Medo de te encontrar

"(...) Tenho muito medo de te encontrar. Só ou acompanhada, tanto faz. Minto. O ciúme ataca a horas incertas mesmo depois de tudo se dar por acabado. Muito medo de não saber de antemão o que vou sentir, como vai ser, não poder antever o golpe. O medo de todas as palavras ridículas, e todas elas serão ridículas, de todos os gestos desajeitados, e não haverá nenhum que possa reclamar como meu. Medo de ficar a pensar violentamente em ti durante horas, sabe-se lá onde, sem conseguir regressar ao habitual correr do tempo. (...) Tenho tanto medo de te encontrar que mesmo nunca te encontrando estás mais presente do que todos os que vejo girar à minha volta."

Pedro Paixão, Amor Portátil
(virão mais)

E homofóbicos ignorantes também

Tu I

"(...) e então soube, com raiva e delícia, que eras tu, não podias ser senão tu, ias continuar a ser tu, mesmo sem quereres, meu amor, eras tu, tinhas de ser."

Pedro Paixão, Nos Teus Braços Morreríamos

Tu

Não sei quem és tu. Antes de ti, antes de tudo, já existias tu. Quando tu apareceste, senti que também antes eras tu. Então, tu eras tu porque só poderias ser tu. Depois percebi, ou tu mostraste-me, que tu não eras tu, enganei-me. Hoje não sei quem és. És tudo, todos e todas, quem vai ser e já era, imaginário que alimento até se tornar real, na esperança de que tu existas.

Aqui não se pode amar senão deixar-se amar

Vingo com versos os dias em que a tristeza me não deixa fazer nada
e há sempre tanto por fazer escrever um livro ouvir falarem desta poesia
que me é sempre mais estranha do que qualquer outra se dela falo a própria vida
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar
vingo com versos o vento que vai afastando o verão e segue o tempo
e o homem que nunca fui senão a pensar que só vive nestas páginas
traz na mão um ceptro de palavras futuras
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar
mas vingo primeiro as vozes azuis junto à praia onde sonhei poder ter-te
e sei que jamais saberei a verdade que seria desconhecer teu rosto
primeiro moreno depois de todas as cores onde te vi e te quis
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar
e vingo esperar pelo meu amor à porta deste coração que nunca viste
mesmo quando o mar me abraçava e me devorava de beijos e tinhas ciúmes
que hoje todas te retribuirão pelo menos um beijo àqueles que amam
sem que deixem de sentir ciúme desse ciúme mais antigo
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar
vingo quem hoje do belo não tenha um corpo
e abra este livro e me ajude a cravar os versos no teu rosto
julgando esta vida mais estranha do que qualquer outra
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar.

Paulo José Miranda

Investir no futuro (200 euros)

Sobre esta notícia:


"- Como é que está o teu filho?

- Dá 5% ao ano. E o teu?

- Está nos futuros do petróleo. Gosta de arriscar, o rapaz.."

Inês Teotónio Pereira, na Rua Direita


"sou homem para fazer 1800 a 2000 euros por dia."

Rodrigo Moita de Deus, no 31 da Armada

You must understand

Crise dos 25

Não parar de rir ao ver o Fur Tv.

Ossos do ofício

Chamei "headsets" aos auscultadores. Aqui em casa. Pois.

Superman

Gosto de ver os executivos, com fato composto, regressados do trabalho montados na sua potente moto a furar o trânsito.

Pior frase de engate ever

"Posso pagar-te uma água das Pedras?"

I Gotta Feeling

Chega de ficar no silêncio

O silêncio não tem de ser uma réplica pesada da indiferença, muro que não consegues saltar, onde não há escolha ou saída de emergência e sufocas até desapareceres de vez naquilo que carregas dentro e não consegues libertar. O silêncio pode ser também uma decisão consciente de quem tem duas portas e escolha essa porque, não sendo indiferente, sente que todas as palavras se esgotaram. Escolhe sem fechar portas, cala sabendo que consegue e pode falar se assim apetecer. É por isso que há atitudes maiores que palavras e silêncios diferentes entre si: obrigada pela resposta.

Injustiças

Até ela, que não liga a futebol, recebe convites para jogar na outra equipa.

(este blogue poder-se-ia facilmente chamar This is not simply a Trocadilho.)

Fotografias

Por um momento perguntei-me porque é que estou a colocar aqui fotografias pessoais. Depois lembrei-me que o blogue é meu.

25 da Di

Porque, por mais que tente, contigo nunca consigo ter fotografias decentes.

Pick one

No cansaço de insistires nas aparências que não duram, porque nada dura para sempre, quando a verdade se dilui no álcool, confidencias-me, debruçada sobre o balcão, que talvez não devesses ser tão perfeccionista. Depois olhas-me com os teus olhos cansados mas que não perdem nunca o brilho, esperando a minha aprovação e concordância.

A insuficiência que apenas e sempre só tu notas no que outros chamam normalidade atrai-te para conclusões traiçoeiras em que seria menos doloroso acreditar - talvez sejas tu, tu que és exigente, tu que queres mais, tu que não te contentas com relações em lume brando, em que uns dias sim uns dias não (não deixes que te convençam). Talvez o problema sejas tu (não acredites, é uma armadilha).

Vais alternando entre momentos de lucidez que, por vezes, se confundem com intervalos de contentamento e resignação. Ris e choras e às tantas não sabes se ris ou se choras, é sempre assim, não há extremos que não acabem algum dia por se tocar. Quando não aguentas e a tristeza aparece disfarçada como aquele aperto na garganta que te sufoca e faz engasgar, contas-te em confissão. A constante ironia do mundo que te ataca também a ti e um rol de perguntas que vêm desde o início de sermos: aquela que pode ter quem quiser (olha os meus dedos, pick one), não se sente adorada por aquele, único, que tem. Ninguém te disse que seria justo (mas confia).

Queria poder salvar-te, resgatar-te para o meu mundo perfeito mas sabes porém que não te posso levar, mesmo que julgue que ninguém te ama como eu. Não te posso responder, mesmo que desconfie da resposta. Por isso não argumento. Porque sou, na realidade, pior que tu, não cumpro, toco a campainha e desato a correr. Salto mas preciso de pára-quedas, fujo só se souber para onde, tenho mais medo que tu mas apenas disfarço melhor. Mas não duvido que vais descobrir e que eu vou continuar lá. É que há coisas que tens de descobrir sozinha.

Progressos


Aspecto fofinho do meu joelho esquerdo hoje, na altura de troca de penso. O progresso é visível e proporcional ao tamanho da ferida/ penso, ou seja, já falta pouco.

25 da Di: dança

Se não estivesse acordada, diria que estava a sonhar.

Palavras

O que antes te aproximou é agora o mesmo que te afasta.

Aparências

Aparentemente, parece que nem tudo o que parece pode ser. Ou isso ou, na verdade, estamos filosoficamente todos sozinhos.

Também gostava de saber

Quando recebemos um email improvável, seguido de outro, também algo improvável, que pergunta:

"Bom dia Marisa, o que procuras?"

sabemos, desde logo, que hoje o dia vai ser diferente.

Cura

Li e as minhas pulsações não se alteraram. Li e prossegui na leitura dos outros emails. Li e continuo viva.








