passaste, talvez tenha sido o melhor para todos, afinal de contas. De certo modo, foi contigo também um pouquinho de mim, que és ainda gene dos meus genes. Ontem foste-te. Dir-se-ia que o céu chorava por ti, senhora simpática. Guardo o teu riso para a eternidade, lá onde não há bichos maus.

Coisas que não entendo

O que leva um homem a bater numa mulher ou nos filhos??
Enoja-me a violência doméstica e olho com estranheza todas aquelas que se resignam com a situação e só aguentam "por causa dos filhos" ou porque são economicamente dependentes do marido...A sério que não percebo.
A propósito do tema, ler isto, sem papas na língua e com elas no sítio!

Uma Família Feliz



Gostei de ver a entrevista da SIC (estão cada vez melhores as entrevistas e reportagens especiais) a S.A.R. D. Duarte de Bragança. É que, não digam a ninguém mas...nutro uma especial simpatia pelo regime monárquico. :p

Também viram? O que acharam?

Salve-se quem puder!

Índia, sem semáforos e sem ordem.

Dos Cornos

Ouvi falar deste caso no programa Fátima de hoje e não resisti a procurar na net (via Revisão da Matéria) e postar aqui. É caso para compreender o porquê da lentidão dos tribunais...

"Com a devida vénia, transcrevem-se a seguir extractos do Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 9 de Abril de 2002, publicado na Colectânea de Jurisprudência, Ano XXVII (2002), tomo 2, página 142 e seguintes:

O Ministério Público deduziu acusação pela prática de crime de ameaças porque "durante uma discussão, o arguido ameaçou o ofendido, dizendo que lhe dava um tiro nos cornos"."Com tais palavras o visado sentiu intranquilidade pela sua integridade física".
O Juiz (de julgamento) decidiu não receber a acusação "porque inexiste crime de ameaças (...) simplesmente pelo facto de o ofendido não ter «cornos», face a que se trata de um ser humano. Quando muito, as palavras poderiam integrar crime de injúrias, mas não foi deduzida acusação particular pela prática de tal crime".
O Ministério Público recorreu da decisão, tendo o Tribunal da Relação de Lisboa acolhido o seu recurso, dando-lhe razão, remetendo-se o processo para julgamento, entre outros, pelos motivos que de seguida se descrevem, em breves extractos.


"Como a decisão (recorrida) não desenvolve o seu raciocínio – talvez por o considerar óbvio –, não se percebe quais as objecções colocadas à integração do crime. Se é por o visado não ter cornos estar-se-ia então perante uma tentativa impossível? Parece-nos evidente que não."


"Será porque por não ter cornos não tem de ter medo, já que não é possível ser atingido no que não se tem?"


"Num país de tradições tauromáquicas e de moral ditada por uma tradição ainda de cariz marialva, como é Portugal, não é pouco vulgar dirigir a alguém expressão que inclua a referida terminologia. Assim, quer atribuindo a alguém o facto de "ter cornos" ou de alguém "os andar a pôr a outrem" ou simplesmente de se "ser como" (...) tem significado conhecido e conotação desonrosa, especialmente se o seu detentor for de sexo masculino, face às regras de uma moral social vigente, ainda predominantemente machista".


"Não se duvida que, por analogia, também se utiliza a expressão "dar um tiro nos cornos" ou outras idênticas, face ao corpo do visado, como "levar nos cornos", referindo-se à cabeça, zona vital do corpo humano. Já relativamente à cara se tem preferido, em contexto idêntico, a expressão «focinho»".

"Não há dúvida de que se preenche o crime de ameaças (...) uma vez que a atitude e palavras usadas são idóneas a provocar na pessoa do queixoso o receio de vir a ser atingido por um tiro mortal, posto que o local ameaçado era ponto vital"."

