So let's love fully, let's love loud, let's love now.



Não tenhas medo.

I wanna world my teacher taught me everything. I wanna love like my parents told me it would be


no Colectivo Chato

Com luxúria como se diz no catecismo

"...Vou-te amar intensamente como nunca. Amei-te com avidez precipitação impreparação juvenil. Havia uma distância enorme de permeio e eu tinha de a preencher. Amei-te depois com luxúria como se diz no catecismo. E amei-te como cumprimento de um horário semanal. Com raiva humilhação quando andaste, eu nem sei se andaste lá com o teu colega do patarata. E porque é que não sei? Minha querida. Tinhas um grande orgulho ou vaidade no teu corpo, e desde a história do Bem sei lá o que tu querias. Seduzir, dares aos outros a possibilidade de partilharem do maravilhoso de ti e acirrares-me domesticares-me obrigares-me a ajoelhar. Silêncio - e já falei tanto. Vou pôr na rua da lembrança tudo o que não for da tua nudez, a amargura vexame sofrimento. Mesmo as alegrias que não são para aqui. Mesmo os filhos que também não - A vida inteira que passou. Preciso tanto de te amar - e como te vou amar? Não sei. Vou-te amar com o infinito da tua perfeição."

Vergílio Ferreira, Em Nome da Terra

If you’re ever lucky enough to have a perfect day, don’t let go of it, bank it, paint a picture of it. If you have a perfect day, you hold onto it…like it’s your dick.













Tu és o meu dia perfeito.
(foi de saudades que chorei.)

In a way that makes me smile

Quando quero falar sobre ti fico sempre sem saber que palavras usar, acabo sempre por me refugiar dizendo que és diferente. Não se pode enquadrar em qualquer definição comum aquilo que é incomum. Digo-te por isso diferente como quem diz que te ama, na esperança de que uma única palavra seja grande o suficiente para dizer tudo o que não sei pesar.

Speak to me baby in the middle of the night, speak to me, hold your mouth to mine 'cause the sky is breaking it's deeper than love

Somos a sorte que se criou no azar, sem poder renunciar à origem. É certo que tudo é esta imprevisível e por isso sempre surpreendente procriação de casos com acasos, destinos a devorarem os filhos, os filhos a brincarem ao toca e foge com a vida, é certo isso, que tudo se transforma e mais o que quiseres dizer, mas desequilibrou-se o mundo naquele instante. É por isso uma sorte que não pode escapar a um contexto e um contexto que dita esta sorte se a não soubermos gerir. Que os medos que herdaste naquele instante te não toldem o sentir sem medida: até mesmo ao lugar que se encontra vazio e que se diria sorte, é exigível a escolha de a ele o ocupar, a aceitação de ser ocupado. Esta sorte é pois uma falácia fácil só reconhecível a quem acredita pouco - amar e aceitar ser amado é uma escolha sob que condições seja. Ouve, o teu lugar é o teu.

Vendo I

Vendo Pack "Refúgios a Dois" d' A Vida é Bela, para utilização até ao final do ano, por 30€. Entrega em mão na zona de Lisboa ou por CTT sujeito a +2€ de portes.


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Clarice Sequer

Podem agora calar-se com isso. Dei o passo. Num momento menos reflectido, muito da pouca vontade de trabalhar, peguei em 20 textos, quase todos sobre ti, e enviei. Um word muito mal enjorcado, como diria a minha avó, por sorte lá me lembrei de colocar números de página e um cabeçalho onde assente o nome. No email, um texto seco, simples e presunçoso, como compete aos falsos escritores. Que abuso usar deste nome. E reparo agora que nem deixei um contacto, não pensar para não hesitar. Se for bom, será bom. Aí têm, façam disso o que quiserem. Pode começar o circo, está feito.

Insubstituível

A suposta indispensabilidade que te deram aumenta-te o ego, até a eles surpreendeu, não sabem talvez tudo o que têm. Mas não te enganes: ninguém, toma nota, ninguém é insubstituível.


Queres fugir comigo?

Estava meio tocado pelo vinho mas dizia, vermelho e risonho, que se lhe calhasse o Euromilhões fugia para o Brasil. E reparo então nisso: ninguém diz que vai, que faria vida, não se convida a ir. Dizemos sempre fugir, queres fugir comigo. No fundo, todos temos algo de que fugir no tempo que nos vai fugindo.