["Sorte do dia: Por que você não envia um recado hoje para alguém com quem não conversa há anos?" (orkut)]

Alzira

Quando regresso a casa, depois de estar junto a ti, volto sempre num estado raro de paz interior, como quando me confessava e, estranhamente, me sentia leve. Fazes-me bem e fazes-me acreditar. E quando dizes "gosto de ti" eu gosto um pouquinho mais de mim também. Obrigada, por mim e pela Alzira. Encontro-te na Quinta (e não sejas teimosa!).

Tua imaginada,

Helena P.









Porto de abrigo? Não preciso.

Estava sempre rodeada de amigos porque, na realidade, tinha medo de descobrir que estava sozinha.

Provas

Quem julga que tem de provar algo a alguém é porque ainda não provou nada a si próprio.


Coming around again

Sinceridade

A sinceridade às vezes faz doer mas, pelo menos, fica tudo claro.

Definições do Eu


no "Pérola", em Santos

Crimes Passionais

Eu é que sou o alvo das tuas palavras e ela é que se irrita e sonha contigo. Amizade também será isso.

Statham












Antes achei o Ramalhete parecido com o Joaquim de Almeida, ontem achei o Chico parecido com o Jason Statham. A única conclusão possível de retirar daqui: ando a ver demasiados filmes.


Lol

Antes era mais paciente, acredito. Percorria todos os caminhos de conveniência, aqueles que são supostos e esperados, ouvia e calava sem responder, aceitava o não como quem aceita o sim, e esperava, esperava demais. Agora não. Talvez tenha aprendido, talvez não. Talvez seja a idade na urgência de ser, talvez não. O que sei é que agora faço e depois logo se vê como corre, perdi o medo. Por isso ontem perguntei-lhe, sem rodeios, esquemas, jogos demorados. E como resposta obtive um "Lol". Um lol que é como um sorriso que não significa nada e que ainda não sei interpretar, ou que pode ser apenas a maneira socialmente correcta de se dizer "não". Vou tentar descobrir hoje, novamente. Há fins que justificam o grau de paciência.

(Antes, tínhamos estado a listar as piores frases que um homem/mulher pode ouvir durante o acto. Ninguém se lembrou do simples "Lol".)

Moeda de troca

A disponibilidade é uma moeda de troca na conquista difícil: não podes dar se queres receber.

Brecha

No dia todo ele inesperado, ela fez uma centena de quilómetros só para ver aquele sorriso descarado e provocador, baseada num sim com que não contava. Viu então que a mulher destemida e conversadora ficou absolutamente calada enquanto se falava de relações e sentimentos: não seria afinal tão desligada e fria quanto quer transparecer.

E então ela, que chegou a casa quando o sol raiava só para poder ter visto aquele sorriso descarado e provocador, dormiu cansada mas feliz. Havia uma brecha.

Comportamento Padrão

Num dia que foi todo ele inesperado enviou-me uma mensagem de manhã, por uma rede social, com uma única indicação: "ligue-me" e o seu número de telefone. Preocupada, liguei de imediato. E, afinal, não era nada preocupante - o senhor estava em Portugal e, considerando a oportunidade, gostaria de me ver e saber de mim. Aceitei o convite como agradável surpresa, feliz por saber que há pessoas que realmente vale a pena conhecer, e cujo conteúdo não se restringe a outros tempos.

Quando os convites se começaram a suceder, para café, para conversa, para casa, com um tom claro e directo, achei engraçado e surpreendente mas inapropriado. Quem brinca com o fogo, queima-se. Prolonguei até onde consegui sem ser mal-educada e, quando redondamente lhe disse não, apressou-se a dizer-se inocente, tudo era sem pressupostos e sem pecado, como pudera eu pensar outra coisa. Então fez-se difícil e, na altura do café acordado, avisou que já estava pronto mas que ia para casa, cansado para conversas.

Podia até ter um cargo importante numa organização mundial mas era afinal tão igual quanto todos os outros.

Ler o Orkut como quem lê o Horóscopo

"Sorte de hoje: Cuidado com o que você diz; entre aqueles que não dizem nada, poucos são os que ficam em silêncio."

Mais apropriado seria impossível.

3 Happy Friends

São 6h20 da manhã e estamos as 3 sem sono, sentadas no sofá a conversar e rir, enquanto o dia nasce lá fora. E sabe tão bem.

Simples e fácil I

Lust (I'm curious because)

She thinks, I'm telling him who I am. He's interested in who I am. That is true, but I'm curious about who she is because I want to fuck her. I don't need all of this great interest in Kafka and Vélazquez. Having this conversation with her, I am thinking, How much more am I going to have to go through? Three hours? Four? Will I go as far as eight hours? Twenty minutes into the veiling and already I'm wondering, What does any of this have to do with her tits and her skin and how she carries herself? The French art of being flirtatious is of no interest to me. The savage urge is. No, this is not seduction. This is comedy. It is not the connection - that cannot begin to compete with the connection - created unartificially by lust. This is the instant conventionalizing, the giving us something in common on the spot, the trying to transform lust into something socially appropriate. Yet it's radical innappropriateness that makes lust lust.

Animal Moribundo, Philip Roth

(via De Olhos Bem Fechados)

Simples e fácil

Diz-me o que procuras que eu ajudo-te a descobrir. Pergunta-me o que queres saber que eu tento responder-te. Estou aqui.

Chamar(-te) Amor

Nunca to disse porque não era suposto, porque havia expectativas a cumprir e que eu não queria defraudar. Antes de ti nunca chamei "amor" a ninguém. Pelo contrário, irritava-me ouvi-lo nas bocas de casalinhos-apaixonadinhos cutxi-cutxi (sempre os diminutivos, não fofos mas fofinhos, obviamente), pior até se fosse "amorzinho". Quando te chamei "amor" a primeira vez senti-me a vacilar e entrar em território desconhecido. Antes de ti nunca chamei "amor" a ninguém. Depois habituei-me, gostei, chamava-te orgulhosamente e sem precisar de razões "amor", por tudo e por nada "amor". Meu. Quase me esqueci do teu nome, passaste a ser apenas "amor", nos meus chamados, nas minhas rezas, nas vezes em que gritei de dor ou prazer, eras apenas e só tu, "amor". Chegaste até a reclamar comigo por te chamar "amor" em público, e então eu começava "a..." e tu olhavas-me e eu chamava o teu nome, no seguimento do "a" e sorria enquanto me corrigia. Agora não te chamo mais, mas instintivamente, como ontem, quando vejo inesperada a tua fotografia, na minha cabeça solta-se "amor", como se não houvesse outro nome para ti senão aquele. Para mim, o teu nome próprio há muito tempo é "amor". É que, antes de ti, nunca chamei "amor" a ninguém.


Wonderland

O café é mágico, o minimercado é pingo de mel, e há uma empresa chamada "Lar Doce Lar" com o lettering da Disney. Quase me poderia sentir uma Alice no País das Maravilhas.




(a aguardar por 2010)

Nhu Santiagu (artistas da festa)

PIKENAS DI BARRONHUS; PONTO FINAL; GRUPO DE DANÇA DE ODIVELAS; SANDI SANTOS; PINGUIM; BATUKE DE ODIVELAS; DJERSON; KAKALU; SANKOF; NÓS SABURA; BATUKE DE ASSOMADA; TA KAI TA RABIDA; NÓS TRADISON; FEREMENTA; DDC; BATUKE DE CARCAVELOS; JAKELINE; RATCHA BAI; MISS AFRICANA; STRELA DÁFRICA; BATUKE STRELA DI BELA VISTA; TONI FICA; CM DIÁSPORA; BALI PENA; MIL MANOS; DANNIS; JUKA


Este vai ser um fim-de-semana bastante animado, parece-me. E agora estou indecisa entre as Pikenas di Barronhus e a Miss Africana.