Música do Dia

You're Still The One, Shania Twain

Falámos de coisas importantes, e obrigado. Já não continuas, como na música, a ser "The One" mas...foste-o durante muito tempo e, só por isso, devo-te e dedico-te esta música. Tiveste tantas oportunidades e nunca te apercebeste. Agora, o tempo passa e o dias prosseguem, mesmo sem a minha mão a deter-se no teu cabelo e depois a dar-te palmadinhas na cara acabada de barbear, quando te chamava desgraçado.

Dia Maior

"Põe a tua mão
Sobre o meu cabelo...
Tudo é ilusão.
Sonhar é sabê-lo."
Fernando Pessoa
13-06-1888
30-11-1935

Estrela Polar

Recordo-me da primeira vez em que li Vergílio Ferreira, no 12º ano, com a querida professora Teresa (saudades). "Aparição". E foi mesmo!
Assombrou-me, como hoje, a violência daquelas palavras, o saber-se que existe alguém que pensa e consegue escrever aquilo tudo, que eu secretamente pensava, daquele jeito. Lembro, com uma nitidez de ontem, a inquietação que me perseguiu por aqueles dias, a tentar descortinar um sentido possível para mim e para a vida que me habita. O terror de me ver só, sem amparo, pretexto, desculpas. E, ao mesmo tempo, o fascínio de me saber deus, dona de mim e responsável pelas minhas acções. Toda a beleza do existencialismo, ali, naquele romance filosófico! Bastou isso, para ficar do autor eternamente cativa, ainda que iniciante na sua vasta obra.

E com a mesma violência de sempre, encantou-me o livro que terminei ontem à noite - "Estrela Polar". É impressionante a persistência e mesmo obsessão da personagem principal em encontrar o "eu" que lhe irrompe das profundezas e o atormenta. De igual modo, é genial a utilização de duas personagens gémeas, que torna bem mais real a existência e a evidência de dois seres únicos e irredutíveis. Controverso mas igualmente bem actual, é a questão das pessoas se gastarem para nós, nos relacionamentos a dois. Ou aquilo que nos morre com a morte de outrém. Deixa qualquer um pensativo!
Vergílio Ferreira é ímpar e maravilhosamente assustador na pertinência das perguntas profundas e essenciais que consegue colocar. É um dos meus escritores de eleição. Hoje, como sempre, vale a pena ler ou reler.

E ao anoitecer

"e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão

deixas viver sobre a pele uma criança de lume

e na fria lava da noite ensinas ao corpo

a paciência o amor o abandono das palavras

o silêncio e a difícil arte da melancolia."

Al Berto

Da felicidade

Haverá coisa mais repugnante, cruel e insensível do que pesar-nos a obrigação de nos sentirmos felizes só porque não temos motivos para nos sentirmos infelizes? E haverá coisa mais deprimente do que pensá-lo? Pessoas deprimidas são tão enfadonhas e piegas!
O que te falta, a ti que te enganas com a ilusão da felicidade? Essa não existe. Só momentos felizes, em que te consegues esquecer de ti e tocar o céu. Acredita-me.

Música do Dia

Iris, Goo Goo Dolls

You're the closest to heaven that I'll ever be...

O poema que te dou

"Transforma o coração na coisa desamada
No vaso a transbordar que quebras com a boca
E asperge
a tua pulsação no meu sangue."
PS: Faço anos a 14 de Julho. Ninguém me quer oferecer "Poesia" deste autor?

Ansiedade do Status

"The dream is not to own a crown. It is to be a king."

