Adoro, adoro isto tudo
"Eu adoro Lisboa, adoro mesmo. Adoro as porteiras cuscas e viciadas em Deus, adoro os polícias de óculos manhoso, e acima do peso, que se acham interessantes e têm fetiches com a própria farda, adoro as ciganas ao pé da minha casa, muito sujas e sem cederem ao cheiro fantasioso dos champôs para cabelos oleosos, adoro as velhas maldispostas que nos atacam à porta dos cafés de Campo de Ourique porque não lhes demos passagem, as mulheres de meia-idade de cabelo armado que copiam o penteado umas das outras, na Lúcia Piloto, os empregados de mesa bipolares, os empregados das livrarias Fnac sempre aflitos e odiando profissionalmente todos os escritores das suas estantes só porque preferiam estar na secção dos discos. Adoro os condutores irritados, os taxistas em Mercedes, bons chefes de família, as meninas das caixas dos supermercados que gostavam de ter nascido betas e fazem voz de beta. As depiladoras brasileiras que tentam viciar as mulheres portuguesas nas maravilhas dos pipis de criança. Adoro, adoro isto tudo, mas jamais, só obrigada, conseguiria voltar a viver nesta terra sem para isso ter de aumentar a minha dose diária de Rivotril.
Um país de esquina."
Mónica Marques, Para Interromper o Amor
Detrimento
- Pessoas que mudam quem são para agradar ao outro;
- Pessoas que deixam de ter tempo para actividades que não envolvam o outro;
- Pessoas que deixam de conseguir fazer coisas sozinhas, sem o outro;
- Pessoas que ganham a mania da perseguição pois não entendem que a confusão não é o outro mas antes o que elas mudaram, por vontade própria, para estarem com o outro.
Em detrimento.
Sê paciente, mesmo que não entendas. Infantil, egoísta, possessiva, injusta. Que mais? Sê paciente. As saudades vivem na paciência do tempo.
Necessaire: contemplação
Como descobrir um tesouro debaixo de água enquanto te afogas.
O odor é o último a morrer – depois perdeste tudo.
O meu reino de despojos por um batimento cardíaco.
O odor é o último a morrer – depois perdeste tudo.
O meu reino de despojos por um batimento cardíaco.
Menina Limão
Des(necessaire)
Existe todo o perigo de, no mesmo dia em que recebes, teres de ir ao Colombo.
- Caramel;
- As confissões de Schmidt;
- Juno;
- Wallace & Gromit: as 3 primeiras aventuras;
- The L Word: 2ª temporada.
- Caramel;
- As confissões de Schmidt;
- Juno;
- Wallace & Gromit: as 3 primeiras aventuras;
- The L Word: 2ª temporada.
Soon forgiven soon forgotten
Chega o momento em que notas que é impossível repor o que se perdeu. Ainda assim, tentas.
(Rua do Norte, 95)
(Rua do Norte, 95)
A troca
"Um Encontro de dois: olhos nos olhos, face a face. E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus; E arrancarei os meus olhos para colocá-los no lugar dos teus; Então ver-te-ei com os teus olhos e tu ver-me-ás com os meus."
J.L.Moreno
Aproveitar todo o tempo: prioridades
Claro que aproveito como posso todo o meu tempo. No máximo serão 23h30 e ainda não jantei ou tomei banho. Em contrapartida escrevo uma mísera linha no blogue, a mostrar que ainda vivo. Reciprocidade. A vidinha. A volta à vida toda.