Viver numa zona mágica









Além do "Café Mágico", hoje vai haver "Pura Magia".


Um dia vai ficar perfeito até lá tudo parece

Lixo, lixo, lixo. Ou, como sempre, isto, só isto. Nunca nada mais.

Deixo-te por ti

Não queria que fosse assim. Não precisava de ser assim, sabes? Eu nunca te prometi nada, não gosto de promessas, com medo de não as conseguir cumprir. Não te queria ver assim, a chorar e a odiar-me. Mas tu já sabias que isto não tinha futuro. Avisaram-te, até eu te avisei. Não te queria magoar, o problema não és tu sou eu, eu não te mereço, mereces alguém melhor que eu - tudo aquelas frases que os filhos da puta cobardes usam e que eu tenho de te dizer também, do mais fundo daquilo que tento ser, mas que, no meu caso, são verdade. Mas tu não consegues acreditar. Não foi por causa dela, não penses, não te martirizes com isso. Ela é o pretexto que arranjei para me convencer que já não te amo, um falso artifício necessário. Faço-o por ti. Deixo-te por ti.

Autárquicas








Gostava de poder votar em Oeiras, meu "segundo" concelho.


(Isabel Meirelles)

Dias (e noites) inesperados








The L Word não é apenas ficção. O que se passa é que não é fácil conseguir a atenção do elenco.

(Papi)

Profundamente, rente à pele

Pensava que não virias mais. Antes aterrorizava-me com essa simples, e porém não surpreendente, hipótese. Sei que mais tarde ou mais cedo vai de ter acontecer, é só uma questão de tempo até quando já nem na tua memória subsistir. É estranho, estranhamente estranho, mas a ideia já não sufoca. Primeiro notei, noto sempre quando não paira no ar o perfume doce do teu cabelo que sempre me extasia de vontade. Depois comentei, assim, sem drama maior ou mágoa: haveria de chegar o dia. Estava preparada para que partisses sem mais recado, aviso ou adeus. Já houve tantos, antes e o fim nunca sabes quando é. Seria o momento.

Mas depois ouvi uns barulhos no fundo da casa, senti um cheiro que não sei esquecer por muito que tente e vi que eras tu. E sorri por te encontrar. Se me desses o tempo que fugiu contigo, pegar-te-ia pela mão, sem maldade ou pecado, íamos de pés descalços para uma praia vazia com areia fria a lamber os pés inventar histórias rebuscadas de final feliz, pedir-te-ia conselhos porque tu sempre tens um plano - como se conquista quem nos diz com orgulho que não tem portos de abrigo porque não precisa? - e derrubava-te ao chão com uma rasteira quando estivesses distraída a olhar o mar. Irias então reclamar e rir-te em simultâneo, por muito irritada não consegues não rir da minha ousadia infantil. E vou então olhar-te fundo nos olhos, profundamente, rente à pele, e vou sorrir por continuares aí.





"Te olho nos olhos e você reclama
Que te olho muito profundamente.

Desculpa,
Tudo que vivi foi profundamente...
Eu te ensinei quem sou...
E você foi me tirando...
Os espaços entre os abraços,
Guarda-me apenas uma fresta.

Eu que sempre fui livre,
Não importava o que os outros dissessem.

Até onde posso ir para te resgatar?

Reclama de mim, como se houvesse a possibilidade...
De me inventar de novo.

Desculpa...se te olho profundamente,
Rente à pele...
A ponto de ver seus ancestrais...
Nos seus traços.

A ponto de ver a estrada...
Muito antes dos seus passos.

Eu não vou separar as minhas vitórias
Dos meus fracassos!

Eu não vou renunciar a mim;

Nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser
Vibrante, errante, sujo, livre, quente.

Eu quero estar viva e permanecer
Te olhando profundamente."

Lost in Translation


Let's never come here again because it will never be as much fun.

Essas Pessoas (Preconceitos)

Epistemologia Aplicada

Tinha uma teoria que poderia explicar tudo, a tal diferença de uns serem de Marte e outros de Vénus ou de outros planetas quaisquer. Segundo ela, tudo residia numa questão temporal e paralela nas relações entre os seres: enquanto elas primeiro acham piada, depois gostam e só depois amam, eles vivem no inverso, primeiro amam e fazem loucuras, depois gostam e finalmente começam apenas a achar piada. Para corroborar esta hipótese científica, ou não, tem feito o sacrifício de a experimentar como cobaia e, considerando a dimensão da amostra e a intensidade óbvia e notória dos resultados comuns, pode hoje afirmar-se com razão, tem uma teoria. Procura agora alguém apto tal que, amorosa e prazerosamente, a refute.

Teclados (diferenças entre uma optimista e uma pessimista)

Uma faria delete em partes da sua vida. A outra faria enter.

A importância da capa (ou: os livros têm género?)


Olhou a capa e concluiu que não era livro para se oferecer a um homem: ele não gosta de rosa.

Portela


Nunca tinha ido à Portela. Além do aspecto verde, colorido e simpático que não esperava, o que mais me surpreendeu foi a arquitectura da sua Igreja (católica, imagine-se), totalmente imponente e singular. Quase me senti noutro País. Não tive tempo para poder sequer olhá-la com atenção mas acho que vou lá voltar, com calma, só para poder conhecer o seu interior.

Coisa Feia, a Inveja

(Friends, com sexo)

Enquanto estava na fila para comprar o DVD de "Coupling" (Ligações, em Português), o casal à minha frente gastou pouco mais de 231 Euros em DVDs e livros.

Orgulhos e Exibicionismos

Hoje de manhã descobri que existia uma livraria em Lisboa, em saldos, a vender bons títulos por 1 Euro (Orvil, no CC da Portela). Depois de 30 minutos para chegar à outra ponta da segunda circular e outros 30 minutos para descobrir onde ficava o centro comercial, acho que valeu muito a pena:

- "Os Pastores da Noite", de Jorge Amado, Publicações Europa-América;
- "Espaço do Invisível 5", de Vergílio Ferreira, Bertrand Editora;
- "Um Requiem Português", de Mafalda Ivo Cruz, Editorial Presença;
- "Noites Antigas", de Norman Mailer, Publicações Europa-América;
- "Jardim de Inverno", de Zélia Gattai, Publicações Europa-América.

Invenções


Coisinhas boas que se descobrem em livrarias como a Ler Devagar.