Gian Luigi Buitoni

Ontem estive a ver na 2, a segunda parte do documentário "Ansiedade do Status" de Alain de Botton. É um documentário muito interessante (e muito útil para o meu trabalho final de curso) e intrigante, que recomendo vivamente.
Alain de Botton acredita que os seres humanos são motivados por duas grandes buscas: a procura da realização sexual e amorosa, e a procura por reconhecimento do mundo. Começa por referir que, em pequenos, recebemos gratuitamente e sem esforço o amor dos outros mas, crescidos e com responsabilidades, vivemos em constante ansiedade por querermos ganhar o respeito dos outros e a sua atenção, criando para o exterior uma imagem que desejamos passar.
De facto, afirma que existem poucos desejos tão prementes como aquele de ser tratado respeitosamente. Aspiramos ter status e abominamos a humilhação. Porém, tal aspiração é raramente falada, ou pelo menos, sem que contenha o seu quê de sarcasmo, embaraço ou condenação.
A palavra status refere-se, em sentido lato, à posição social ou profissional que se tem dentro de um grupo. Mas, em concreto, trata-se do valor do indívíduo e da sua importância aos olhos de terceiros e, é por isso, que nos é um conceito tão precioso.
Desta definição, vai-se inevitavelmente parar aos bens de luxo: o que leva alguém a comprar um Rolex ou a conduzir um Jaguar? Não é só para ver as horas ou para ser transportado de um lado o outro. Tudo se resume ao mesmo: Status.
Um outro ponto curioso é a fórmula arquitectada pelo autor, que define a auto-estima como um rácio entre o sucesso e as expectativas. Bastante lógica!
Ao longo do documentário, dividido em três partes, Alain apresenta ainda as causas dessa ansiedade e as possíveis soluções. A acompanhar.
Próximo episódio, Segunda 18 de Junho, pelas 23h45.

NOTA: Um pormenor no mínimo curioso foi, depois deste documentário, a transmissão de um outro que representa quase a antítese ou uma tentativa de escalada para o status: a sáida da pobreza no Bangladesh através do microcrédito, com intervenções do pai deste mecanismo de crédito, Muhammad Yunus, Nobel da Paz 2006.

NOTA2: Esta semana é ainda transmitido um documentário que parece ser deveras interessante, já que versa sobre a eutanásia "Exit: o direito de morrer", Sexta-feira pelas 23h30. Com muito pouco a ver e num outro registo, destaco a excelente série ER (as melhores séries passam na rtp2 - ER, Sopranos, Sete Palmos de Terra, The L Word, Friends!), que, como costume, dá hoje à noite. Isto sim, é serviço público!

F. at her best

"Não há mais nada assim. E é provável ser necessário ter chegado a uma certa altura da vida – a idade do tal vilão, para lá dos cinquentas, ou um bocadinho menos -- , para sopesar e decantar da palavra todo o sortilégio e toda a amargura. A altura em que afinal se percebe, por exemplo, por que raio choram certas pessoas nos casamentos dos outros. A altura em que aquela jura eterna, de “para o bem e para o mal, na alegria e na doença” e mais não sei o quê, deixa de soar oca e irrealista, até um pouco ridícula, e passa a ser apenas comovente na sua impossível certeza.

A graça disto é que o amor, a ideia do amor, é apenas uma espécie de supremo símbolo da vida humana. Estamos condenados, por incapacidade de funcionar de outro modo, a viver como se aquilo que sabemos ser impossível fosse a coisa mais certa que há. A pensar e planear e passar o tempo como se o tempo não nos faltasse, a crer que tudo vai correr bem como se não fosse óbvio que grande parte das coisas só pode, mais tarde ou mais cedo, correr mal.

(...)Que aquilo em que queremos acreditar, em que precisamos de acreditar, é verdade. Que o amor, para além de estar garantido para todos, é – ou pode ser – eterno. De tal modo se quis crer nisso que chegou a estar certificado por lei: as pessoas que juravam amor não podiam desdizer a promessa. Ah, o amor. Ah, a nossa espantosa e deslumbrante capacidade de negação. "

Vale a pena ler todo o texto aqui.

Dos Santos, Marchas e Afins




Talvez seja por eu não ser de Lisboa, não sei bem. A verdade é que, a mim, os Santos Populares dizem-me muito pouco. Ainda assim, é bem melhor do que o Carnaval português (como bem constata FJV), com rapariguinhas de 15 anos, vestidas (?) com uns míseros trapinhos a dançar samba na Mealhada, com um frio de rachar. E bem melhor do que os machões de aldeia que, com inquestionável virilidade, se disfarçam por estes dias de puta fina. Ou do que as pessoas "mais fortes" e "mais idosas", que ainda assim vão exibir com muito orgulho as suas banhas e as suas varizes, num espécie de fato feito à pressa. Sem esquecer os carros alegóricos, com artistas vindas do Brasil ou com elegantes rimas ao poder político. Vendo bem as coisas, até gosto mais dos nossos Santos Populares. Com aquelas roupas, aquelas cores, aquela alegria e aquela música. São portugueses de gema. Somos disto.





