Medo de te encontrar
(virão mais)
Tu I
Tu
Aqui não se pode amar senão deixar-se amar
e há sempre tanto por fazer escrever um livro ouvir falarem desta poesia
que me é sempre mais estranha do que qualquer outra se dela falo a própria vida
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar
vingo com versos o vento que vai afastando o verão e segue o tempo
e o homem que nunca fui senão a pensar que só vive nestas páginas
traz na mão um ceptro de palavras futuras
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar
mas vingo primeiro as vozes azuis junto à praia onde sonhei poder ter-te
e sei que jamais saberei a verdade que seria desconhecer teu rosto
primeiro moreno depois de todas as cores onde te vi e te quis
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar
e vingo esperar pelo meu amor à porta deste coração que nunca viste
mesmo quando o mar me abraçava e me devorava de beijos e tinhas ciúmes
que hoje todas te retribuirão pelo menos um beijo àqueles que amam
sem que deixem de sentir ciúme desse ciúme mais antigo
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar
vingo quem hoje do belo não tenha um corpo
e abra este livro e me ajude a cravar os versos no teu rosto
julgando esta vida mais estranha do que qualquer outra
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar.
Paulo José Miranda
Investir no futuro (200 euros)
"- Como é que está o teu filho?
- Dá 5% ao ano. E o teu?
- Está nos futuros do petróleo. Gosta de arriscar, o rapaz.."
Inês Teotónio Pereira, na Rua Direita
"sou homem para fazer 1800 a 2000 euros por dia."
Rodrigo Moita de Deus, no 31 da Armada
Superman
Chega de ficar no silêncio
Injustiças
(este blogue poder-se-ia facilmente chamar This is not simply a Trocadilho.)
Fotografias
Pick one
A insuficiência que apenas e sempre só tu notas no que outros chamam normalidade atrai-te para conclusões traiçoeiras em que seria menos doloroso acreditar - talvez sejas tu, tu que és exigente, tu que queres mais, tu que não te contentas com relações em lume brando, em que uns dias sim uns dias não (não deixes que te convençam). Talvez o problema sejas tu (não acredites, é uma armadilha).
Vais alternando entre momentos de lucidez que, por vezes, se confundem com intervalos de contentamento e resignação. Ris e choras e às tantas não sabes se ris ou se choras, é sempre assim, não há extremos que não acabem algum dia por se tocar. Quando não aguentas e a tristeza aparece disfarçada como aquele aperto na garganta que te sufoca e faz engasgar, contas-te em confissão. A constante ironia do mundo que te ataca também a ti e um rol de perguntas que vêm desde o início de sermos: aquela que pode ter quem quiser (olha os meus dedos, pick one), não se sente adorada por aquele, único, que tem. Ninguém te disse que seria justo (mas confia).
Queria poder salvar-te, resgatar-te para o meu mundo perfeito mas sabes porém que não te posso levar, mesmo que julgue que ninguém te ama como eu. Não te posso responder, mesmo que desconfie da resposta. Por isso não argumento. Porque sou, na realidade, pior que tu, não cumpro, toco a campainha e desato a correr. Salto mas preciso de pára-quedas, fujo só se souber para onde, tenho mais medo que tu mas apenas disfarço melhor. Mas não duvido que vais descobrir e que eu vou continuar lá. É que há coisas que tens de descobrir sozinha.
Progressos
Aparências
Também gostava de saber
"Bom dia Marisa, o que procuras?"
sabemos, desde logo, que hoje o dia vai ser diferente.
Cura
Alzira
Porto de abrigo? Não preciso.
Crimes Passionais
Statham
Lol
(Antes, tínhamos estado a listar as piores frases que um homem/mulher pode ouvir durante o acto. Ninguém se lembrou do simples "Lol".)
Moeda de troca
Brecha
E então ela, que chegou a casa quando o sol raiava só para poder ter visto aquele sorriso descarado e provocador, dormiu cansada mas feliz. Havia uma brecha.
Comportamento Padrão
Quando os convites se começaram a suceder, para café, para conversa, para casa, com um tom claro e directo, achei engraçado e surpreendente mas inapropriado. Quem brinca com o fogo, queima-se. Prolonguei até onde consegui sem ser mal-educada e, quando redondamente lhe disse não, apressou-se a dizer-se inocente, tudo era sem pressupostos e sem pecado, como pudera eu pensar outra coisa. Então fez-se difícil e, na altura do café acordado, avisou que já estava pronto mas que ia para casa, cansado para conversas.