Os livros mudam vidas


Publicidade da Livraria Pocho (Uruguai), via Vísceras Literárias

Se por acaso



Se por acaso me vires por aí
Disfarça, finge não ver
Diz que não pode ser, diz que morri
Num acidente qualquer
Conta o quanto quiseste fazer
Exalta a tua versão
Depois suspira e diz que esquecer
É a tua profissão

E ouve-se ao fundo uma linda canção
De paz e amor
Se por acaso me vires por aí
Vamos tomar um café
Diz qualquer coisa, telefona, enfim
Eu ainda moro na Sé
Encaixotei uns papeis e não sei
Se hei-de deitar tudo fora
Tenho uma série de cartas para ti
Todas de uma tal de Dora

E ouvem-se ao fundo canções tão banais
De paz e amor
Se eu por acaso te vir por aí
Passo sem sequer te ver
Naturalmente que já te esqueci
E tenho mais que fazer
Quero que saibas que cago no amor
Acho que fui sempre assim
Espero que encontres tudo o que quiseres
E vás para longe de mim

E ouve-se ao fundo uma velha canção
De paz e amor
Na sexta-feira acho que te vi
À frente da Brasileira
Era na certa o teu terno azul
E a pasta em tons de madeira
O Tó talvez queira te conhecer
Nunca falei mal de ti
A vida passa e era bom saber
Que estás em forma e feliz

E ouve-se ao fundo uma triste canção
De paz e amor.

Buffy vs God

The other supreme merit of fandoms is that, as a general rule, they do not take themselves too seriously.

No The Guardian

Fim de dia

Espreguiçar no sofá, vento suave a massajar-me os pés cansados e a sala a escurecer ao som de JPSimões. A paz vem sempre das pequenas coisas.

Calor (demasiado)

Sacrifício

Como presente de aniversário que não pedi, mas que achaste ser o adequado, deste-te em sacrifício: desapareceste.

Acabar

Nunca hás-de saber quando acabou, acaba sempre muito antes de ter acabado, quando estás distraído e não dás por nada e depois acaba e perguntas porquê. E, mesmo quando acaba, quando te diz que acabou, nem nessa hora é o fim. Só acaba mais tarde, quando o seu nome deixar de sangrar em ti, não sabes quando, estás distraído a tentar sobreviver. E só então acaba realmente, nem antes de acabar nem depois de acabar. Acaba quando acaba. E depois ficas atento. É sempre assim. Acabou.

Cemitério

Não gostas de cemitérios, não dos nossos, cinzentos e frios, disformes e irregulares conforme a riqueza de cada um, ao pó tornarás mas cada um ao seu pó, desfile de campas e estátuas variadas conforme o género e a inclinação religiosa do morto, vaidades dos que ficam e que acham sempre que a deles, dos parentes deles, são as mais bonitas, sítios onde se finge que as pessoas não morreram e onde importa ser notado porque há obrigações morais que tens de cumprir para não parecer mal-visto, há flores a embelezar e a renovar, há dias a comparecer, há o preto de luto a que não podes fugir, toda uma hipocrisía na materialização da morte que te enoja. É por isso que não gostas de ir a cemitérios, não precisas.

Demasiada Paciência

O espaço era pequeno e estava demasiado calor de gente, sobretudo para eles que até eram pessoas pacatas e que não gostavam de multidões. Furaram entre os adolescentes de cabelo grande, pele queimada e de imperial na mão e dirigiram-se directamente ao balcão. Ele, mais bem posicionado na frente, pediu dois cafés e um Jameson e entregou à rapariga que o servia os dois cartões de consumo correspondentes, onde esta registou, separadamente, os cafés.

Segundos depois, a mulher que o acompanhava olhou os registos separados e ralhou-lhe, em tom de humilhação, pois que ele deveria ter entregue apenas um dos cartões onde seriam registados os dois cafés conjuntamente. Ela não se incomodava com o tom de voz com que lhe falava, quase gritando-lhe que, para aquele trabalho, para a próxima era ela a pedir. Os outros homens que o rodeavam ao balcão, criaturas por natureza de balcão de café e garrafas de minis, olharam-no pelo canto do olho pois não o queriam envergonhar mais, a ele que já estava envergonhado nos seus 30 e poucos anos de menino submisso e conformado. Esses que o rodeavam suspenderam as conversas, embora ao fundo continuassem os gritos de rock ao vivo. Haveria entre eles um qualquer pacto ancestral e viril pelo que, mesmo que acometidos de piedade por aquele homem, tentaram disfarçar qualquer cumplicidade maior que o silêncio que se gerou em volta, invisível.

Quando a rapariga que o servia trouxe os dois cafés pedidos, ela irritou-se ainda mais e falou-lhe com desprezo - como era possível que ele ainda não soubesse que ela só bebe café com adoçante e não com açúcar?! Qualquer acusação óbvia de inutilidade era ali escusada mesmo que vontade na garganta da mulher não faltasse para lhe chamar inútil. Então ele só responde calma, eu peço adoçante. E quando o adoçante veio e eles os dois se afastaram, os homens que o rodeavam baixaram a cabeça sem dizer mais nada. Há realmente homens com muita paciência para algumas mulheres.

Cisnes em família

Sabemos que a nossa família não é normal quando ontem, depois do jantar, todos prendemos um lençol de banho entre os dentes e competimos para ver quem faz o melhor cisne (daqueles que se colocam, em forma de coração, sob as camas de hotéis), a nova habilidade que os meus progenitores aprenderam no recente destino de férias pelo que, orgulhosamente, fazem questão de a demonstrar. Já dizia alguém que todas as famílias são normais até as conhecermos.

Coffee and TV

Ser Português

"O Senhor Palomar não sabe o que é ser patriota, porque viu muito disparate feito ao abrigo de um valor, à partida, tão nobre. Mas está seguro que gosta de Portugal e dos portugueses, sobretudo das portuguesas. Abre o jornal e por vezes fica entristecido com algumas das coisas que vê. Mas também sabe que se algumas das coisas não fossem daquela forma, Portugal não seria Portugal. Desapareceria o napperon por cima da televisão e a unha maior no dedo mindinho. Milhares de homens de Alfama cortariam o bigode e queimariam as camisolas de cava. Miguel Sousa Tavares escreveria romances completos, o Estádio da Luz ficaria vazio e milhares de comerciantes com roulottes do courato e da imperial em copos de plástico iriam à falência, o que, em caso algum, seria bom para a economia. É certo que já não é o tempo do garrafão de cinco litros que se leva para a praia, mas o português continua a surpreender."

Da Sensualidade

"É mais sensual uma mulher vestida do que uma mulher despida. A sensualidade é o intervalo entre a luva e o começo da manga."

António Lobo Antunes

Monólogos







Já ia com elevadas expectativas em relação à peça e a São José Correia mas todas se superaram. E, se antes já desconfiava, agora fiquei com a certeza absoluta de que São José Correia é a mulher mais sensual de Portugal. (wow!) E agora vão ver, que está quase a sair de cena.

The Chemicals Between Us

Apropriado, como sempre

"Envelhecer não é tão ruim quando se pensa nas alternativas."

hoje, no Orkut

What women want (dicas)

The following are the ten best ways to woo her:

1 - Cover her eyes and lead her to a lovely surprise
2 - Whisk her away somewhere exciting for the weekend
3 - Write a song or poem about her
4 - Tell her that she is the most wonderful woman you have ever met
5 - Run her a relaxing bath after she has had a bad day at work
6 - Send her a romantic text or email, or leave a loving note around the house
7 - Wake her up with breakfast in bed
8 - Offer her a coat when she is cold
9 - Send her a bouquet of flowers, or a box of chocolates at work
10 - Make her a compilation of her favourite music

segundo o Telegraph

Eyes Wide Shut

Masked ball descends into orgy.

Telegraph

Diário (de uma killer) sentimental

Este blogue parece-se cada vez mais com um diário sentimental.