A propósito do tema, ler este engraçadíssimo texto.

Música do Dia

"I Love You Just The Way You Are", Barry White

Se não estou em erro a música original é de Billy Joel mas...a Marisa prefere Barry White. É difícil reparar que gosto de clássicos, não é? :p

I could not love you any better

I love you just the way you are.

Depois tens aqueles dias

Depois tens aqueles dias em que te sentes inútil e o mar te enfurece e o sorriso dela, que sempre te recorda o porquê, não te basta.
Olhas-te no espelho e só encontras esse pedaço de carne poroso e oleoso, uns globos embutidos que têm vida própria e a quem não consegues iludir, essa saliência que sopra, um buraco sem fim que debita palavras sem sentido. Detestas ver-te ao espelho. És mesmo tu? Quem é esse outro que te retribui o olhar? Não te reconheces ali.

Fazes caretas, metes a língua de fora, brincas com as sobrancelhas, mas ainda não és tu. Não te vês ali e não te vês em lado nenhum e isso irrita-te profundamente. Depois vais mais longe e falas sozinho. Tão-somente para teres a certeza de que estás só. Não estás maluco, estás apenas tristemente só em frente a um espelho. Repetes a mesma palavra durante um bocado e ela deixa de fazer sentido. Achas sempre engraçado quando isso acontece. Perder o sentido, o significado. O dogma da palavra a tornar-se mistério. A certeza, a realidade e o nome que lhe dás, é então só isso, palavra, entoação, ditongo.
Descobres então que o teu nome também não te pertence e talvez seja por isso que te surpreendes quando ouves o teu nome na boca dela. É tão fascinante a linguagem, a comunicação, esse consenso que torna um som, ideia, Babel, naquilo que tocas e conheces e sabes!

Só pensas parvoíces. A quem interessa isso, o fascínio da linguagem? Todos crescem menos tu. Tu, que tinhas tudo planeado e que ias ser brilhante e diferente. Contigo seriam só conquistas, nenhum medo e nenhum erro, porque tu tens de ser especial, com essa tua mania que ostenta quem sempre almoça nos restaurantes ao Domingo. Contigo ia ser melhor, porque tu eras melhor, exemplar, modelo.

Mas depois tens aqueles dias em que te sentes inútil e o mar te enfurece e o sorriso dela, que sempre te recorda o porquê, não te basta.
Abres as mãos, como quem se apieda da sua própria miséria humana. Abre-las como quem estranha o que vê. O que é isso que se vai mexendo? Ossos e unhas e cartilagens. Falange, falanginha e falangeta. Escandalizas-te. Reparas que as linhas que se evidenciam na palma das tuas mãos estão longe do traçado original. Nelas não descobres qualquer sentido, qualquer rumo ou norte. Talvez seja por isso que te abomina tanto aquelas ladaínhas, aquelas da vocação e do saber-se desde pequeno o que se quer ser. Porque, afinal, tu já és grande e ainda não o sabes.

Olhas-te, insignificante, despojado de sentido, nú, e não percebes a finalidade de ti. Não há nada em que sejas realmente bom ou excepcional. Não tens engenho nem arte que te assomem do fundo, sem hesitação, qual apelo das entranhas da terra. Procuras mas não encontras um dom, uma habilidade ou uma especialidade, e desesperas. Tu és só isso que se vê a olhos nús, que enganaste tudo e todos, mas que (só tu sabes) é vazio.