Ajoelhar e rezar

Pela sua natureza, àquilo que é justo não cabe o agradecimento.

You know I dreamed about you (I missed you for twenty-seven years).

É provável que me cruzasse contigo a caminho da escola ou quando voltasses dos treinos e fosse logo esse o momento, uma inevitabilidade.  Não são precisas condições para o que não se pode evitar. Eu olharia os teus olhos grandes de limpidez que mingam no sono e saberia. Ou podia ser a boca, sempre a boca, ou o jeito como mexes no cabelo. Não são precisos detalhes para o que não se pode evitar. Tu passarias por mim e haveríamos de entender o mundo todo, os bons e os maus nesse encontro, porque não é preciso contexto para o que não se pode evitar. Haveria de me orgulhar em todos os jogos, iria assistir a todos, e haveria também de me envaidecer em cada nota, na primeira fila. Haveria já nessa altura de te conhecer a pele e de te fazer amor na cama dos teus pais, às escondidas. Teria tempo bastante para me entender nos teus altos e nos teus baixos e para saber interpretar sem erro cada variante do teu sorriso, pois tens vários, até um secreto como na música, que, gosto de pensar, usas sempre só para mim. Por sorte minha, não é preciso tempo para o inevitável.

És sinónimo de inevitabilidade, a minha mais doce inevitabilidade.

(tens razão, só escrevo sobre ti.)

A notícia

Não sei quanto tempo esperaste pelo dia de hoje, por aquela notícia que te aliviasse o peito. Não é uma notícia feliz nem tão pouco uma notícia triste. Não cura mas alivia. É uma notícia que não muda o passado mas que sei que te vai mudar o futuro.  Não sei o impacto dela mas sei a sua importância dentro de ti. Abraço-te, por isso. Abraço-te e bastará esse abraço porque o teu alívio é o meu conforto, porque a paz que vais ganhando, noto-a em mim.

Uma verdade do céu, celeste

A verdade prepara-la-á, torná-la-á rija, mais forte neste mundo fraco. Talvez chore, dias haverão em que não vai compreender, outros, esses mais difíceis, em que compreenderá mas não vai aceitar, talvez grite e esse grito incendeie as aldeias vizinhas, levante ventos, agite o mar, só sabemos no depois. Ainda que doa, que seja crua e dura como dizem que é, será a verdade. Uma verdade que não tenha cores ou variações delas, transparente, dizem. Uma verdade que seja partida sem largada e fugida, e que fique sem precisar de se aguentar porque é pilar e o espaço todo em volta. A ela, promete-me, daremos sempre e só a verdade.

(contava-me que nunca lhes tinha mentido: as ausências para ganhar a vida, as viagens necessárias, a morte do avô, tal como as plantas ou os animais, também o avô. uma estrela, contou-lhes. quando comprou o carro com o tecto panorâmico, a pedido delas, entendeu que procuravam no céu aquela estrela, apontavam ao alto e viam o avô.)

Da externalização ou querer é poder

Não fazer acontecer ou é preguiça ou incompetência ou externalização ou azar. Venha o diabo e escolha.

(tenho cada vez mais noção do quão fui bem educada profissionalmente falando)

Dos momentos felicizáveis

O melhor são sempre as tuas palavras. Mais do que momentos felicizáveis dás-me, de facto, momentos felizes. Nunca esqueças isso.

(momentos passíveis de serem felizes. todos.)

Hoje veste o sorriso que te dei

Sei deste amor como quem guarda um printscreen: imutável e perfeito.

I wanna hurry home to you, put on a slow, dumb show for you and crack you up.

Dos palcos

Não são precisos os outros para lhe dar um nome. O amor não precisa de palcos. Aquele nome está-vos inscrito no sangue, sobressai-vos nos olhos.

Das medições

Esperei demasiado tempo pelas Cartas a Sandra, talvez o perigo tenha sido esse, o da espera. Quando o li obriguei-me a confessar a desilusão, supondo a autobiografia de cada carta. O escritor-ídolo, a quem jorravam torrentes de palavras do peito, o das convicções fortes, era afinal um homem fraco e subjugado. Não faz para não ser repreendido, cala para não ouvir, compreende tudo e é incompreendido em tudo, o amor é aquela humilhação que ele toma por sorte e gratidão. O escritor maior faz-se pequeno, não é sequer digno de desatar as correias daquelas sandálias, pobre diabo que não está à altura da mulher. Pobres diabos nós que, com tantos tamanhos e alturas no mundo, tentamos sempre medir-nos por alguém.

