Deixai-o passar

"Deixai-o passar, gente do mundo, devotos do poder, da riqueza, do mando, ou da glória. Ele não entende bem disso, e vós não entendeis nada dele.
Deixai-o passar, porque ele vai onde vós não ides; vai, ainda que zombeis dele, que o calunieis, que o assassineis. Vai, porque é espírito, e vós sois matéria.
E vós morrereis, ele não. Ou só morrerá dele aquilo em que se pareceu e se uniu convosco. E essa falta, que é a mesma de Adão, também será punida com a morte.
Mas não triunfeis, porque a morte não passa do corpo, que é tudo em vós, e nada ou quase nada no poeta."

Almeida Garret, Folhas Caídas

Ary



De linho te vesti
De nardos te enfeitei
Amor que nunca vi
Mas sei

Sei dos teus olhos acesos na noite
Sinais de bem despertar
Sei dos teus braços abertos a todos
Que morrem devagar
Sei meu amor inventado um dia
Teu corpo há-de acender
Uma fogueira de sol e de fúria
Que nos verá nascer

Irei beber em ti
O vinho que pisei
O fel do que sofri e dei
Dei do meu corpo chicote de força
Rasei meus olhos com mágoa
Dei do meu sangue uma espada de raiva
E uma lança de mágoa
Dei do meu sonho uma corda de insónias
Cravei meus braços com setas
Descobri rosas, alarguei cidades
E construí poetas

E nunca te encontrei
Na estrada do que fiz
Amor que não logrei
Mas quis

Sei meu amor inventado que um dia
Teu corpo há-de acender
Uma fogueira de sol e de fúria
Que nos verá nascer
Então:

Nem choros, nem medos, nem uivos, nem gritos,
Nem pedras, nem facas, nem fomes, nem secas,
Nem feras, nem ferros, nem farpas, nem farsas,
Nem forcas, nem cardos, nem dardos, nem terras,
Nem choros, nem medos, nem uivos, nem gritos,
Nem pedras, nem facas, nem fomes, nem secas,
Nem terras, nem ferros, nem farpas, nem farsas
Nem mal.

Ary dos Santos

Like an old overcoat

Priceless

Adoro a campanha da Mastercard sobre as coisas que só os Portugueses fazem. Quem tiver imagens, por favor partilhe.

"Só nós comemos os sonhos" e "Só nós damos corda aos sapatos".

Nobody can find me




"The reality is, I’m hidden amongst all the insanity. Nobody can find me.”


Megan Fox, no NYTimes (via Lei Seca, sempre cheio de bom-gosto)

Uma pessoa sabe que está a trabalhar demais quando...(em actualização)

troca as passwords do pc de casa com a do trabalho;

usa termos técnicos para falar de coisas simples;

começa a usar o Skype para questões profissionais;

fica até à 1h30 a "arranjar" um plano;

acorda de noite para fazer uma to-do list no telemóvel, para o dia seguinte;

chega a casa e vê o email profissional antes do pessoal.

(já disse que preciso de uma massagem?)

Cansaço

Massagem?

Epitáfio I

Todos os blogues são repositórios, vidas que se escrevem, livros que se desfolham. Às vezes já estamos lá na frente e voltamos abruptamente atrás, por instantes, porque queremos rever aquela passagem mais bonita, alguma frase que já foi lida no sono, fortalecer uma ideia importante. Como um epitáfio, que se acrescenta.

Epitáfio (ou leite derramado)

Devia ter amado mais,
ter chorado mais,
ter visto o Sol nascer.
Devia ter arriscado mais,
e até errado mais,
ter feito o que eu queria fazer.
Queria ter aceite
as pessoas tal como elas são.
Cada um sabe a alegria
e a dor que traz no coração.

Devia ter complicado menos,
trabalhado menos,
ter visto o pôr do sol.
Devia ter me importado menos,
com problemas pequenos,
ter morrido de amor.
Queria ter aceite
a vida tal como ela é.
A cada um cabe a alegria
e a tristeza que vier.

O acaso vai me proteger,
enquanto eu andar distraído.