Sentes-te inútil, o mar te enfurece e o sorriso dela, que sempre te recorda o porquê, não te basta. Mas depois ouves a sua voz, sentes o seu toque, cheiras o seu aroma de intimidade. Ela diz-te que um dia já foste o espermatozóide mais rápido, o melhor. Soltas uma gargalhada e o dia renasce.

Éméché

O amigo Pintossauro, sabedor do meu interesse por certas politiquices, mandou-me este excelente vídeo: Sarkozy, mais habituado a champagne do que a vodka e por isso visivelmente...alegre, digamos, por dias do G8. Pode rir-se Madame Royal!
O dito senhor teve hoje mais um momento de alegria por causa do resultado das legislativas. Parabéns para ele (é muito notório o meu desagrado pela escolha francesa?). Enjoy...


A Beleza da Palavra

Crua e Nua.
Puro e Duro.

Música do Dia

A Portuguesa,

letra de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfredo Keil

Dia de Portugal, de Camões e da Raça






Sobre o dia de hoje ler isto, isto e ainda isto. Subscrevo.

NOTA: Pena hoje não haver jogo da Selecção principal. Certamente, o patriotismo seria outro, nem que à custa do futebol...

Música do Dia

Dave Matthews com o mestre Santana, Love of My Life

...i can't forget the taste of your mouth...

A Ver TV

Ontem à noite tive a certeza: a Tânia Ribas de Oliveira, de quem gosto muito, é uma pessoa magnífica e uma mulher lindíssima, e a Catarina Furtado é a apresentadora mais elegante e com o sorriso mais bonito da nossa televisão.

Música do Dia

I'm your Man, Leonard Cohen

Não encontrei nenhum vídeo melhor senão este :(

Dia Santo




Como bem constata o Irmão Lúcia, a quem pecaminosamente peço a ideia emprestada, hoje é dia de Corpo de Deus...(e lá se vai a minha boa reputação!).


Não se metam com ela!

Paris Hilton foi presa e, se só a simples notícia já dá quase vontade de rir então...vejam o vídeo abaixo, com a já controversa piada da sem-papas-na-língua Sarah Silverman, dita no mtv movie awards.
Para quem não sabe, esta mulher é uma conhecida humorista de stand-up comedy nos EUA, tendo até o seu próprio programa. Para o mais puritano dos espectadores, o seu modo de fazer comédia pode chocar e ser ofensivo, uma vez que tem por costume satirizar Judeus, Negros, católicos, etc, sempre com sexo à mistura e, é claro, muitos palavrões.
Sinceramente, não a entendo como comédia fácil, à Rocha, mas antes como uma exposição, elevada ao extremo e de modo particularmente engraçado, de muitos dos pré-conceitos que as pessoas têm, mas que encobrem no politicamente-correcto.
Não acho é que a Paris, estando presente, tenha achado muita piada (até tive pena dela!)...Ainda assim, achei mais triste o aplauso da audiência - supostos amigos (?) de Paris - (se verem o vídeo completo aqui, nota-se bem a subida dos aplausos) do que propriamente a piada. Enjoy...










E eu sem 100€ para gastar

A Única, que acompanha o Expresso de Sábado passado, deu 100€ a umas quatro ou cinco figuras públicas para gastarem em livros na Feira do Livro.
Fernando Mendes, "o gordo" (como o próprio se intitula) comprou: Especialidades Francesas; Culinária Espanha, Ed. Konemann; 99 Cervejas + 1, de Francisco José Viegas; O Pequeno Ditador, de Javier Urra; e O Prazer de Emagrecer, de Fernando Póvoas.
Sem retirar o mérito aos seus autores (até porque também gosto de Francisco José Viegas), digam-me lá se não é verdade: este mundo é uma injustiça...

Muito me apraz...

Já não me conheces. Será que alguma vez me conheceste sequer? Não sei se quando voltas, a esta terra que ainda é tua, te sentes longe e errante daquilo que és. Não sei se no fundo de ti não troças desta impavidez e ingenuidade, com a certeza de que sabes algo a que eu, pobre ignorante não poderei nunca aspirar. Sempre te soube diferente, especial, destinada a um mundo maior, pintado da cor de cerejas e com um cheiro que se confunde entre o mar daqui, o mar de lá e o rio daí.