Podia até ter um cargo importante numa organização mundial mas era afinal tão igual quanto todos os outros.
Ler o Orkut como quem lê o Horóscopo
Mais apropriado seria impossível.
3 Happy Friends
Lust (I'm curious because)
She thinks, I'm telling him who I am. He's interested in who I am. That is true, but I'm curious about who she is because I want to fuck her. I don't need all of this great interest in Kafka and Vélazquez. Having this conversation with her, I am thinking, How much more am I going to have to go through? Three hours? Four? Will I go as far as eight hours? Twenty minutes into the veiling and already I'm wondering, What does any of this have to do with her tits and her skin and how she carries herself? The French art of being flirtatious is of no interest to me. The savage urge is. No, this is not seduction. This is comedy. It is not the connection - that cannot begin to compete with the connection - created unartificially by lust. This is the instant conventionalizing, the giving us something in common on the spot, the trying to transform lust into something socially appropriate. Yet it's radical innappropriateness that makes lust lust.
Animal Moribundo, Philip Roth
Simples e fácil
Chamar(-te) Amor
Wonderland
(a aguardar por 2010)
Nhu Santiagu (artistas da festa)
Este vai ser um fim-de-semana bastante animado, parece-me. E agora estou indecisa entre as Pikenas di Barronhus e a Miss Africana.
Um dia vai ficar perfeito até lá tudo parece
Deixo-te por ti
Dias (e noites) inesperados
Profundamente, rente à pele
Mas depois ouvi uns barulhos no fundo da casa, senti um cheiro que não sei esquecer por muito que tente e vi que eras tu. E sorri por te encontrar. Se me desses o tempo que fugiu contigo, pegar-te-ia pela mão, sem maldade ou pecado, íamos de pés descalços para uma praia vazia com areia fria a lamber os pés inventar histórias rebuscadas de final feliz, pedir-te-ia conselhos porque tu sempre tens um plano - como se conquista quem nos diz com orgulho que não tem portos de abrigo porque não precisa? - e derrubava-te ao chão com uma rasteira quando estivesses distraída a olhar o mar. Irias então reclamar e rir-te em simultâneo, por muito irritada não consegues não rir da minha ousadia infantil. E vou então olhar-te fundo nos olhos, profundamente, rente à pele, e vou sorrir por continuares aí.
"Te olho nos olhos e você reclama
Que te olho muito profundamente.
Desculpa,
Tudo que vivi foi profundamente...
Eu te ensinei quem sou...
E você foi me tirando...
Os espaços entre os abraços,
Guarda-me apenas uma fresta.
Eu que sempre fui livre,
Não importava o que os outros dissessem.
Até onde posso ir para te resgatar?
Reclama de mim, como se houvesse a possibilidade...
De me inventar de novo.
Desculpa...se te olho profundamente,
Rente à pele...
A ponto de ver seus ancestrais...
Nos seus traços.
A ponto de ver a estrada...
Muito antes dos seus passos.
Eu não vou separar as minhas vitórias
Dos meus fracassos!
Eu não vou renunciar a mim;
Nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser
Vibrante, errante, sujo, livre, quente.
Eu quero estar viva e permanecer
Te olhando profundamente."
Epistemologia Aplicada
Teclados (diferenças entre uma optimista e uma pessimista)
Portela
Coisa Feia, a Inveja
Orgulhos e Exibicionismos
- "Os Pastores da Noite", de Jorge Amado, Publicações Europa-América;
- "Espaço do Invisível 5", de Vergílio Ferreira, Bertrand Editora;
- "Um Requiem Português", de Mafalda Ivo Cruz, Editorial Presença;
- "Noites Antigas", de Norman Mailer, Publicações Europa-América;
- "Jardim de Inverno", de Zélia Gattai, Publicações Europa-América.