Tenho tanto que dar uma volta à vida toda
"E subitamente - querida. Subitamente - querida Sandra. Tenho tanta necessidade de estar contigo. Se deixássemos entretanto o senhor Paixão? Bem sei que não é ainda a hora de tu vires à minha vida. Há que fazer o liceu em Penalva, há que ir depois para a Universidade. E só então - tu. Mas estou tão cheio de pressa. Estou só, neste casarão deserto, deixa-me falar já de ti. Deixa-me fazer-te existir antes de existires. De que me serve tudo quanto me aconteceu, se me não aconteceres tu? Estás lá, em Penalva, esperas-me no alto da vida com os teus olhinhos vivos pretos. Estás lá, não tu, talvez, oh, foste sempre tão difícil. O que me existes neste instante, não é decerto o que foste. O que me existes é o que em mim te faz existir. Estou só. E isto é horrível, não sei se fazes bem ideia aí na cova. Tens mortos de companhia e a comodidade de não seres. Eu não. Estou vivo ainda, sou ainda, e isto não é um modo cómodo de haver mortos à minha volta. Vou fazer-te existir na intensidade absoluta da beleza, na eternidade do teu sorriso. Vou fazer-te existir na realidade da minha palavra. Da minha imaginação. Estou absolutamente decidido, como é que vou suportar tantos anos ainda sem ti? Estás alta, na memória, ao apelo do meu cansaço. Como vou suportar a vida toda e a terra e o universo sem ti no centro da minha cosmogonia? Tudo isto é absurdo - tu foste sempre tão difícil.Mas estás morta, posso inventar-te agora como quiser. Agora ao menos, depois talvez te esqueça, enquanto a tarde lá fora, é uma tarde de Verão. E estou só, quase morto também. Passei a vida toda à procura de uma palavra que ma dissesse. Não a encontrei. Na casa de banho ao lado - em que é que estava a pensar? São portadas de alto a baixo, estão fechadas empenadas - em que é que estava? Realizar a vida em torno de uma ilusão qualquer. Vou amar-te intensamente como se o amor o fosse - eu disse os teus olhinhos pretos? Creio que já há bocado, tu sentada à borda da cama, o teu chapéu de grandes abas flexíveis, uma fita azul e pontas cruzadas, mas agora não. Possivelmente serás assim, morena, minúscula, os olhinhos pretos e vivos - agora não. Vejo-te na mata da cidade, vejo-te de costas. Vais a correr com um bando de colegas por um caminho de neve, e os teus cabelos louros. São louros, como é que me não lembrei? Saem de um gorro azul de malha, espalham-se nas costas, agitam-se na corrida como o seu triunfo. E as pernas engrossadas de meias azuis, erguem-se alternadamente na corrida sem razão. A mata cobre-se de neve, há neve na beira do caminho, um sol rígido ao alto. Depois parais num largo, pequenas pugnas de neve entre vós, festa de riso. Enquanto nós, eu e uns colegas, tínhamos corrido também, vou atirar-te uma bola de neve. No centro do teu riso e do teu olhar. É azul como agora a minha imagem da sublimação. Uma estrela de neve na testa, vou atirar-te uma pequena bola, ela embate-te na fronte, explode em pedaços para todos os lados do teu riso. E de súbito ficas imóvel assim, instantânea de luz, a boca enorme de alegria e os dentes visíveis de sol, e os olhos rápidos de cintilação. Fica-te assim, oh, não te mexas. Tenho tanto que dar uma volta à vida toda. Não te movas. Sob a eternidade do sol e da neve. Uma malícia súbita no teu riso, no teu olhar. Um clarão à volta de deslumbramento. lrradiante fixo. Não te tires daí. Instantâneo da minha desolação. Tenho mais que fazer agora. Não saias daí. A boca enorme de riso, os olhos oblíquos de um pecado futuro. Fica-te aí assim, talvez te procure ainda, talvez te escreva uma carta de amor. Daqui donde estou, está uma tarde quente. De amor."
Vergílio Ferreira, Para Sempre
Speechless
A capacidade das palavras para conquistar, a sua dimensão de enamoramento, a paixão que ainda conseguem despertar e que a ti sempre te comove. Ela está apaixonada por aquelas palavras, imprime, lê repetidamente, sonha com elas e mostra com vergonha às amigas. Sorris. Há essa força e grandeza nas palavras. Chamar-lhe-ias encantamento. Um dia chamaste encantamento e eu senti-me poeta.