E todavia sei hoje a falácia deste julgamento. É preciso estar dentro da relação, sabê-la além das aparências e dos gostos fáceis, é um mundo maior do que o mundo, não dá para entender de fora. Um pouco como tu, felizmente.

She's completely nuts in a way that makes me smile.

There's no easy way to say this so I'll just say it. I met someone. It was an accident, I wasn't looking for it, I wasn't on the make. It was a perfect storm. She said one thing, I said another. Next thing I knew I wanted to spend the rest of my life in the middle of that conversation. Now there's this feeling in my gut: she might be The One. She's completely nuts in a way that makes me smile, highly neurotic, a great deal of maintenance required. She is you.

Californication, Dear Karen

Stand up straight at the foot of your love

FYI. Vais-me colocando a par dos teus passos e, se é certo que sei o tamanho e o apressar deles, sorrio ainda na tua preocupação com a minha. Confio em ti. Mais do que minha és de mim. Mais do que tua sou eu de ti e os teus passos são os mesmos que eu sigo.

Anyone's ghost

Haverá alguém a enviar promoções e outros a enviarem spam, parece que te calhou a lotaria num país distante, é mesmo verdade. Não sabem. A newsletter virá todas as semanas, talvez até a conta da tv cabo, talvez alguém a alertar que aquele produto só tem aquele preço até ao dia x, corre pois quem te avisa teu amigo é. Alguém que se esqueceu de avisar o amigo do amigo e que agora estranha, alguém que era demasiado distante para saber e que agora sempre o será. Insistirão os da tv cabo, ameaçarão com juros e tribunais se não responderes entretanto, há também as finanças e o extracto digital. A caixa quase cheia e mais uma notificação, todas as notificações possíveis, a caixa quase a arrebentar, a caixa sem espaço. A vida toda ali parada, as mensagens dela, deles, a minha, palavras de que te orgulhas e as outras que temes. As contas, as newsletters, os webmasters e as outras pessoas não sabem. Criaste a inquietude desta alma a debruçar-se sobre o abismo para te recuperar, não partas ainda barqueiro, aceita esta moeda.

Never let me go, she always tells me so.

Celeste, o futuro

Se eu disser que o futuro é celeste talvez só tu entendas a dimensão deste desejo. Por estranho ou contraditório que possa soar, nunca o futuro foi tão claro, encontro agora esta certeza nos passos, a convicção de conhecer o objectivo e ir preparando o caminho, endireitando as veredas.

Poderia ser hoje.

O filho do Machado

Descubro com espanto que o skinhead de extrema-direita que ama Portugal é filho do Sr Machado do restaurante, o senhor cuidadoso e simpático que me chama menina e que nos senta sempre na mesa escondida do fundo, certamente palco das melhores conspirações. O mesmo senhor Machado que, no exterior do restaurante, tem uma pequena mesa com uma colorida imitação de pássaros num cântaro e vem sempre perguntar como corre o almoço. Dizem as más línguas que o Mário, filho do Machado, é uma jóia de moço.

Anda a faltar-me uma Quarta-feira

Foi quando acordei, naquele estado ainda intermédio que se aloja entre o despertar e o sono, que me dei conta de que era o mesmo sonho de anteontem, com a diferença de, desta vez, me lembrar. É um sonho que foi soprado pelo José Luís Peixoto ou pelo valter hugo mãe, não sei bem, embora tenha a certeza que foi alguém com três nomes, só pessoas assim conseguem feitos destes.

O autor está lá longe e inacessível, rodeado de amigos. Vejo-o mas não lhe distingo as feições. Estou porém inclinada a acreditar que se tratava do José Luís Peixoto, aquela terra árida e alaranjada, onde aqui e ali despontam sobreiros cansados, tinha a cara dele. Havia também oliveiras igualmente cansadas, abrem as mãos sem ter o que pedir. Havia uma vaca corpulenta, castanha, de cornos largos e vistas sábias. Os sobreiros, as oliveiras, a vaca, também acontecia com eles. Era um palacete ou o que restava dele, uma muralha talvez, eu estendia o braço, rente à muralha, e ouvia. Uma voz nítida, presente, mas interior, como agora enquanto lês e ouves palavras na tua cabeça e a voz é outra que não a tua, não me digas que não ouves, presta atenção.