Freud explica

Sonhei contigo mas não sei porquê, sobretudo, agora. Freud há-de explicar. De qualquer forma, sempre te preferi nos sonhos, quando me apareces sem dificuldade sem precisar de te chamar. À conta de já te ter pensado tanto, quando te evoco as linhas do teu rosto aparecem desiguais, trabalho-te o olhar e o sorriso só para te ter como te quero, para sorrires e esse sorriso ser para mim. A imaginação e a memória são selectivas e pouco humildes e, por não terem limites, nem sempre são de confiança. Mas, nos sonhos, apareces verdadeira e real, livre do meu poder, espontânea em carne e alma, consigo até ouvir a tua voz. É por isso que te prefiro nos sonhos. Às vezes dói, pois não te controlo, mas pelo menos és de facto tu.

Estavas, acompanhada pela E. em minha casa ou, diga-se correctamente, na casa dos meus pais. A casa estava em obras de remodelação e havia mais gente, amigos meus, lá em casa. Eu dormia no quarto que é dos meus pais. Tu e a E. dormiram num quarto com duas camas que, na realidade, não existe naquela casa. Quando acordaram foram dar os bons-dias ao outro quarto, onde eu já estava acordada, e saíram para tomar banho.

Não trocaram qualquer espécie de carinho na minha frente, o que supus tratar-se de uma atitude de misericórdia ou puro respeito pela anfitreã. Estavam na minha frente com uma naturalidade indiferente e espontânea e lembro-me que a Lena me olhava com incredulidade, incentivando-me a falar contigo. Mas não falamos mais do que o necessário. Quando posteriormente me desloquei à casa-de-banho senti uma vergonha enorme e, rapidamente, constatei que o terão comentado entre vós - estava suja e com o cimo das paredes cobertas de um bolor escuro e nojento. Mas vocês não disseram nada.

Estranhei durante toda a manhã a vossa seriedade e o frio dos afectos mas não me atrevi a comentar. Depois desceram as duas o entulho que antes eram escadas, uma atrás da outra, distantes, enquanto eu te olhava obsessivamente da varanda. Freud há-de saber explicar.

I'm blue today

(S)He's Just Not That Into You: obviamente

Eu é que estou com passo lento e dolorido e ela é que pergunta se o jantar pode ficar para outro dia.

Coisas que só acontecem aos 25: Lei de Murphy

Como não me faltava mais nada, hoje, quando cheguei do Centro de Saúde, tinha o carro bloqueado. Além de ter esquecido o telemóvel em casa, o que me obrigou a procurar a pé o escritório dos senhores da Parques Tejo, tive de desembolsar na hora 60 Euros.

Coisas que só acontecem aos 25: comédia

Se não me doessem tanto os joelhos, diria que se tinha tratado de uma comédia.

Coisas que só acontecem aos 25: a ironia I

Ninguém queria chegar tarde do jantar a casa porque na Quarta também se trabalhava: deitamo-nos depois das 2h30 da manhã.

Coisas que só acontecem aos 25: a cumplicidade


Antes companheiras de casa, agora também companheiras de dor.

Coisas que só acontecem aos 25: o depois



Vanessa: de baixa até ao final do mês;
Marisa: trocar penso, diariamente, no Centro de Saúde.

Coisas que só acontecem aos 25: a diversão dos seguranças

Acho que todo o hospital São Francisco Xavier, sobretudo os seguranças, acharam que nós éramos umas alcoolizadas que tinham caído em qualquer lado. Note-se que ainda estavamos com os vestidos do jantar.

Coisas que só acontecem aos 25: a ironia

A forte Marisa, vendo o esforço de dor da amiga, voluntaria-se para levar a Vanessa ao colo até ao carro. Consegue durante uns bons metros sem dificuldade até que torce o pé e caem as duas no meio do chão. Destruo totalmente ambos os joelhos e volto para cima, com fios de sangue até aos pés, para colocar um mísero penso (de tamanho padrão, que obviamente não cobriu nada).

A ironia da situação é que:
a) em vez de ajudar, atrapalhei;
b) quando estava com as sandálias altas, de festa, não caí, escorreguei ou tropecei. Porém, torci o pé com as sandálias normais, que uso diariamente.

Coisas que só acontecem aos 25: o começo

Chegamos, sento-me no sofá da sala, oiço um estrondo: na pressa de ir beber água a Vanessa parte o dedo mindinho do pé e, em gemidos de visível sofrimento, não se levanta do chão do corredor. Antes de a levarmos ao hospital, ainda pede para lhe darmos água pois está cheia de sede.

25: Memórias de noite inesquecível




- a surpresa da presença da Di;
- a surpresa da massagem total;
- a surpresa d' "Os Monólogos da Vagina";
- a certeza de ter os melhores amigos do mundo.

Hoje, na Lx Factory: Frevo


Vou estar por lá. Se souberem onde procurar, talvez ainda haja uma fatia de bolo de aniversário.

25

É um número demasiado redondo. E agora também é meu.

Ao andar faz-se o caminho

Caminhante, são teus rastos
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar.

António Machado

E

Apaixona-se facilmente, tão facilmente que, se não acordasse todos os dias apaixonada, certamente se irritaria consigo mesma. Elabora suposições precipitadas, explora sinais ínfimos, confunde hipóteses, amplia até o imaginado se tornar real. Ainda não sabe o que é isto, o mais provável é não ser nada, mas ela vai ousar e depois descobre. Vai escolher o restaurante com a melhor vista, tocar-lhe lenta e propositadamente na mão para não restarem dúvidas, e vai pedir-lhe aquele presente porque fez anos e porque aquela exclusividade tem de ser paga e porque será um pretexto consensualmente aceite. Vai então beijar o sinal descarado que tem sobre a boca e.

Make love to you

Via na Palavra um afrodisíaco que utilizava conforme a necessidade e a ocasião. Dizia que o Inglês era a língua da paixão, a dos amantes de cinema a preto e branco onde sempre existe uma cena de dança a culminar em beijos lentos. Por isso tinha muito o hábito de lhe falar em Inglês, quando estavam na cama. Antes disso, no jogo demorado da sedução, tratava-a no pronome "você", argumentando que esse distanciamento de desconhecidos carregava a sensualidade da impessoalidade, cada dia uma nova conquista e uma nova personagem, você sabe como é. Primeiro ela achou caricato, ridículo até, mas nunca lhe disse o que pensava. Depois, habituou-se, gostou, entranhou. Trocavam provocações simples, aparentemente simples, mas de duplo sentido, sempre com você. Quando ele não lhe resistia mais, mordiscava-lhe violento a orelha e dizia: I want to make love to you.

Era porventura das expressões que mais gostava de usar, make love to you. Não o português 'fazer amor com', como se fosse trabalho de equipa e estivessem, de facto, a cozinhar amor, qual refeição instantânea de fácil preparação. Como se se pudesse fazer amor. No máximo faria um filho porque ele não ia fazer amor com ninguém e é aí que, para ele, reside toda a beleza daquela pequenina palavra tão completa: to, to you. Porque o que ele queria mesmo era fazer-lhe, nela, a ela, para ela, amor. Um acto altruísta de quem se dá em esforço e vontade para a ver sorrir no final, com aquele sinal por cima da boca que a haveria de diferenciar para sempre de qualquer outra mulher com quem ele pudesse dormir um dia. E então ele fez-lhe amor e, quando terminou, disse, cansado - assim você deixa-me louco.