Se por acaso
Se por acaso me vires por aí
Disfarça, finge não ver
Diz que não pode ser, diz que morri
Num acidente qualquer
Conta o quanto quiseste fazer
Exalta a tua versão
Depois suspira e diz que esquecer
É a tua profissão
E ouve-se ao fundo uma linda canção
De paz e amor
Se por acaso me vires por aí
Vamos tomar um café
Diz qualquer coisa, telefona, enfim
Eu ainda moro na Sé
Encaixotei uns papeis e não sei
Se hei-de deitar tudo fora
Tenho uma série de cartas para ti
Todas de uma tal de Dora
E ouvem-se ao fundo canções tão banais
De paz e amor
Se eu por acaso te vir por aí
Passo sem sequer te ver
Naturalmente que já te esqueci
E tenho mais que fazer
Quero que saibas que cago no amor
Acho que fui sempre assim
Espero que encontres tudo o que quiseres
E vás para longe de mim
E ouve-se ao fundo uma velha canção
De paz e amor
Na sexta-feira acho que te vi
À frente da Brasileira
Era na certa o teu terno azul
E a pasta em tons de madeira
O Tó talvez queira te conhecer
Nunca falei mal de ti
A vida passa e era bom saber
Que estás em forma e feliz
E ouve-se ao fundo uma triste canção
De paz e amor.
Fim de dia
Sacrifício
Acabar
Cemitério
Demasiada Paciência
Segundos depois, a mulher que o acompanhava olhou os registos separados e ralhou-lhe, em tom de humilhação, pois que ele deveria ter entregue apenas um dos cartões onde seriam registados os dois cafés conjuntamente. Ela não se incomodava com o tom de voz com que lhe falava, quase gritando-lhe que, para aquele trabalho, para a próxima era ela a pedir. Os outros homens que o rodeavam ao balcão, criaturas por natureza de balcão de café e garrafas de minis, olharam-no pelo canto do olho pois não o queriam envergonhar mais, a ele que já estava envergonhado nos seus 30 e poucos anos de menino submisso e conformado. Esses que o rodeavam suspenderam as conversas, embora ao fundo continuassem os gritos de rock ao vivo. Haveria entre eles um qualquer pacto ancestral e viril pelo que, mesmo que acometidos de piedade por aquele homem, tentaram disfarçar qualquer cumplicidade maior que o silêncio que se gerou em volta, invisível.
Quando a rapariga que o servia trouxe os dois cafés pedidos, ela irritou-se ainda mais e falou-lhe com desprezo - como era possível que ele ainda não soubesse que ela só bebe café com adoçante e não com açúcar?! Qualquer acusação óbvia de inutilidade era ali escusada mesmo que vontade na garganta da mulher não faltasse para lhe chamar inútil. Então ele só responde calma, eu peço adoçante. E quando o adoçante veio e eles os dois se afastaram, os homens que o rodeavam baixaram a cabeça sem dizer mais nada. Há realmente homens com muita paciência para algumas mulheres.
Cisnes em família
Ser Português
Da Sensualidade
António Lobo Antunes
Monólogos
What women want (dicas)
1 - Cover her eyes and lead her to a lovely surprise
2 - Whisk her away somewhere exciting for the weekend
3 - Write a song or poem about her
4 - Tell her that she is the most wonderful woman you have ever met
5 - Run her a relaxing bath after she has had a bad day at work
6 - Send her a romantic text or email, or leave a loving note around the house
7 - Wake her up with breakfast in bed
8 - Offer her a coat when she is cold
9 - Send her a bouquet of flowers, or a box of chocolates at work
10 - Make her a compilation of her favourite music
segundo o Telegraph
Freud explica
Estavas, acompanhada pela E. em minha casa ou, diga-se correctamente, na casa dos meus pais. A casa estava em obras de remodelação e havia mais gente, amigos meus, lá em casa. Eu dormia no quarto que é dos meus pais. Tu e a E. dormiram num quarto com duas camas que, na realidade, não existe naquela casa. Quando acordaram foram dar os bons-dias ao outro quarto, onde eu já estava acordada, e saíram para tomar banho.
Não trocaram qualquer espécie de carinho na minha frente, o que supus tratar-se de uma atitude de misericórdia ou puro respeito pela anfitreã. Estavam na minha frente com uma naturalidade indiferente e espontânea e lembro-me que a Lena me olhava com incredulidade, incentivando-me a falar contigo. Mas não falamos mais do que o necessário. Quando posteriormente me desloquei à casa-de-banho senti uma vergonha enorme e, rapidamente, constatei que o terão comentado entre vós - estava suja e com o cimo das paredes cobertas de um bolor escuro e nojento. Mas vocês não disseram nada.
Estranhei durante toda a manhã a vossa seriedade e o frio dos afectos mas não me atrevi a comentar. Depois desceram as duas o entulho que antes eram escadas, uma atrás da outra, distantes, enquanto eu te olhava obsessivamente da varanda. Freud há-de saber explicar.