A vida é interessante. Vamos estudá-la II
No metro, ela contava como os pais se tinham conhecido: os dois, 20 anos depois de um primeiro e fugaz encontro, que se encontram por acaso, no mesmo dia, no mesmo hospital, na mesma ala, para fazerem ambos uma operação ao coração.
No coffee-break, ela filosofava sobre como viajar sozinha pode ser uma escolha, natural e lógica de quem não precisa de testemunhas e para quem uma fotografia pode ser só um acto de egocentrismo.
Na terra: Fendt
"Insultei-me várias vezes por nunca ter aprendido a fazer ligações directas com o pessoal da terra que andava aos tractores. Erros que se cometem quando se é novo e não se percebe que é preciso aprender de tudo. Prometi-me levar o miúdo à terra um dia e ensinar-lhe a matar um porco, varejar azeitonas, pegar fogo à mata, roubar vinho, roubar galinhas, encontrar o caminho para casa embriagado, sem luzes, levado pelo cheiro das cabras, ganhar à sueca, fazer fisgas, fugir à guarda, não comer fruta do chão, reconhecer o caminho das pedras no rio, sacar moças nos bailes, mudar o óleo, tirar água do poço e uma bezerra de dentro da barriga da mãe, levar uma galheta sem chorar nem baixar os olhos, fazer corridas de tractor, baldar-se à missa sem dar nas vistas, aliviar a caixa das esmolas e as hóstias do sacristão, ir aos caracóis e às amoras, marcar terras, tudo aquilo que faria dele um homem melhor, mas preparado. Coisas que só se aprendiam na terra, nos meses eternos de Verão."
Ricardo Adolfo, Depois de morrer aconteceram-me muitas coisas
(ou às lapas, ou a bucha e as botas de borracha, puxar mangueiras e pesar bróculos, preparar quermesses ao som do Oceano Pacífico, ir aos figos e às pêras, cantar no coro e ler a Segunda Leitura. Aquele cansaço feliz. E lembrar-me de ti quase comovido no milagre da vida que foi a égua dar à luz, ou o teu entusiasmo quando te falei do Fendt. Amei-te muito nesse dia, a pensar que tu serias esse homem melhor e preparado meu. Hoje, na lonjura dos dias, qualquer lembrança de ti cabe apenas diluída nos meses eternos de Verão, quando a terra sabe a terra.
Resignar: Do you have what it takes?
E se a meio do caminho perceberes que não consegues ir mais além? Deves desistir ou esperar?
(os anti-corpos contra as pessoas.)
O Motivo Ocasional
«A jovem rapariga não era a sua amada, constituía, sim, o motivo ocasional que nele despertava o poético e que fazia dele poeta.»
Kierkegaard, via A Trama
Look Closer: pareceu-me bem
Podias ter dito "isto é que é ter visões agradáveis logo de manhã!", como minutos antes, a ela. Também podias ter dito "estás bonita!", como minutos depois, a ela. Em vez disso saiu-te um desajeitado "vi-te, reparei nas pernas - disseste-o de facto ou só o pensaste? -, e pareceu-me bem, mas não te reconheci". És tão tótó.
(não sei lidar com mulheres bonitas que não conheço bem. a par disso, percebi que não sei lidar com pessoas em geral.)
Mas de que paixão? De quê?
Não preciso de ser salva.
"Se o que mata mais é não ver o que a noite esconde e não ter nem sentir o vento ardente a soprar o coração".
Hobbies: trigger
Há pessoas com hobbies interessantes e que podem gastar a tarde a encontrar 24 sinónimos mais apelativos do que "gatilho".
Quiz: 3 em 4
Mais um DVD arrecadado. Não é para quem quer (só para quem fica em último e, cumulativamente, acerta a resposta sobre o filme).
Orgulhos e Exibicionismos de Quinta-feira
- Cultura - tudo o que é preciso saber, Dietrich Schwanitz, como novo;
- Manual de Pintura e Caligrafia, José Saramago, como novo;
- Barroco Tropical, José Eduardo Agualusa, como novo;
- Porque não sou Cristão, Bertrand Russel, usado.