Eram versos, uma poesia incógnita, cada verso mais bonito do que o outro, uns metros há frente e eu maravilhada com aquelas frases, insaciável delas. Caminhava e, sem entender, queria mais. Um sobreiro, uma oliveira, a vaca, os versos poderiam ter qualquer origem, só era necessário estar atento. Havia outros como eu ali, de vez em quando cruzava-me com eles, notava-lhes o mesmo espanto e o mesmo encantamento, seguiam como peregrinos. Cá fora existia ainda um espaço vedado, umas grades finas que pretendiam separar algo. Ali, uma barraca dessas da luz que se vê pelas terras, caiada de branco e, junto à porta, embutida na barraca, a imagem de uma santa, embora o que se destacasse nem fosse a santa mas a pequena placa dourada que a legendava e que poderia dizer qualquer coisa como "oferta da câmara x" ou "Recordação de y" ou, simplesmente, "N. Srª de Z, rogai por nós". Tudo isto é muito estranho.

O avô dele, lendo isto, era bem capaz de dizer que me anda a faltar uma Quarta-feira. Deve ser isso.

O homem e o mito I

Todas as pessoas com nomes incomuns estão destinadas à humilhação ou à glória. Muitas vezes uma sucede à outra e aí está a sua fortaleza.

O homem e o mito

Reduziu o mito ao homem: perguntou se era um homem assim baixinho e que falava muito. Ainda que nos esforcemos, o espelho não nos contesta mas devolve o que procuramos afastar e exibe o que é para todos. Nunca tentes enganar um espelho para que não te enganes a ti mesmo.

Arde tudo o que cura (one time)



Would you tell me your name if I tell you mine?
Would you give me your life if I dare to try?
Would you find me again if I make you cry?
Would you marry me if I ask two times?

Would you give me your heart only for one night
Would we dance in the rain under the same light
Would we play different roles just to live two lives?
Would you smile again if I stop the time
Would you marry me if I ask you twice?
And if you still have doubts I can ask three times

Would our love be unique both of us unite
Would we sleep side by side, never say goodbye?

Da dedicação, que acrescenta

Agradecem a minha dedicação sem saberem que é a ti que me quero dedicar.

Da austeridade



















Desgraçados de nós, vítimas do sistema, coitadinhos sem solução. Que venham agora os de sempre, as greves e as manifestações, os indignados, a geração rasca e a geração parva, talvez a mesma coisa. Que venham agora os que no domingo das eleições tinham muito que fazer, os das redes sociais e os dos cafés a encher as televisões e as praças. Que venham todos. Um País não é um Governo, é um Povo e Portugal tem o País que merece.

(nada mais acrescentarei. i rest my case)

Cais Palafítico















Há sítios que não são deste mundo. Sítios que se fazem na imaginação e que fogem para a realidade, nesses momentos em que a realidade não consegue distorcer o que não lhe é. Não sei se eram destroços de uma ideia ou o começo dela, mas há algo ali que vale a pena olhar, um trilho que há-de galgar o mar.

Da escolha

Num dos seus romances, Kingsley Amis define «amor» como o estado de 1) querer ir para a cama e 2) não conseguir com 3) alguém que não se conhece bem.

n' A Lei Seca

The way I want to love you, well it could be against the law.


Vem.

O amor nem sempre é brincadeira, quer a gente queira ou não queira, as coisas são mesmo assim.

Nunca ninguém me falou assim. E, se o digo, não é porque nunca me tenham falado antes, não é isso, amei antes de ti. Mas é um facto, nunca ninguém me falou assim e, se me perguntarem, poderei sempre dar essa razão sem necessidade de pensar muito, embora existam muitas razões. Já quis reproduzir as tuas palavras só para que me entendam, a forma como sabem o seu destino, como chegam com certidão e preenchem tudo em redor. Sou apaixonada pelas tuas palavras. Sabes tanto. Nem sei porque disseste que querias dormir com as minhas palavras se são as tuas amantes perfeitas. Do caraças, lembro ainda, ou a vergonha que tinhas para dizer no blog, a kind of a gay thing. No início era o verbo, haverá gente suficiente no mundo que te dirá isso, e foi mesmo. As outras razões vieram depois, umas mais evidentes do que outras, meu tesouro, uma noite a fazer-se dia. E, porém, não sei decifrar o momento em que tive a certeza, apesar de hoje em dia, a cada dia, conseguir identificar sem problema o momento em que me volto a apaixonar. "meu amor", disseste, naquele momento tão necessário, resiliência, pensei, naquele momento que, como outros, nos vai formando. Nunca ninguém me falou assim e sorrio.