(S)He's Just Not That Into You: obviamente
Coisas que só acontecem aos 25: Lei de Murphy
Coisas que só acontecem aos 25: comédia
Coisas que só acontecem aos 25: a ironia I
Coisas que só acontecem aos 25: a diversão dos seguranças
Coisas que só acontecem aos 25: a ironia
A ironia da situação é que:
a) em vez de ajudar, atrapalhei;
b) quando estava com as sandálias altas, de festa, não caí, escorreguei ou tropecei. Porém, torci o pé com as sandálias normais, que uso diariamente.
Coisas que só acontecem aos 25: o começo
25: Memórias de noite inesquecível
Ao andar faz-se o caminho
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar.
António Machado
E
Make love to you
Era porventura das expressões que mais gostava de usar, make love to you. Não o português 'fazer amor com', como se fosse trabalho de equipa e estivessem, de facto, a cozinhar amor, qual refeição instantânea de fácil preparação. Como se se pudesse fazer amor. No máximo faria um filho porque ele não ia fazer amor com ninguém e é aí que, para ele, reside toda a beleza daquela pequenina palavra tão completa: to, to you. Porque o que ele queria mesmo era fazer-lhe, nela, a ela, para ela, amor. Um acto altruísta de quem se dá em esforço e vontade para a ver sorrir no final, com aquele sinal por cima da boca que a haveria de diferenciar para sempre de qualquer outra mulher com quem ele pudesse dormir um dia. E então ele fez-lhe amor e, quando terminou, disse, cansado - assim você deixa-me louco.
Como estás?
Vai-se andando
Mas ela é teimosa e acredita naquelas coisas estranhas, dos esoterismos, superstições e conjunturas cósmicas que se reúnem em conspiração, por isso, quando olha as Luas cheias, quando reza, quando uma pestana lhe cai, ela pede sempre o mesmo desejo: que lhe aconteça algo de extraordinário. Tão simples, não é? Algo de extraordinário. Não o Euromilhões, não o amor de uma vida, não a saúde dos seus ou a vida eterna. Ela pede algo de extraordinário porque está cansada do comum, do stand-by, da normalidade dos dias. Mas talvez por o extraordinário abarcar tantas possibilidades, o universo anda atarefadamente indeciso em lhe proporcionar uma, aquela que a trará para a verdadeira vida. Ela é tão bem-comportada, tão boa menina, que só poderá ser essa a razão, supõe. Até lá continua a andar, vai-se andando.
Cute faces
Aprenda algo hoje* (she's just not that into you)
(* minha 'sorte do dia' de hoje, no Orkut)
Ser Baunilha
Gozar bem as sete vidas
It's called life
A Beautiful Mind
Lirismo de sofá I (fingir a dor)
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
F. Pessoa
Lirismo de sofá
Mas não podia deixar de o referir porque algumas coisas não se calavam cá dentro - a do ler estar na moda, a de ser mais fácil encarnar personagens, e a do lirismo de sofá, expressão por si só brilhante e que se auto-denuncia. E também a derradeira - porque se explora tanto o sofrimento, com ou sem recurso aos Russos, ao ponto deste quase ser exaltado como virtude?
Não sei se ler está, de facto, na moda. Mas, estando, haverá mal nisso? Há uns anos atrás li Paulo Coelho, Margarida Rebelo Pinto, dois ou três livros de Nicholas Sparks até e, embora todos os referidos se encaixem na apelidada categoria "light" (costumo chamar-lhes 'livros de auto-ajuda'), não me envergonho de dizer que os li, uma vez que talvez por esse mesmo motivo aprendi gradualmente a ser mais selectiva na escolha daquilo que leio actualmente. O ler por ler ou ler para se dizer que lê parece-me sempre algo inevitável numa sociedade de aparência e uniformidade (o espírito de rebanho) de que ninguém se quer sentir excluído. Até mesmo o recurso constante a citações poderá ser entendido como um 'disfarce de vacuidade sob a forma de pseudo-intelectualidade' (copyright da Luna) ou um certo exibicionismo ignorante e limitado (como quando indico no blog os livros que vou comprando) mas, ainda assim, é um risco que a maioria corre na esperança de que poucos descubram a fraude que somos. E acredito que, no meio de tanta insistência de parecer ou ler sem critério maior do que a capa dos livros, alguma coisa decente e positiva há-de resistir e quiçá a moda vira vício e a aparência vira realidade. Valha-nos isso.