Todos a 5 Euros cada.
- Manual de Pintura e Caligrafia, José Saramago, como novo;
- Barroco Tropical, José Eduardo Agualusa, como novo;
- Porque não sou Cristão, Bertrand Russel, usado.
Todos a 5 Euros cada.
Performance Appraisal: defeito ou feitio
É possível trabalhar e melhorar quem somos?
Hoje como há 10 (?) anos: "o silêncio é a voz dos sábios mas mostra o teu saber pois é um privilégio ouvir quem tanto sabe". Pois.
Des Hommes et des Dieux
Luc. O Lago dos Cisnes. O mundo real e a doer.
"Les hommes ne font jamais le mal si gaiement et si bien que quand ils le font par conviction religieuse". (Pascal)
Jeux de cache-cache
Conseguir encontrar o presidente da Câmara de Lisboa a passear-se pela 1h da manhã calmamente e não te conseguir encontrar a ti (ou será que sim?). Seja feita a ressalva que indaguei todos os versos, em busca dos contornos de cabelo, que me revelassem a única frente.
A minha vida é o meu tempo
Ignorar por momentos que tenho outras coisas para fazer, esquecer tudo, e ir ao cinema. Soube bem.
Tão brega que chegava a ser cool*
Haverias de rir. A rádio local é agora pródiga em passar o tipo de música que ouves, o tipo de música que tantas vezes partilhamos, o tipo de música que dou por mim a ouvir aos Sábados de manhã. E sei todas. Afinal podíamos ter vivido num universo paralelo assente em ondas de rádio.
*Para Interromper o Amor, MM
A vida é interessante. Vamos estudá-la*
Sisuda, hirta, séria sempre, quase intensa, de política para cima, como ela disse cheia de enfado ou de triste desconhecimento - porque mo disseste apenas agora?. Respeito, respeito. Parecer. Responder de forma politicamente correcta, controlar, formalizar, formal. Que te empurrem e caírias. Que te magoem e não gritarias. Gritas, será que és das que gritam? Gostava de ver isso. O que é preciso para te arrancar uma palavra? Fala mulher!
Ainda tens a ilusão do silêncio. Ou eles que a tenham, a de que o silêncio pode equivaler a sabedoria, palavras medidas e pesadas a encaixar em lado nenhum. Deixa escapar o nome de um ou outro livro. Básico. Começa pelo básico. Falar de livros e de filmes resulta sempre. Graças a Deus toda a gente lê hoje em dia, nem que seja porcarias. Refere os clássicos, que dá logo outro charme, e os controversos, que alimentam a continuidade. Viagens agora. Somos todos iguais afinal. Incita, provoca. Subtilmente, apenas o bastante para que se note o teu interesse maior e diferenciador. Mostra-te diferente. Os gestos certos, as mãos bem colocadas, do que és capaz? Tanto esforço.
Engana-os a eles, se insistirem, mas não a ti. Para quê a certeza? Para quê a ocupação dos espaços vazios com palavras vazias? Eles que pensem, eles que achem. Não há nada de metafísico em ti, nada de culto, só o palpável com as tuas mãos afundadas na terra. Isso é o real. A tua vontade de lhe tocar é real, física e atormentada. Seria complicado seres homem, mais ainda seres humana. Mas há aqueles pormenores que ainda te surpreendem, pequenas peculiaridades que te despertam. Um animal que lhe quer trincar o pescoço, puxar o lenço, apertar, agarrar. La. Ela.
No que pensas neste momento, com o olhar calado e fixo em lado incerto? O que queres ver ou o que não encontras? Andas à procura? De quê? O que significa quando sorris? Eles que pensem, eles que imaginem. Tu não sabes.