A dependência é uma besta que dá cabo do desejo e a liberdade é uma maluca que sabe quanto vale um beijo.

Do sacrilégio

Arrumar os livros na estante e colocar "Confissão dum homem religioso" entre "Porque não sou cristão" e "Genealogia da moral".

Das louras

Há dias vi Paula Teixeira da Cruz a sair de casa, os seguranças no outro carro, um outro a abrir-lhe a porta. Apesar de não gostar muito de louras, gosto muito da Paula Teixeira da Cruz, achei que deveriam saber. Não nego que possam existir influências políticas neste gosto mas antes disso são bem capazes de existem influências de estilo e de valores.

Progressão na carreira

Num dia skype call com o Presidente, no outro almoço com a Directora-Geral. Poderia parecer que estou a progredir na carreira.

Quando a espera não tem fim, há distâncias sem perdão.




E pediu-me
Que lhe levasse o medo,
Eu disse-lhe um segredo:
"Não partas nunca mais".

Matam-me os dias (as mãos vazias) II

Tal como é necessário saber preservar os medos certos é ainda mais importante saber escolher as lutas que queremos lutar.

(valerá a pena, sei.)

Matam-me os dias (as mãos vazias) I

E vou-me perguntando se é possível reerguer uma casa quando ruiu o pilar mestre, se haverá outro resultado possível  senão uma casa cheia de fragilidades.

Matam-me os dias (as mãos vazias)

É daquelas coisas que não precisa de testemunhas nem de chamadas ao tribunal porque toda a gente viu, porque é uma evidência que se nota no rosto, por si só.

Se está aqui é só porque me é necessário a mim, ninguém precisa disto senão eu.

O truque ou a tristeza sem fim mas com orgulho I

Não dizes que estás triste mas sim que estás a ser triste, não o estado mas a condição, não aqueles dias mas talvez todos, a verdade a esforçar-se para não chegar a mentira. Nesses dias há esta distância que se crava no pensamento, em momentos piores a ideia de que um abraço é pouco, quase inútil. Nesses dias a paciência é sempre pouca e as palavras são sempre a mais. Desses dias sei quase nada, fazem-se noites cheias de escuro e não te consigo ver. Nesses dias não és tu quem precisa de mim, sou eu quem precisa de ti.

O truque ou a tristeza sem fim mas com orgulho

Antes a tristeza chegava-me pelas costas. Agora aproxima-se como um conhecido que topo a grande distância e é mais fácil evitá-la, como quando se finge que não se vê alguém e essa pessoa finge que não reparou que fingimos não a ver. É surpreendente como a tristeza parece entrar no jogo e desaparecer. Não a julgava tão susceptível e isso agrada-me. 


I'm standing here until you make me move.


Even more.

O céu de todas as ruas do mundo

Pisamos o mesmo chão e dormimos debaixo do mesmo céu, a lua ia alta e brilhante, e acreditei naquele instante que, se a lua se mantém firme no céu, será simples para nós sobrevivermos. Quando acordei estarias já a caminho do aeroporto, outra vida a acontecer longe de nós, a outra realidade que é a tua. Não sei quantos dias terão de passar para que te volte a beijar os olhos límpidos, sempre tão límpidos, mas sei que serão sempre demasiados para o tanto que preciso da tua presença comigo. Enquanto tu percorres metade da Europa pelo ar, eu percorro metade de Portugal pela terra e, curiosamente, chegamos a casa à mesma hora. É fisicamente simples de explicar, esta situação: partilhamos de um mesmo amor, além do tempo e do espaço.

Para não sofrer tanto o peso da saudade, não conto os dias, não os saberei até. Faltará pouco, confio, tem de faltar. Agora prendemos a força toda dentro de nós e vamos à vida. 

Que a resposta não seja uma mentira


Naqueles dias luto contra seres invisíveis, negros de noite e fundos de mar, maiores do que eu, engolir-me-iam com uma facilidade que assusta. Não os vejo mas sinto-os a farejarem o ar, noto-lhes o bafo quente junto ao pescoço, um incómodo que aparece e se alonga, que ocuparia tudo o que conseguisse. 