As fotografias nunca tiradas

Até dá para chorar com tanto arrependimento

É tanta graça

(S)He's Just Not That Into You: ironias

Ver um filme sobre sinais na esperança de os compreender.

Como estás?

Não poderias adivinhar mas volto a ver-te. Mostro-lhes o filme e apetece-me apontar-lhes a tua imagem que enche o ecrã mas, envergonhada, não o faço. Como estás? Tanto tempo já. É curioso o que quase sempre acontece: quando vou verificar as visitas geralmente és a última pessoa que por aqui passou. Como agora, por exemplo. E pergunto-te se não seria mais fácil se me falasses, pois assim poder-te-ia contar o que nem aqui escrevo, poderia abraçar-te em palavras e em carinho, falar-te sem intervalos e ouvir-te sem ciúmes. Falar-me-ás daqui a dias? Seria uma surpresa que não espero já, confesso. Gosto que continues por aí apesar de tudo, como se a cuidar de mim, anjo omnipresente que não consigo tocar mas de quem sinto o perfume quente.
O filme acabou com um final menos feliz para a tua personagem mas não é a ela que me apetece reconfortar, mãos vagarosas a passear no negro dos teus cabelos, a tua cabeça pousada no meu colo. É a ti. Tanto tempo já. Como estás?


Vai-se andando

Sente-se a viver em stand-by, está à espera e não sabe de quê. Vai vivendo, mas só mesmo isso, aquele vai-se andando que é o mesmo que o vai-se indo e que os velhos sempre respondem. Ela também vai andando, mesmo sem saber para onde ou porquê, embora com a secreta expectativa de que tem de haver mais, tem de. Deverá estar escondido, a aguardar o tempo ideal, aquele em que ela deixe de esperar de tanto cansaço e se deixe assim surpreender. Aparecerá quando ela já não precisar, quando entender que afinal não faz falta, nunca fez.

Mas ela é teimosa e acredita naquelas coisas estranhas, dos esoterismos, superstições e conjunturas cósmicas que se reúnem em conspiração, por isso, quando olha as Luas cheias, quando reza, quando uma pestana lhe cai, ela pede sempre o mesmo desejo: que lhe aconteça algo de extraordinário. Tão simples, não é? Algo de extraordinário. Não o Euromilhões, não o amor de uma vida, não a saúde dos seus ou a vida eterna. Ela pede algo de extraordinário porque está cansada do comum, do stand-by, da normalidade dos dias. Mas talvez por o extraordinário abarcar tantas possibilidades, o universo anda atarefadamente indeciso em lhe proporcionar uma, aquela que a trará para a verdadeira vida. Ela é tão bem-comportada, tão boa menina, que só poderá ser essa a razão, supõe. Até lá continua a andar, vai-se andando.

Cute faces


O homem da direita é só outro qualquer mas a mulher da esquerda é uma mistura de Katie Holmes com Drew Barrymore.

Aprenda algo hoje* (she's just not that into you)

Hoje aprendi que a disponibilidade é algo que tem de ser oferecido com peso e medida, quase como se de uma conquista se tratasse. Aprendi que, mesmo não sendo adepta de jogos de acção e consequência, às vezes eles são necessários para atingirmos os fins esperados. Aprendi que para a sombra correr atrás de nós não podemos correr atrás dela. Acho que aprendi uma lição valiosa. Vamos agora ver se dá frutos. Porque, afinal, quem espera sempre alcança ou...desespera.

(* minha 'sorte do dia' de hoje, no Orkut)

Constatações

Carcavelos é a praia mais brasileira de Portugal.

Mondo Bongo

Depilação

A arte da gestão da dor.

Ser Baunilha

(Killing me softly)

Ser baunilha soa assim a coisa fofinha-cutxi-cutxi. Talvez seja preferível algo diferente mas sem roçar o excêntrico, assim como chocolate com morango e um pouquinho de chantilly.


Gozar bem as sete vidas

"A curiosidade matou o gato, mas só à oitava vez. Antes, o gato divertiu-se muito."

na Time Out desta semana

It's called life

'It's called "life," John. Activities available; just add meaning.'

A Beautiful Mind

Lirismo de sofá I (fingir a dor)

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

F. Pessoa

Lirismo de sofá

Este texto é bastante pertinente. Pensei-o muito depois de ler mas prefiro não opinar demasiado. Às vezes é preferível apenas ouvir até porque ter opinião implica conhecer, fundamentar, concluir, e também estar comprometido e defender, optar no fundo, o que, aliás, de pouco adianta porque, na generalidade dos casos, todos têm quase sempre razão.

Mas não podia deixar de o referir porque algumas coisas não se calavam cá dentro - a do ler estar na moda, a de ser mais fácil encarnar personagens, e a do lirismo de sofá, expressão por si só brilhante e que se auto-denuncia. E também a derradeira - porque se explora tanto o sofrimento, com ou sem recurso aos Russos, ao ponto deste quase ser exaltado como virtude?

Não sei se ler está, de facto, na moda. Mas, estando, haverá mal nisso? Há uns anos atrás li Paulo Coelho, Margarida Rebelo Pinto, dois ou três livros de Nicholas Sparks até e, embora todos os referidos se encaixem na apelidada categoria "light" (costumo chamar-lhes 'livros de auto-ajuda'), não me envergonho de dizer que os li, uma vez que talvez por esse mesmo motivo aprendi gradualmente a ser mais selectiva na escolha daquilo que leio actualmente. O ler por ler ou ler para se dizer que lê parece-me sempre algo inevitável numa sociedade de aparência e uniformidade (o espírito de rebanho) de que ninguém se quer sentir excluído. Até mesmo o recurso constante a citações poderá ser entendido como um 'disfarce de vacuidade sob a forma de pseudo-intelectualidade' (copyright da Luna) ou um certo exibicionismo ignorante e limitado (como quando indico no blog os livros que vou comprando) mas, ainda assim, é um risco que a maioria corre na esperança de que poucos descubram a fraude que somos. E acredito que, no meio de tanta insistência de parecer ou ler sem critério maior do que a capa dos livros, alguma coisa decente e positiva há-de resistir e quiçá a moda vira vício e a aparência vira realidade. Valha-nos isso.

Não há dúvida de que encarnar e explorar de outros ângulos o que já está feito é mais simples e também mais preguiçoso mas, criar algo novo numa altura em que todos já tentaram tudo assoma quase como tarefa impossível, creio eu, que disso nada sei. A chamada escrita criativa já nada cria, apenas repete de outras maneiras moldáveis, iludindo assim aqueles que ainda acreditam. As palavras que há não chegam e, mesmo que mais houvessem ainda assim não chegariam porque são todas vazias e isoladas. Mas são só as minhas teorias.

E depois há esse lirismo de sofá, que não vive mas quer viver, que se apropria de emoções universais e particulares como suas, que mergulha no sonho e, acordado, ainda não percebeu que acordou. Um querer tudo de todas as maneiras à Álvaro de Campos e o exagero das sensações imaginárias na tentativa vã de as tornar reais e intensas, mantendo os rendilhados (im)perfeitos e o cantar dos rouxinóis. Pobres sonhadores, não de espírito que o têm, mas da vida que almejam ter.