* Jorgen Leth
Unplugged
Tens emprego, um tecto a que podes chamar teu desde que não te distraias com nenhum mês de renda, um portátil e um carro aceitável, reuniões durante a semana, saídas ao fim-de-semana, tão injusta esta proporção, e tiras férias em Agosto e passas o Natal com os teus pais em Dezembro. Tens uma vida normal e és tão orgulhoso nisso. Estás enquadrado, normalizado, encaixado, limitado e tens uma porra de um orgulho nisso. Viva para ti que ainda tinhas um lugarzinho à tua espera no rebanho da igualdade, fraternidade e perfeição (a liberdade é só uma maluca, como diz o Palma, não ligues ao que te grita) e conquistaste-o por mérito próprio, seguidor perfeito de doutrinas e outras religiões.
Tens pressa. Estás sempre cheio de pressa (mas para chegar aonde?). Tens sempre que ir a algum lado (aonde vai afinal toda a gente quando diz que tem de ir?). Corres muito. Corres demais. Não corras tanto, tens pressa para quê? Deixaste de ter sonhos. Em vez disso tens a cabeça entupida de projectos – para o trabalho, para um texto, para as férias e para a vida em geral. Sabias que é cientificamente provado que a maioria dos projectos falha? Ainda assim, planeias demais e preocupas-te demais. Respondes com “vai-se andando” e com “é a vida” à quietude dos dias que se consomem lentos. Jogas no Euromilhões religiosamente todas as semanas, confiante que bastaria isso. Estás submerso em frases feitas, ideias feitas, histórias que te fazem. E não questionas. Estás a todo o momento a provar(-te) e nunca basta. Fear me or revere me but please think I’m special.
O inesperado passou a ser um obstáculo à certeza que tu gostas de ter e o imprevisível é só quando sais a horas do trabalho. Viste aquele cartaz da Sumol sobre o ser original e tentaste convencer-te que aquilo é para quem não cresceu e ainda não conhece nada do mundo. Mas há dias em que te olhas no espelho e acreditas que podes recomeçar de novo. Once upon a time. Tem a coragem de acreditar. Ousa fazê-lo. Segura-te ao que puderes, não os oiças, eles não sabem nada de ti e tu não sabes nada deles. Deixa que te estranhem, que questionem, que suspeitem e, mesmo tentando, não compreendam. Ainda vais a tempo de te tornar em quem és. Irrepetível. Vive sem rede, vive em directo. Unplugged. No final, não há esse tempo que te escapa em correria. No final, és só tu contigo. Por isso vai ver-te ao espelho. E não regresses.
Famílias Normais
A minha família entra em acesos debates à hora do jantar sobre a diferença entre um besouro e um escaravelho e se são manchas ou riscas laranja.
DocLisboa
Depois de uma difícil selecção de filmes e horários e considerando que já fui atrasada para o José e Pilar:
Skinhead Attitude, 16, 22h15
Erotic Man, 17, 21h15
Épouse du Vent, 22, 19h
Complexo - Universo Paralelo, 22, 21h
Hitler's Hit Parade, 24, 21h30
Vemo-nos por lá?
Feeling very Shane today: Freud explica
Há uma qualquer sensação de poder quando uma mulher usa gratava, uma espécie de desafio, um sentido de provocação. Gosto de usar gravata, as mangas da camisa mais compridas do que as do casaco, salto alto. Play.
A influência do Quiz
Às Quintas-feiras leio sempre as notícias do jornal com mais atenção.
(tem servido de pouco.)
(apesar disso, já cá cantam 2 dvds.)
Morangos com Açúcar
Não basta a auto-confiança. É preciso um humor inteligente.
(Checklist. Novamente...)
Let's be scared together
Depois de te conhecer também a minha vida mudou, dear AM.
(coração mole em couraça dura)
(coração mole em couraça dura)
Royale: 3
Acredito que seja uma questão de cultura/ nacionalidade: não há mais ninguém que eu imagine a falar-me com tanta naturalidade, à mesa de um café, de uma fantasia ainda tão interdita.
A confusão naquela cabeça e a embrulhada daquela relação I
O orador tinha razão: sozinhas as pessoas são mais pessoas. Sozinha, tu és contradição.