Tim

Estados de espírito

We could be the future and the past
Just as long as we can make it last

We Can do anything, Mikkel Solnado

Queen forEVEr

Desenhos animados

"Entre as maminhas da Leopoldina e as ancas da Popota parece-me que o Natal tem cada vez mais matéria para as edições da FHM."

pelo Rodrigo Moita de Deus, no 31

Sykes on Gay Marriage



via União de Facto

Vão para o raio que vos parta


Laura Abreu Cravo, no Mel com Cicuta

Diferenças

"custa muito ser diferente. a inês é a única pessoa na sua família que acredita em deus. decidiu, com 20 anos, ser baptizada e pediu aos pais e aos quatro irmãos para estarem presentes. a família da inês tomou-a por estúpida e irracional e fez essa coisa que devia ser crime, a troça. a inês entrou para a sua nova família sem ninguém que a vira crescer ao seu lado. custa muito ser diferente.

a rita, pelo contrário, nasceu numa família de 7 irmãos, na ilha de são miguel, uma família conservadora, católica, de missa diária. a rita apaixonou-se pelo miguel e ficou grávida com 20 anos. a sua mãe disse-lhe que nunca ultrapassaria tamanha vergonha social, a sua filha pecadora, sentenciou-lhe um casamento, a filha recusou, isso valeu-lhe umas bofetadas e vários insultos. a rita abortou espontaneamente e a família ficou feliz.. a rita saiu de casa e foi viver com o miguel, no porto. passaram 3 anos e nunca mais disse ou ouviu mãe e pai. custa muito ser diferente.

o joão ganhou uma bolsa e frequenta uma universidade privada cujo nome não interessa. o joão gosta de vestir-se de preto. porque sim. lembra-lhe o avô, que usava uma camisa escura. o joão não tem dinheiro para ir aos jantares de turma, nem para comer sandes e sumos nos intervalos, nem para ir sair de bar em bar nessas noites que custam não menos de 30 euros. o joão tem borbulhas na cara e ténis da feira. as suas notas acima do 14, coisa rara no curso de direito, não chegam para fazer amigos, para entrar num grupo. custa muito ser diferente.

custa muito não ser diferente mas tratarem-nos como diferentes. a inês, a rita e o joão são a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo. "

Isabel Moreira, na Jugular

I'd like to have those eyes you want to kiss



I tried to kill those ghosts inside of me
That voice you spoke is yelling in my ears
And I don't believe in love fools...
I'd like to have those eyes you want to kiss

Wishing something
I wish I had that voice you want to hear
I believe in
And I don't believe in love fools
Do you feel something
This feeling is so hard that I can't breathe
Wishing something
I wish you'd touch my hair when I'm asleep

And I don't know
And I don't believe in love fools
I'm tired of this
The words you wrote are putting me away
I'm tired of that
I know that love was for somebody else
And I don't know... me, myself and I

You and I know
You and I try
You and I ran
Leaving old stories far behind

And it feels good
And it's so warm
Having those eyes
Playing with me, myself and I...

The Gift

Felizes

Era o amor dele que a fazia viver. Era o amor dela que o fazia não se matar. Não acreditavam na vida eterna. E amavam-se dia e noite, até à morte dos corpos.

Fumos

Caminha sozinho em passo lento, sem pressa de chegar a lugar algum aonde o possam esperar. Uma mão no bolso fundo, a outra que prende um cigarro que se vai consumindo a cada passo, e o frio que lhe gela o nariz e o faz perder-se em pensamentos intensos e perturbadores, como a moral que procura e não encontra num deus que ocasionalmente lhe assoma. Distrai-se de si mesmo para conseguir chegar a si, enquanto fuma. Quando fuma é ele, ele no seu momento e na sua vontade, na sua imensa vontade de existir, ele tão somente. Por isso fuma com devoção, como ritual de poderosa magia que lhe exigisse máxima abstracção, por isso puxa o fumo para dentro de si como se a sorver toda a vivência do mundo, fuma com uma sofreguidão de desespero e uma loucura branca que só ele sabe carregar em si.

Nesse acto solitário de fumar enquanto caminha, inspirando um ar gélido que se mistura com o seu, quente, ele aplaca todo o tormento incompreendido de quem busca e não acha, e quanto mais procura mais se sente longe. Quando liberta o fumo azulado e certo, dá-lhe um prazer confuso assistir àquela dissipação; cores e serpenteios que se perdem para a atmosfera, vagando até desaparecerem. Tal como ele, pensava. Por isso aquela devoção enquanto fuma, de quem ama a vida e furiosamente a quer porque a sabe capaz de lhe escapar por entre os dedos.

Alguém escreveu o teu nome em toda a parte




A cidade está deserta
e alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra,
repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga, ora doce...
Para nos lembrar que o amor é uma doença,
quando nele julgamos ver a nossa cura...

(Ornatos Violeta)

O Metro no metro

O velho mendigo de barba sumida, o mesmo de todos os dias, estava sentado no último degrau das escadas da estação de metro. Magro como todos os dias, envergava um casaco coçado, os joelhos junto ao peito para melhor se abrigar. Junto dele, o copo de todos os dias, Starbucks com moedas míseras dentro, quanta ironia afinal.