Finalmente, e daí derivado, o sofrimento dignificado a condição superior. E então calo-me porque não sei mais que dizer, porque olho em retrospectiva para mim e para os conteúdos deste blog e reparo que escrevi bem mais em períodos de sofrimento do que naqueles de felicidade e não sei explicar isso. Talvez entretida a viver? Não sei se existem estatísticas comparativas sobre o processo de escrita e o estado emocional do escritor (e não, obviamente não me coloco a esse nível, apenas uma observação!) mas seria interessante poder analisar. Sofrer, seja real ou fingido, estará também na moda? Talvez porque as vidas cor-de-rosa não são tão interessantes ou talvez porque às vezes basta meter um tiro nos miolos para se ser acolhido na crítica. Ou até porque se sofre mesmo e dói e a dor não sabe parar mesmo que se implore. Toda a gente tem uma ligeira obsessão com o sofrimento alheio e é por isso que sempre que há acidentes há uma dúzia de mirones entusiasmados, parece-me. E em que medida é que quem sofre se pode saciar em ter público e assim explorar até ao estado mais depressivo possível a sua dor? Não sei explicar mas a resposta deve estar algures entre o telejornal da noite e as novelas da TVI.

Mas, isto sou só eu aqui a debitar hipóteses que, como se pode ver, o meu lirismo também é só este, o do sofá em que estou deitada a escrever isto, até porque a mais não tenho pretensões.

(e, Margarida, não é sarcasmo ou ironia, é a verdade: li e vi-me.)

Boas programações...

Desloquei-me propositadamente ao Castelo de São Jorge para ir ver e ouvir Bernardo Sassetti e Mário Laginha. Fiz malabarismos extraordinários com o carro (estou cada vez melhor a estacionar) para ir ver e ouvir Bernardo Sassetti e Mário Laginha. Quando passo o Arco do Castelo vejo uma pequena multidão parada e desiludida, à porta. Parece que ninguém se lembrou de escrever em lado algum que o concerto estava sujeito a determinada lotação do espaço. Assim não vale a pena, mesmo que seja para ver e ouvir Bernardo Sassetti e Mário Laginha.

Bacana

Disseram que têm de mim uma imagem "bacana". Isso é bom ou é mau?

Mistérios Insondáveis da Natureza

Como podem uns olhos doces como os teus verter lágrimas salgadas?

What you see is what you get

Depois das confusões, das conclusões precipitadas e das esperas vazias, pergunta em remissão e em vontade: "vens aqui, agora, hoje, na minha companhia?". E, quando me apresso a responder um "sim", ansiado e redondo de certeza, desafia-me dizendo "eu já sabia que sim". Mais tarde haveria de dizer com confiança que sabe que, noutra ocasião, noutro tempo, noutra vida, eu lhe compraria tudo o que me vendesse sem dificuldade. Não me explica se é por causa da segurança exarcebada nos seus dotes comerciais, se concluiu que sou uma daquelas potenciais clientes emocionais e impulsivas, ou se já percebeu que me tenho demorado a olhar-lhe nos olhos quando me fala e depois me pisca o olho, quando o silêncio cobre o espaço que separa os corpos.

Geralmente sempre fui o lado da força, bruta num jeito diluído de ser, passo lento mas determinado numa súbtil e disfarçada imposição nos outros. Não estou por isso habituada a lidar com alguém assim e luto até para não me deixar intimidar. A tua doçura era mais imediata, a pureza do teu coração era tão notória que sobressaía no peito, um jeito comedido nas palavras e nos gestos, o teu sorriso envergonhado que desabrochava aos poucos, porcelana fina e frágil que eu queria proteger com cuidado. Agora é diferente, é algo novo, um jeito que vou aprendendo mas que ainda não sei.

A confiança é um afrodisíaco, não tenho dúvidas. E terá sido por isso que hoje sonhei com um rosto que não era o teu, com um cheiro que não era o teu, com um corpo que não era o teu, com um prazer que já foi nosso. Há muito tempo que não sonhava assim e, quando acordei e reparei que não eras tu, vi que algo mudou.

Creio que não é ainda quem espero mas há em si um magnetismo que me puxa, me cativa e me prende em encantamento. E, quando a sua tia perguntar de mim, só irá responder "não. amiga" e não me vou importar porque o que eu quero agora é descobrir o outro lado.

Porque mesmo que me diga que what you see is what you get, eu tenho a certeza de que há mais, talvez escondido, contido, reservado para quem o merecer, mas há mais. Um outro lado onde a extroversão acalma, onde a fragilidade existe sem vergonha, onde também se pode dar haver medo. Porque acredito que naquela fortaleza, descontracção e segurança, há alguém que só quer dormir em braços que serenem quando vê filmes de terror, festinhas no cabelo que levem para os sonhos bons e partilhados. Porque sei que quem abraça também precisa de abraços e de se aninhar livremente num corpo quente que nos chama. Porque mesmo quem sempre protegeu também precisa por vezes de ser protegido, também quer ter quem lhe afaste as lágrimas salgadas ocasionais em beijos ternos nos olhos doces. Porque geralmente quem ama muito também só quer ser amado, mesmo quando dá a ilusão de ser independente e totalmente seguro de si.

E então poderei dizer-lhe "eu já sabia que sim".

She's just not that into you IV (tríades)

Entre o comer-dormir-f* nosso e o fumar-beber-f* delas, prefiro o primeiro.

She's just not that into you III

Falei-lhe da agricultura: primeiro ficou estupefacta, depois ficou tão entusiasmada que me atrevo a dizer que considerou uma actividade excêntrica.

Tempo ao tempo

"É preciso dar tempo ao tempo, dizias tu, e eu não gostava nada. Dar tempo ao tempo? Já reparaste o tempo que o tempo demora a passar, não achas que é mais do que suficiente? Porque é que queres dar mais tempo ao tempo? Achas que ele precisa de ajuda? E eu? Tu achas que eu não preciso de ajuda e já? Sim, já.

Tu não sabes nada. Não faz mal. Eu não mereço nada."

Pedro Paixão, Histórias Verdadeiras

Não vai ser surpresa

Por um momento apetece-me acreditar que mais não é do que uma daquelas cenas à cinema, em que todos dizem que não podem, que não têm dinheiro, que vão viajar, que não podem tirar folga, mil e uma desculpas e, no final, era surpresa. Porém, sei que a vida, mesmo que seja num número redondo, não é como o cinema e isso começa a entristecer-me.

Observações



Ontem descobri que o Ramalhete é a combinação do Joaquim de Almeida com o João Pedro Pais.

Isto não acaba assim

É insuportável ter de recorrer ao passado para te poder tocar.

Paulo Rodrigues Ferreira

Smile

Encantada

Nada me traz de novo para tão perto de ti como ouvir as particularidades que são também tuas. Oiço "charme", "porta" e "nossa!", na boca de quem só agora conheço, e fico desde logo encantada.

Lx Factory

Apaixonei-me pela Ler Devagar. Sou uma pessoa feliz.

Elogios

Disseram que sou "suave", seja lá o que isso quer dizer.

Mais do que apenas adeus

talvez nos tenhamos abandonado
mesmo antes de termos motivos para tal. medo? não sei
vou deixar também isso a flutuar na minha cabeça
e esperar que algum dia perceba que tudo se passou noutro corpo
noutro lugar
num tempo muito diferente do nosso.