Naqueles dias há duas forças que se debatem, pequenos demónios que se tentam devorar sem piedade ou consolo, querem levar-te, sabem da tua preciosidade. Nesses dias, forma-se um medo pequenino em mim. Vais te afundando naquele poço imenso e nasce-me o medo da sua força ser demasiada para a minha e não te conseguir segurar a mão, o medo que te abandones à sua insistência, por cansaço ou fraqueza, um medo real de que te levem e que eu não te consiga nunca mais trazer de volta para mim, daqueles medos que paralisam e congelam. Nesses dias, armo-me com o que de melhor tenho, vou além do que sei de mim, aguento e aparo todos os golpes para te puxar com força para o lado mais feliz da vida, esforço-me para te convencer dessa possibilidade. 

Nesses dias há, sim, aquele medo mas a mesma determinação em te renovar o coração de destinos e o povoar de vida. Pode haver medo, aqueles dias podem ainda ser mais do que os que consegues aguentar, seguramente mais do que mereces, mas não desisto, persisto, não te largo nunca a mão. Fica deste lado da vida, do meu lado. 

Das imperfeições

Talvez a perfeição não seja mais do que a soma das nossas melhores imperfeições. Gosto-te pelo cuidado que confias às minhas. Sem pudor, nojo ou vergonha, sabes cada uma das minhas imperfeições, as do corpo e as do espírito, e tocas-lhes com a mão toda aberta em aceitação e desejo. É preciso saber-se da imperfeição para comungar daquele estado feliz dos momentos perfeitos em que somos indivisíveis.

Dos regressos

Não tenho jeito para regressos porque nunca chego a partir (de ti). Fico.

Que vivas bem a vida

Estava sentada a ler as Cartas a Anaïs Nin, debaixo da sombra da palmeira, à tua espera e o sem-abrigo, que já antes tinha dito boa-tarde, aproxima-se. Talvez já nos trinta e alguns ou quarenta e poucos mas com um sorriso rouco que dá gosto ver, a barba curta e o cabelo pelos ombros, calções pelo joelho, poderia ser um pescador. O ar latino e o calor da língua espanhola que lhe suavizam a imagem de ser apenas mais um bêbado abusivo. Pergunta-me de onde sou mas não lhe dou conversa, depois afasta-se e deseja-me no seu espanhol algo como "que vivas bem a vida!".

Penso na sensibilidade e precisão dessa frase tão sábia. Não felicidades, não amor, não essas coisas que se dizem por aí em momentos mais ou menos formais e mais ou menos autênticos, mas a simplicidade toda ali resumida na boca daquele sem-abrigo, viver bem a vida, com tudo o que isso implica.

A vida seria isso a acontecer fora e dentro de nós, em todo o lado, em toda a volta, e ele sabia disso muito bem.

Lições aprendidas ou o post com palavrões disfarçados de caracteres especiais

Por ordem de aprendizagem:

- não assumir que as "#&%/%"#/$%!! das bilheteiras dos terminais rodoviários funcionam 24h;
- levar sempre a "!$/!%"W&!)"/ do cartão de crédito;
- recordar que, depois da meia-noite, a %!#%$ da data já é outra;
- garantir sempre que a "/%$!"&% do telemóvel tem bateria suficiente ou levar carregador;
- não esquecer que é difícil arranjar a &$%&/$!I% de um quarto em período de época alta;
- nunca, mas mesmo nunca, deixar a #%/$"#)/!$!%"#/! do carro na estação rodoviária de Sete Rios.

Dizem que quem vai ao mar avia-se em terra. 
Rio na tua preocupação, digo-te que a idade te trará paciência, nem preciso de te dizer a ti que há coisas piores. Beijo-te a fronte e digo para não te preocupares. Correu tudo bem.

Don't underestimate the things that I will do

Por ti todas as loucuras. Pelo teu sorriso que salva.

Blá-blá-blá

Agora sim, chegou o momento de me dirigir a ti: envelheces um dia por dia, cada dia a mais é um dia a menos. Eu sei que há isto e aquilo, há as outras pessoas e a grande quantidade de coisas que pensas que elas pensam, mas queres uma novidade? As outras pessoas estão-se lixando. Se fizeres aquilo que é imperativo que faças, a respiração das outras pessoas não se perturbará mais do que um nada invisível. Estás à espera de quê? Não respondas, tudo o que puderes dizer será uma espécie de blá-blá-blá.

in Abraço, José Luís Peixoto