A confusão naquela cabeça e a embrulhada daquela relação
"Aquela relação com Deus deixara de funcionar há muito. Eu insistia, dava-Lhe novas oportunidades e o cabrão só me fodia. Para quem nunca Lhe tinha feito mal, eu era muito mal tratado. É certo que nem sempre me lembrava d'Ele. E quando os dias corriam bem nem sequer Lhe falava. O que não Lhe devia fazer muita mossa, com tantos pedidos que devia ter sempre a entrar.
Mas Ele era vingativo. Se uma pessoa não Lhe ligava, tomava nota e na próxima entalava um gajo ainda mais. Eu não precisava daquilo. Sozinho já conseguia arranjar problemas suficientes para ainda ter de estar a levar com extras, filhos de maus fígados. Era um mimado, era o que era. Jurei acabar ali mesmo, naquele segundo, com qualquer crença. Acabava-Lhe com a raça. Não se falava mais nisso e muito menos com Ele ou sobre Ele. Não existindo, não me poderia fazer mal.
Quis dizer à Carla que tinha acabado de matar Deus, que me custara muito, mas que era o melhor para todos. Até mesmo para Ele, que passava a ter menos com que se chatear. (O problema era mesmo esse, Ele nunca queria saber, não se preocupava com nada.) Como vivia da fama e da fartura, achava que era mais do que os outros e baldava-se. No entanto, aquilo que Ele não sabia era que se uma pessoa não acreditasse n'Ele, Ele deixava de ser quem era. E aí é que eu queria ver o que é que fazia à vidinha. Aí Ele é que teria de vir pedir rezas. Sem crentes o que é que Ele ia fazer aos dias? Vivia de quê? Sem ofertas, nem igrejas onde pernoitar. Estava entalado, era o que era. Se calhar até ia parar ao meio da rua. Sempre habituadinho a que Lhe dessem tudo, queria ver como é que se desenrascaria sozinho.
(...)
Por outro lado, a vida sem Deus ia ser mais difícil: acabavam-se os desejos divinos e as desgraças que uma pessoa não conseguia perceber. No fim, cada um a tomar conta da sua vida era muito mais justo.(...)
As pessoas nem sempre percebiam o que era melhor para elas. Ia demorar até que vissem que a história de Deus estava um bocadinho mal contada. Coisas simples, mas que eram de desconfiar, como a conversa em que Ele achava que era o Pai e o Filho ao mesmo tempo. Um pequeno sinal da confusão que devia ir naquela cabeça. E da embrulhada daquela relação."
Ricardo Adolfo, Depois de morrer aconteceram-me muitas coisas
Stop Trying. Surrender.
sem nada a mais do que deus deu
se deu e não se arrependeu
ele lá sabe o que fazia
vem só, sem nada
vem arrastar a tua asa
fazer das minhas tua casa
saber porque é que deus sorria
vem só, sem nada
ninguém vai lançar mau olhado
porque não há mal nem pecado
em cegar de tanto querer
vem só, sem nada
deixa o teu olhar descobrir
o meu, que eu tenho de partir
mas volto um dia pra te ver
ai, deixa ver
onde o teu peito desagua
onde é que nasce a luz da lua
eu vou sem nada pra te ver
Música: Manuel Paulo (Pássaro Cego)
se deu e não se arrependeu
ele lá sabe o que fazia
vem só, sem nada
vem arrastar a tua asa
fazer das minhas tua casa
saber porque é que deus sorria
vem só, sem nada
ninguém vai lançar mau olhado
porque não há mal nem pecado
em cegar de tanto querer
vem só, sem nada
deixa o teu olhar descobrir
o meu, que eu tenho de partir
mas volto um dia pra te ver
ai, deixa ver
onde o teu peito desagua
onde é que nasce a luz da lua
eu vou sem nada pra te ver
Música: Manuel Paulo (Pássaro Cego)
Photos are for those who can't remember
Digo-te que, tal como com o outro, quando acabei de ler o livro tive a certeza que ainda ia voltar. Tenho de, tenho de, morrer ou renascer, agora ou depois, sei que vou. Ficas reticente e respondes-me num desvio torto, tortuoso. Tens a tua suspeita razão e eu a minha. Não são já objectivos de conquista, os olhos nos olhos que te trariam, ou as noites sem passado e sem futuro, mesmo que continue a achar que todos os amantes as merecem, também dessa forma, o prazer sem a dor. Exorcizar. Há um momento, o momento, que já foi. Agora sou só eu e a tal física da busca, o equilíbrio e as outras tretas todas que fazem as mulheres chorar em filmes de auto-ajuda e comprar pulseiras de placebo coloridas. Voltar é uma terapia tão (in)eficaz como qualquer outra. Desta vez, sem fotografias.