A.S.

Leiam, por favor leiam tudo.

She's just not that into you II

"Girls are taught a lot of stuff growing up. If a guy punches you he likes you. Never try to trim your own bangs and someday you will meet a wonderful guy and get your very own happy ending. Every movie we see, Every story we're told implores us to wait for it, the third act twist, the unexpected declaration of love, the exception to the rule. But sometimes we're so focused on finding our happy ending we don't learn how to read the signs. How to tell from the ones who want us and the ones who don't, the ones who will stay and the ones who will leave. And maybe a happy ending doesn't include a guy, maybe... it's you, on your own, picking up the pieces and starting over, freeing yourself up for something better in the future. Maybe the happy ending is... just... moving on. Or maybe the happy ending is this, knowing after all the unreturned phone calls, broken-hearts, through the blunders and misread signals, through all the pain and embarrassment you never gave up hope."

Gigi, He's just not that into you

She's just not that into you I

She's just not that into you

Nash: I find you attractive. Your aggressive moves toward me... indicate that you feel the same way. But still, ritual requires that we continue with a number of platonic activities... before we have sex. I am proceeding with these activities, but in point of actual fact, all I really want to do is have intercourse with you as soon as possible.
[pause]
Nash: Are you gonna slap me now?

A Beautiful Mind



Menti quando te disse que sou paciente. Não sou.

(ab)Usar-te

Andava para te dizer mas depois vieste com aquela conversa de não te poderes afastar nem que para teres a certeza de que estou bem e, fiquei tanto tempo a pensar nisso, que acabei por me esquecer de te dizer. De qualquer modo não é assim muito importante, acho que não ficarias chateada só por causa de uma coisa insignificante como esta. Eu sei que não ficaria. A verdade é que te tenho usado, ainda e apesar de tudo. Não faço por mal mas a verdade é que continuas ainda a ser o meu objecto preferido.

Uso-te quando quero parecer um homem sensível. Elas contam a história do cãozinho abandonado que adoptaram e eu que, tu sabes, não reajo a esse tipo de coisas, chamo o teu nome na minha memória, a beleza do teu rosto com aquelas covinhas que nunca mais encontrei em nenhuma mulher, e assim fico logo com aquele brilhozinho nos olhos. É instantâneo, não perguntes porquê, que nem eu sei. Elas vêem e acham-me sensível. E tu bem sabes como aumentam as nossas possibilidades no papel de homem sensível, é por isso que sei que compreendes. Compreendes, certo?

Uso-te também muitas vezes para as beijar. Não digas que é estranho, não é nada estranho. Lembro-me de como me beijavas a orelha, a tua língua atrevida aí, e faço-lhes o mesmo. Parece que, se quisesses, poderias também incendiar uma mulher. Tem dado resultado comigo.

Isto já é um pouco mais vergonhoso de contar mas, como somos só eu e tu e está já tudo tão resolvido e sem volta, não me importo de contar também: também te uso naquelas alturas. Sim, essas. Quando falta pouco e o esforço delas não basta gosto de te imaginar naquela posição que tu sabes que era a minha preferida. És o meu último recurso e, cada vez tem acontecido mais, não sei o que se passa comigo.

Tenho-te usado na escrita igualmente. Construo os meus textos à tua volta ou daquilo que me deixaste e finjo que tudo é novo, criação de mente sempre apaixonada. Eles, coitados, acreditam e é por isso que os livros continuam a vender. Se soubessem que exististe de facto, que existes aliás, seria mais complicado - é sempre mais fácil quando tudo se aplica a todos.

Não me vais levar a mal, pois não? Se reparares bem, é tudo inocente. Ando a viver à tua conta, a usar-te e abusar-te, mas não me venhas com psicologias baratas só por causa disto. Sei muito bem o que isto é e o que não é. Tenho lá a culpa se continuo a precisar de ti deste modo?

Tereza e Karenine (do amor incondicional dos cães)

"Do caos confuso destas ideias, nasce no espírito de Tereza um pensamento blasfemo de que não consegue livrar-se: o amor que a une a Karenine é melhor do que o amor que existe entre ela e Tomas. Melhor, e não maior. Tereza não quer culpar nenhum dos dois, nem Tomas nem ela, não quer dizer que eles poderiam amar-se mais. Parece-lhe é que o casal humano foi criado de tal forma que o amor do homem e da mulher é a priori de uma natureza inferior àquela que pode ter (pelo menos na melhor das suas variantes) o amor entre o homem e o cão, essa estranha coisa da história do homem que o Criador certamente não previu.

É um amor desinteressado: Tereza não quer nada de Karenine. Nem sequer exige que ele a ame. Nunca se atormentou com as perguntas que torturam os homens e as mulheres: Gostará ele de mim? Já terá amado alguém mais do que me ama a mim? Amar-me-á mais do que eu o amo? Todas essas interrogações que questionam o amor, que o medem, o perscrutam, o inspeccionam, não se arriscarão a matá-lo na casca? Se somos incapazes de amar, talvez seja por desejarmos ser amados, ou seja, por querermos alguma coisa do outro (o seu amor), em vez de chegarmos junto dele sem reinvindicações e não querermos senão a sua simples presença.

E ainda há mais uma coisa: Tereza aceitou Karenine tal e qual como ele é, não tentou modificá-lo, deu a sua anuência prévia ao seu universo de cão, não quer confiscar-lho, não tem ciúmes das suas tendências secretas. Se o educou, não foi com a intenção de modificá-lo (como um homem quer sempre modificar a sua mulher e uma mulher o seu homem), mas simplesmente para lhe ensinar a língua elementar que havia de permitir-lhes compreenderem-se e viverem os dois juntos.

E também: o seu amor pelo cão é um amor voluntário, ninguém a obrigou a isso. (Tereza pensa uma vez mais na mãe, e tem muita pena dela: se a mãe fosse uma daquelas desconhecidas da aldeia, talvez a sua jovial grosseria lhe parecesse simpática! Ah! se ao menos a mãe fosse uma estranha! (...))

Mas sobretudo, nenhum ser humano pode presentear outro com um idílio. Só o animal pode fazê-lo porque não foi expulso do Paraíso. O amor entre o homem e o cão é idílico. É um amor sem conflitos, sem cenas dilacerantes, sem evolução."

A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera

Ubaldo Ribeiro e Lobo Antunes



Exportação (moda)

"Estou a pensar ir-me embora para o Brasil." Miguel Sousa Tavares

"Sousa Tavares no Brasil? Até pode ir para Marte." José Saramago

Desafios (something new)

- És sempre assim tão difícil?
- Sempre.

Não consigo resistir a bons desafios.

Escrever

Escrever não é isto, nunca poderia ser. Isto é só umas coisas que saem como vómitos, e só de vez em quando, não chega para nada, nem para uma frase decente. Se fosse só isso de ser todo o mundo numa pessoa seria porventura mais simples, mas é pouco. Escrever é arrancar o que está à superfície e espreitar lá por baixo, forçar o que é profundo e enterrado e nadar nisso sem morrer. Escaranfunchar até doer, extrair tudo o que há de pesado em ti e não restar nada que não o vazio. É por isso que não escrevo e nunca poderia escrever. Nem sequer o sei fazer e, além disso, já me dói demais sem escrever.