Mas, naquele dia, algo de diferente naquela cena de cinema moderno: talvez entusiasmado pela superstição do dia, 13 em Sexta-feira, o velho mendigo de todos os dias, segurava na mão esquerda, bem junto aos olhos, uma qualquer espécie de lente. Na outra mão, o jornal Metro. Via-se que estava compenetrado naquilo que lia. Quem o olhasse com atenção, repararia que lia o horóscopo da Maria Helena Martins.

Cartões de meia palavra

Ele dizia no filme, consciente e revoltado, que os cartões e postais com as suas palavras de estranho, doces e delicadas, nos retiram responsabilidade, na medida em que transferimos para aqueles o peso das palavras que não dizemos (e que são, porventura, as que mais pesam, as não ditas), seja por medo, vergonha ou simplesmente porque não sabemos dizer como nos sentimos. Tal como um silêncio de presença, um convite para café, uma resposta que pede uma pergunta que não vem - tudo cartões e postais que são dados porque não sabemos dizer como nos sentimos. Então esperamos que o outro lado entenda que é uma mensagem que tem de ser trabalhada mas, por vezes, meia palavra não basta.

Resquícios

Às vezes olho para o que escrevo e noto em mim resquícios de Margarida Rebelo Pinto.

Do Inverno

A elegância, aquela que não se deixa confundir, é mais fácil de encontrar no Inverno. No Verão um corpo mais despido é suficiente para animar os espíritos e aquecer as carnes; no Inverno, exige-se mais, atenta-se no detalhe que não está na exposição do Verão e a imaginação tenta descortinar o que secretamente se insinua, em jogo de caça e caçador. No Inverno a sedução dá mais trabalho e mais piada, é por isso que o Inverno não é para quem quer, mas para quem sabe. E deve ser por isso que eu gosto tanto de ver gente bonita e elegante no Inverno.

Undo

"A vida devia vir equipada com undo."

I'll go crazy if I don't go crazy tonight

Caim (memorable quotes)

(fazer o umbigo) Foi esta a última vez que o senhor olhou uma obra sua e achou que estava bem.

Essas palavras não as disse nenhum deus que eu conheça, nunca nos passaria pela cabeça dizer que os nossos desígnios são inescrutáveis, isso foi coisa inventada por homens que presumem de ser tu cá, tu lá com a divindade.

(...) mas bem triste há-de ser a gente sem outra finalidade na vida que a de fazer filhos sem saber porquê nem para quê. Para continuar a espécie, dizem aqueles que crêem num objectivo final, numa razão última, embora não tenham nenhuma ideia sobre quais sejam e que nunca se perguntaram em nome de quê terá a espécie de continuar como se fosse ela a única e derradeira esperança do universo.

o senhor não é pessoa em quem se possa confiar.

E que senhor é esse que ordena a um pai que mate o seu próprio filho, É o senhor que temos, o senhor dos nossos antepassados, o senhor que já cá estava quando nascemos.

(...) ao senhor nada é impossível, Nem um erro ou um crime, perguntou isaac, Os erros e os crimes sobretudo, Pai, não me entendo com esta religião, Hás-de entender-te, meu filho, não terás outro remédio.

A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele.

É bem possível que o pacto da aliança que alguns afirmam existir entre deus e os homens não contenha mais que dois artigos, a saber, tu serves-nos a nós, vocês servem-me a mim.

Ao contrário do que costuma dizer-se, o futuro já está escrito, o que nós não sabemos é ler-lhe a página.

Se o senhor não se fia das pessoas que crêem nele, então não vejo por que tenham essas pessoas de fiar-se do senhor.

O mais certo é que satã não seja mais que um instrumento do senhor, o encarregado de levar a cabo os trabalhos sujos que deus não pode assinar com seu nome.

(anjos) uns com os outros, não mostram qualquer relutãncia em reconhecer que a vida no céu é a coisa mais aborrecida que alguma vez se inventou, sempre o coro dos anjos a proclamar aos quatro ventos a grandeza do senhor, a generosidade do senhor, inclusive a beleza do senhor.

Tudo do Saramago

Ser pobre e pacóvia é

Ficar fascinada com noites como a de ontem e vir a correr contar ao mundo.

Chiqueza (guest list)

Jantar aqui, champagne aqui e dançar aqui.

Upload 2-0 Meeting (notas soltas)

Ter um twitterwall a transmitir em tempo real o que as pessoas presentes na audiência estão a achar das apresentações é magnífico e cria situações muito divertidas. Mas pode ser muito cruel se o orador não tiver o poder da oratória...