Números Primos
O número de ouro era demasiado enigmático, utopia divina. Por isso ela preferia os números primos, reais na sua exactidão. Ela própria era um número primo: apenas divisível por um e por ela mesma.
Para Interromper o Amor II
Consulte atentamente esta bula antes de ler “Para Interromper o Amor”(Quetzal), de Mónica Marques , escritora com um pé em Portugal, outro no Brasil e o coração algures no meio do Atlântico. Voz à personagem (personagem?): «Sono. Música e sono e barulho de motor de avião. Sinto-me a morrer de amor. Quantas foram as vezes que já atravessei o mar a morrer de amor?»
O seu primeiro livro, “Transa Atlântica” (Quetzal; 2008), foi bem recebido pela crítica. A forma despudorada como fala de sexo talvez tenha ajudado.
O que deve saber antes de ler “Para Interromper o Amor”
É um livro que fala sobre a vida. A vida de Antónia, João e Numa, mas também podia ser a sua. É um livro de “fufas” que não são “fufas”, amores que raramente são contacto e suor, e às vezes não são mesmo nada disso. São o amor e o seu contrário, são o sexo e os seus substitutos.
O que deve saber acerca de “Para Interromper o Amor”
Deve saber que é um livro de escrita desbragada, sem grandes reservas, como é o amor. Antes de ler o livro, e se já conhecer a obra da escritora (em livro, nos artigos de imprensa ou no blogue Sushi Leblon), poderá ter tendência para querer, na frase anterior, ler “sexo” onde está “amor”.
O que é “Para Interromper o Amor” e para que serve
Para nos pormos a pensar na vida. Ver o amor onde dantes víamos a calçada.
Interacções literárias de “Para Interromper o Amor”
Um pouco de Roth. Ou antes, muito Roth: nos diálogos, na ligação do sexo ao amor ou de como, não estando necessariamente ligados, podem ter tudo que ver. O linguajar e o vocabulário do português do Brasil.
Efeitos secundários
Sem tempo para grandes experiências com adultos (não é um livro para crianças), verificou-se por vezes:
— mal-estar generalizado, com pitadas de pequena loucura e profunda noção de consciência, com compulsão para meditações sobre a vida, o amor, o que é o amor e para que serve afinal o sexo. Desejo de evasão. Querer que Mónica Marques pare de nos agredir. Era só sexo, nunca pensámos que fosse amor — às vezes o contrário. Se o amor assume diferentes formas, não é o sexo que vai contornar o que seja. Se o sexo assume diferentes formas, não é o amor que vai contornar o que seja.
— vontade de googlar “Pedro Mexia” só para ver o que aparece.
Posologia
Moderada, se sentir algum dos seus possíveis efeitos secundários. Em caso de persistência dos sintomas, contacte alguém de quem goste. E diga-lhe isso mesmo.
Se ler mais do que deveria de “Para Interromper o Amor”
Consulte a secção “Efeitos secundários” (ver supra). A tendência é para delas padecer em dobro.
”Para Interromper o Amor” em idades mais avançadas
A menos que se chame Rentes de Carvalho, não o faça.