Não há dúvida de que encarnar e explorar de outros ângulos o que já está feito é mais simples e também mais preguiçoso mas, criar algo novo numa altura em que todos já tentaram tudo assoma quase como tarefa impossível, creio eu, que disso nada sei. A chamada escrita criativa já nada cria, apenas repete de outras maneiras moldáveis, iludindo assim aqueles que ainda acreditam. As palavras que há não chegam e, mesmo que mais houvessem ainda assim não chegariam porque são todas vazias e isoladas. Mas são só as minhas teorias.
E depois há esse lirismo de sofá, que não vive mas quer viver, que se apropria de emoções universais e particulares como suas, que mergulha no sonho e, acordado, ainda não percebeu que acordou. Um querer tudo de todas as maneiras à Álvaro de Campos e o exagero das sensações imaginárias na tentativa vã de as tornar reais e intensas, mantendo os rendilhados (im)perfeitos e o cantar dos rouxinóis. Pobres sonhadores, não de espírito que o têm, mas da vida que almejam ter.
Finalmente, e daí derivado, o sofrimento dignificado a condição superior. E então calo-me porque não sei mais que dizer, porque olho em retrospectiva para mim e para os conteúdos deste blog e reparo que escrevi bem mais em períodos de sofrimento do que naqueles de felicidade e não sei explicar isso. Talvez entretida a viver? Não sei se existem estatísticas comparativas sobre o processo de escrita e o estado emocional do escritor (e não, obviamente não me coloco a esse nível, apenas uma observação!) mas seria interessante poder analisar. Sofrer, seja real ou fingido, estará também na moda? Talvez porque as vidas cor-de-rosa não são tão interessantes ou talvez porque às vezes basta meter um tiro nos miolos para se ser acolhido na crítica. Ou até porque se sofre mesmo e dói e a dor não sabe parar mesmo que se implore. Toda a gente tem uma ligeira obsessão com o sofrimento alheio e é por isso que sempre que há acidentes há uma dúzia de mirones entusiasmados, parece-me. E em que medida é que quem sofre se pode saciar em ter público e assim explorar até ao estado mais depressivo possível a sua dor? Não sei explicar mas a resposta deve estar algures entre o telejornal da noite e as novelas da TVI.
Mas, isto sou só eu aqui a debitar hipóteses que, como se pode ver, o meu lirismo também é só este, o do sofá em que estou deitada a escrever isto, até porque a mais não tenho pretensões.
(e, Margarida, não é sarcasmo ou ironia, é a verdade: li e vi-me.)
Boas programações...
What you see is what you get
Geralmente sempre fui o lado da força, bruta num jeito diluído de ser, passo lento mas determinado numa súbtil e disfarçada imposição nos outros. Não estou por isso habituada a lidar com alguém assim e luto até para não me deixar intimidar. A tua doçura era mais imediata, a pureza do teu coração era tão notória que sobressaía no peito, um jeito comedido nas palavras e nos gestos, o teu sorriso envergonhado que desabrochava aos poucos, porcelana fina e frágil que eu queria proteger com cuidado. Agora é diferente, é algo novo, um jeito que vou aprendendo mas que ainda não sei.
A confiança é um afrodisíaco, não tenho dúvidas. E terá sido por isso que hoje sonhei com um rosto que não era o teu, com um cheiro que não era o teu, com um corpo que não era o teu, com um prazer que já foi nosso. Há muito tempo que não sonhava assim e, quando acordei e reparei que não eras tu, vi que algo mudou.
Creio que não é ainda quem espero mas há em si um magnetismo que me puxa, me cativa e me prende em encantamento. E, quando a sua tia perguntar de mim, só irá responder "não. amiga" e não me vou importar porque o que eu quero agora é descobrir o outro lado.
Porque mesmo que me diga que what you see is what you get, eu tenho a certeza de que há mais, talvez escondido, contido, reservado para quem o merecer, mas há mais. Um outro lado onde a extroversão acalma, onde a fragilidade existe sem vergonha, onde também se pode dar haver medo. Porque acredito que naquela fortaleza, descontracção e segurança, há alguém que só quer dormir em braços que serenem quando vê filmes de terror, festinhas no cabelo que levem para os sonhos bons e partilhados. Porque sei que quem abraça também precisa de abraços e de se aninhar livremente num corpo quente que nos chama. Porque mesmo quem sempre protegeu também precisa por vezes de ser protegido, também quer ter quem lhe afaste as lágrimas salgadas ocasionais em beijos ternos nos olhos doces. Porque geralmente quem ama muito também só quer ser amado, mesmo quando dá a ilusão de ser independente e totalmente seguro de si.