Para ti sou só uma estranha. Porventura, vaga recordação dos tempos de escola, onde vestíamos mal mas éramos inocentes e felizes. Ou talvez apenas distraídas. Nunca to disse, mas via-me sempre a competir contigo, a querer superar-te e superar-me. Mas não me lembro de ter conseguido estar vez alguma à tua altura. Acaso, será isso admiração - querer estar à altura de outro e querer ver da maneira que ele vê.

Para mim és ainda e só a Joana de São Martinho. Se não te ver no Verão, quando te dignas descer a este mundo perdido, é provável que me não recorde de ti durante os dias que passam. Tenho sempre mais em que pensar. Acabaste por te tornar uma conhecida quase desconhecida. Mas, alguma vez fomos amigas? E ontem redescobri-te por mero acaso. Pedes para não incomodar, mas...não sabes que tens uma personalidade irresistível e que o fruto proibido é o mais apetecido? Tive então a confirmação. És de facto única, Joana Banana.

Não me tomo por uma pessoa interessante, não gosto de conversas de circunstância ou de convívios forçados, de cortesia. Sou aborrecida, desligada de tudo e de todos, reles e miserável. Não trago em mim histórias fantásticas nem sonhos mirabolantes (se bem que ontem sonhei com a Angelina Jolie e com o Carlos das Desperate Housewives e foi um tanto ou quanto estranho!). Não tenho fanatismos nem traumas psicológicos graves, dignos de arrancar olhares de medo ou de reprovação. Se analisar bem, sei até que a maioria me achará toda certinha. Talvez demais. Desde quando é que os certinhos têm graça? No fundo, sou muito comum. Se calhar como todos.

Mas, da próxima vez que te ver, cara Joana, diz-me "apraz-me assaz" e fala-me da banca do Charneca e eu ouvirei com atenção. É que gostava de te conhecer de novo, sabes?
E a propósito, também me apraz assaz este teu texto e é por isso que o partilho. Enjoy...

"Quero as faquinhas, todas as que tiver por aí. Quero-as na carne mesmo, que já as sinto cravadas lá no fundo de mim. Quero sentir as laminas a cortar, primeiro a pele, para, por momentos, esquecer as que estão nas entranhas mais fundas, num lugar de onde as não posso arrancar. Deixei entrar lentamente este anzol de laminas, engolio-o, peixe burro que sou. Quero cuspi-lo mas não posso. Da goela só verte sangue, vermelho como as nossas cerejas. Trinca-me, anda. Antes perder um pedaço meu na tua boca que ficar inteira e não te sentir nunca."

por JoanaMF

Música do Dia

Por influência do Je Suis Snob, aí vos fica. Enjoy...


Edge of the Ocean, Ivy

There's a place I dream about
Where the sun never goes out.
And the sky is deep and blue
Won't you take me there with you.


Ohhh, we can begin again.
Shed our skin, let the sun shine in.
At the edge of the ocean
We can start over again.


There's a world I've always known
Somewhere far away from home.
When I close my eyes I see
All the space and mystery.


Ohhh, we can begin again.
Shed our skin, let the sun shine in.
At the edge of the ocean
We can start over again.

Esta noite sou dona do céu...

Eu Não Sei Quem Te Perdeu, Pedro Abrunhosa

A-B-C-D

Bué. Ya. Tipo. Cena. Alto parvoíce. Sim, sim. Pois, pois.


Não foi bem assim, mas confirmei hoje, com muita pena, que sou uma pessoa pouco eloquente.
Lá se foi uma excelente oportunidade. Ou, como ela disse na dinâmica de grupo, "o avião já partiu". Em compensação, talvez vá beber uma Bohemia hoje à noite.

4 de Junho de 1989

Massacre de Tiananmen Square