A xoxial media é fenomenal, não é? (e o Daniel da Torke 2.0 também)

O Rodrigo Moita de Deus está cada vez mais giro e teve a mais divertida apresentação de todas.

Um dia ainda hei-de ter aulas com o caçador de tendências Luís Rasquilha.

E sim, confirma-se: Paulo Querido não consegue estar 5 minutos sem olhar para o Twitter.

Adorei!


(Para saber tudo o que se twittou sobre o Upload: #uploadlx)

Cinco Razões para não usar preservativo

O spot publicitário português "Cinco Razões para não usar preservativo" foi considerado o melhor anúncio governamental europeu de prevenção da sida num concurso internacional.




Ai, São José Correia (suspiro).

O referendo I

"1- Aos que dizem que a altura não é oportuna, que o governo se devia ocupar do que é importante (...): Não sendo capaz de cuidar do que é importante é preferível que cuide de alguma coisita."

"2- Aos que temem que se abra a porta à adopção:(...)Família é quem nos quer e quem cuida de nós. Independentemente do papá ter um pénis molinho e a mamã uma vagina lassa. De que serve uma vagina ausente e um pénis que não sabe nada de nós?"

"3- Aos que querem um referendo: Os referendos não servem para impor morais e bons costumes."

"4- Só em Portugal não há políticos homossexuais (o Miguel Vale de Almeida não conta). Não os há de esquerda. Muito menos os há de direita. É um desconsolo. Sinal de profundo atraso e tacanhice. Em Portugal os homossexuais são todos artistas, escritores, devassos e jacobinos. Estou à espera que a modernidade nos bata também à porta e surja o primeiro político de direita homossexual. Sem medo de perder meia dúzia de votos de velhas bafientas e tias da linha de Cascais."

Ana de Amsterdam, sempre certeira

Chatterton

O referendo


Na Controversa Maresia

Sexo Amistoso

Karmas

Profissionalmente, todas as empresas onde tenho vindo a trabalhar são siglas.
Pessoalmente, a letra E persegue-me.

Quem é X?

Há histórias que são mais belas quando partilhadas. A cumplicidade, a confiança e a gratidão. Também lhe chamam amizade. Eu gosto de lhe chamar amizade.

Sono cose della vita

Comentários

Há blogues que deveriam permitir comentários, porque me apetece contar ao mundo que:

a) eu uso botas por cima das calças e não é deste ano. Sempre gostei de botas por cima das calças, dependendo das botas (e das pernas, if you know what i mean). Gosto muito de ver os polícias giros da BT com as botas por cima das calças. Deve ter sido algo que me ficou da agricultura e das botas de borracha (Freud explica);

b) concordo inteiramente que só se conhece uma pessoa depois de uma discussão. O verdadeiro encontra-se no limite. Sem filtros.

Every soul has a fight

Não queria voltar a casa porque, se voltasse, tinha medo de querer ficar. Tem ainda muito para voar, mais alto, mais longe, mais destemida. Livre, ela voa. Feliz, ela vive.

Pic or didn't happen

Ontem estive a limpar e organizar o computador. A tua pasta, aquela que não abri mas que a memória persistente ainda sabe cheia de cor e de vida, sorrisos e encontros, histórias com muito passado e que ansiavam todo o futuro que lhes era devido, chama-se agora "pic or didn't happen". O nome perfeito, que surge inesperado e lhe assenta em cada aresta, cobrindo cada vazio, moldando-se a cada contorno, como uma luva, diz-se. Porque na sua essência é isso, repositório que existe como despojo e homenagem, o que me sobrou de ti numa quietude de eternidade de onde sairás sempre alma inteira, risos que são só meus e que ficaram livres para me despertarem em morosas noites de Inverno, me provocarem em saudosos acordares. Só para me provar a realidade de uma vida, nossa e distante, que em tudo me parece, cada vez que nela penso, mais irreal. Mas a tua pasta existe. Aconteceu, portanto.

New York, I love you (and I love it)

Todas as razões. Todas mesmo: as que te fazem rir, as que te fazem emocionar, as que te fazem pensar mas muito sobretudo, as que te fazem sonhar. Amar.



E muita gente bonita.
E como todos os preciosos tesouros, está escondido em apenas 5 salas de cinema em Lisboa...

Brothers Bloom

Uma (única?) razão: Rachel Weisz.

How far does your creativity go? (Cannes Lions)

Terminou hoje a exposição de alguns dos vencedores do Cannes Lions 2009, no Terreiro do Paço. Acabadinha de chegar de lá, deixo alguns belos exemplares que mostram que a arte reside no simples. Brilhante.