Words are meaningless and forgettable
Words like violence
Break the silence
Come crashing in
Into my little world
Painful to me
Pierce right through me
Can't you understand
Oh my little girl
All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very unnecessary
They can only do harm
Vows are spoken
To be broken
Feelings are intense
Words are trivial
Pleasures remain
So does the pain
Words are meaningless
And forgettable
All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very unnecessary
They can only do harm
Enjoy the silence
Para Interromper o Amor I
A culpa é do nome dos personagens, dos livros sempre presentes, dos lugares - na verdade, dos países - , mas também dos capítulos maravilhosamente escolhidos, como "O coração é só um músculo com excesso de personalidade e notória mania de grandeza".
Para Interromper o Amor
Para Interromper o Amor deixa-me profundamente feliz, pensativa, imersa. Já antes tinha sido assim, com a Transa. Gosto de pensar que é real. Gosto de pensar que a t-shirt "I love my wife" e aquele olhar embevecido, no dia do lançamento, são reais. Preciso de acreditar na realidade, mesmo que não seja a minha, para ter a certeza que tu não foste só ficção.
A multiplicação das palavras, como se peixes
Escrever pode ser uma missão de justiça e igualdade: roubas a uns para poder dar a outros.
Falar à alma
Achava que já não existiam homens assim, como tu. Falaste-me à alma. Sim, é piroso, eu sei, mas foi assim que o senti, eu que até da alma duvido, entre todas as outras dúvidas. Mas tu falaste-me e eu tive a certeza, como nos filmes. E foi assustador porque nunca me senti assim, tão cheia de certeza. É estranho, demasiado estranho. Olhar para ti e conhecer-te os sonhos, os teus e os meus, ouvir-te e reconhecer os ideais, os projectos, a poesia feita filosofia e a filosofia feita poesia. És uma versão melhorada e impossível do homem que pensei para mim, quando miúda, já entre copos e fumos, discutia com a minha melhor amiga os pormenores dos nossos casamentos que nos haveriam de tornar referências para o futuro. Tu és o impossível que me aconteceu.
E seria perfeito se o momento fosse o perfeito. Há sempre algo para nos tramar, porque a perfeição não existe e os filmes são isso mesmo, filmes. Tu precisas de tempo e eu preciso do teu coração esvaziado de mágoas e lembranças. E preciso de acreditar que o tempo de que tu precisas é também o tempo que te aproximará de mim. Preciso que o tempo faça o seu trabalho e baste. Só aí o momento que espero para ti será o momento que quero para nós.
Inquebrável: não, nunca, me esqueci de ti
"[Num mundo perfeito] Os amigos não se afastariam, teriam a decência em achar que a amizade é um laço para toda a vida, indestrutível, inquebrável e seguro. Num mundo perfeito, a amizade seria respeitada e, inconscientemente, dar-se-iam novidades todas as semanas, como as velhinhas que estão ali, à hora exacta, a verem a telenovela todos os dias para não perderem o fio à meada porque a amizade seria assim, uma necessidade em saber como está o outro agora, e depois, e na semana seguinte.
Num mundo perfeito a amizade nunca seria posta em causa, nunca teria desentendimentos nem mal entendidos e, caso isso acontecesse, o orgulho seria menor e as pessoas voltariam a aproximar-se porque sentiriam saudades. Isso num mundo perfeito. O mundo não é perfeito e as pessoas são caprichosas, exigentes e sobretudo orgulhosas e tenho saudades tuas. Pronto."
pela Margarida, no Sem Filtro
Só tu poderias entender
- Tenho inveja delas. Elas estão felizes.
Haverá sempre lógicas que são vedadas a pessoas possessivas e que não conseguem entender a parábola do filho pródigo. Sobretudo essa.
A Estrangeira
Tu eras quem eu não precisava de cumprimentar: tu estavas. Tu eras quem eu não precisava de perguntar como estás: eu sabia. E agora és cada vez mais quem menos. Está, sabe, é.
Não queria que fosses grande, com essa nova vida própria já tão fora da minha vista. Tu eras quem sabia desde sempre como há coisas que me são mais importantes que outras, talvez mais importantes para mim do que para os demais. E, apesar disso.
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