E então poderei dizer-lhe "eu já sabia que sim".
She's just not that into you IV (tríades)
She's just not that into you III
Tempo ao tempo
Tu não sabes nada. Não faz mal. Eu não mereço nada."
Não vai ser surpresa
Encantada
She's just not that into you II
Gigi, He's just not that into you
She's just not that into you
[pause]
Nash: Are you gonna slap me now?
A Beautiful Mind
Menti quando te disse que sou paciente. Não sou.
(ab)Usar-te
Uso-te quando quero parecer um homem sensível. Elas contam a história do cãozinho abandonado que adoptaram e eu que, tu sabes, não reajo a esse tipo de coisas, chamo o teu nome na minha memória, a beleza do teu rosto com aquelas covinhas que nunca mais encontrei em nenhuma mulher, e assim fico logo com aquele brilhozinho nos olhos. É instantâneo, não perguntes porquê, que nem eu sei. Elas vêem e acham-me sensível. E tu bem sabes como aumentam as nossas possibilidades no papel de homem sensível, é por isso que sei que compreendes. Compreendes, certo?
Uso-te também muitas vezes para as beijar. Não digas que é estranho, não é nada estranho. Lembro-me de como me beijavas a orelha, a tua língua atrevida aí, e faço-lhes o mesmo. Parece que, se quisesses, poderias também incendiar uma mulher. Tem dado resultado comigo.
Isto já é um pouco mais vergonhoso de contar mas, como somos só eu e tu e está já tudo tão resolvido e sem volta, não me importo de contar também: também te uso naquelas alturas. Sim, essas. Quando falta pouco e o esforço delas não basta gosto de te imaginar naquela posição que tu sabes que era a minha preferida. És o meu último recurso e, cada vez tem acontecido mais, não sei o que se passa comigo.
Tenho-te usado na escrita igualmente. Construo os meus textos à tua volta ou daquilo que me deixaste e finjo que tudo é novo, criação de mente sempre apaixonada. Eles, coitados, acreditam e é por isso que os livros continuam a vender. Se soubessem que exististe de facto, que existes aliás, seria mais complicado - é sempre mais fácil quando tudo se aplica a todos.
Não me vais levar a mal, pois não? Se reparares bem, é tudo inocente. Ando a viver à tua conta, a usar-te e abusar-te, mas não me venhas com psicologias baratas só por causa disto. Sei muito bem o que isto é e o que não é. Tenho lá a culpa se continuo a precisar de ti deste modo?
Tereza e Karenine (do amor incondicional dos cães)
É um amor desinteressado: Tereza não quer nada de Karenine. Nem sequer exige que ele a ame. Nunca se atormentou com as perguntas que torturam os homens e as mulheres: Gostará ele de mim? Já terá amado alguém mais do que me ama a mim? Amar-me-á mais do que eu o amo? Todas essas interrogações que questionam o amor, que o medem, o perscrutam, o inspeccionam, não se arriscarão a matá-lo na casca? Se somos incapazes de amar, talvez seja por desejarmos ser amados, ou seja, por querermos alguma coisa do outro (o seu amor), em vez de chegarmos junto dele sem reinvindicações e não querermos senão a sua simples presença.
E ainda há mais uma coisa: Tereza aceitou Karenine tal e qual como ele é, não tentou modificá-lo, deu a sua anuência prévia ao seu universo de cão, não quer confiscar-lho, não tem ciúmes das suas tendências secretas. Se o educou, não foi com a intenção de modificá-lo (como um homem quer sempre modificar a sua mulher e uma mulher o seu homem), mas simplesmente para lhe ensinar a língua elementar que havia de permitir-lhes compreenderem-se e viverem os dois juntos.
E também: o seu amor pelo cão é um amor voluntário, ninguém a obrigou a isso. (Tereza pensa uma vez mais na mãe, e tem muita pena dela: se a mãe fosse uma daquelas desconhecidas da aldeia, talvez a sua jovial grosseria lhe parecesse simpática! Ah! se ao menos a mãe fosse uma estranha! (...))
Mas sobretudo, nenhum ser humano pode presentear outro com um idílio. Só o animal pode fazê-lo porque não foi expulso do Paraíso. O amor entre o homem e o cão é idílico. É um amor sem conflitos, sem cenas dilacerantes, sem evolução."
Exportação (moda)
"Sousa Tavares no Brasil? Até pode ir para Marte." José Saramago
Desafios (something new)
- Sempre.
Não consigo resistir a bons desafios.