2013

Não tentes os balanços, os planos, as listas. Não tentes fotografias, passas, pedidos. Esquece tudo o que te disse. Queima depois de leres. Guarda apenas o verso eterno: mas, se hoje me puderes ouvir, recomeça. Recomeça. Tens 365 oportunidades.


So she ran away in her sleep and dreamed of paradise.

Mede tudo e encontrarás o tamanho do nada

Mostra-me o teu lixo e dir-te-ei o tamanho do teu Natal. Este País é estranho.

So this is Christmas

A alegria de ser Natal II

Eu e o meu pai comemos o bacalhau com couves, o meu irmão e a minha mãe bacalhau com natas. Abrimos os presentes ainda não eram 22h, vimos um pouco do A-Team - filme apropriado ao espírito natalício -, e faltava pouco para a meia-noite quando fomos dormir. Talvez o verdadeiro momento de Natal tenha sido enquanto víamos a casa dos segredos, ríamos e comentávamos, esquecidos da febre súbita da minha mãe e do alto que lhe surgiu na perna. Ela gostaria que ganhasse o Jean-Marc (?), mas afiancei-lhe que vai ganhar o Rúben. O meu irmão perguntou de onde me vinha tanta confiança, que nem sequer vejo aquilo. Disse-lhe que tinha as minhas fontes mas também poderia ter dito que eram estatísticas.

A alegria de ser Natal I

Eu pedi uma estante, o meu irmão um cofre. Diz-me o que recebeste e dir-te-ei quem és.

A alegria de ser Natal

Todos os anos o meu pai traz-me do grémio um calendário de parede, daqueles em que se arrancam as folhas para passar para o mês seguinte. Já percebeu que, naturalmente, não coloco aquilo no quarto mas, ainda assim, traz-mo sempre. Escolhe sempre um com animais. Desta vez foram gatinhos.

White lies

Pergunta-me por que é que não aproveito para ficar no Sana de Sesimbra e diz-me maravilhado que ouviu dizer que o hotel tem piscina no terraço, que o ocupa todo. Gostava de lhe contar que estive lá há uns meses e que sim, é espectacular, e é fantástica a vista que se tem, quer da piscina quer dos quartos, virados para o mar, a lua toda a reflectir ali. Gostava de lhe dizer que na casa-de-banho se ouve a televisão como se estivéssemos no quarto porque tem um sistema de som qualquer. Gostava de lhe dizer que vale a pena mas que os empregados do restaurante são um pouco destrambelhados. Gostava de lhe mostrar todos os motivos mas isso arrastaria a necessidade de outras explicações. Então, digo-lhe só que deve ser altamente ter uma piscina no terraço e que um dia vou lá. Tenho um secreto gosto nas minhas pequenas excentricidades. Quem precisa do Euromilhões?



(não tenho medo de voltar aos sítios onde fui feliz.)

As vantagens de ser invisível I

Eu - Ia pai, esqueci-me de vos dizer: vou ser colunista na edição de Fevereiro de uma revista estrangeira na minha área!
Pai - E o que é que ganhas com isso? Vão pagar-te?

It would just break it



 O mesmo mar meu. As mãos. Casa.

It's the end of the world as we know it I

Tenho para mim que o mundo já acabou há muito tempo e ninguém reparou.

(o que te falta fazer?)

It's the end of the world as we know it

Na mesma semana que antecede o Natal e para a qual se anunciou o fim do mundo, tanto a Sábado como a Visão fazem da capa Jesus. Ah, o conforto da previsibilidade do mundo!

O suor do teu rosto

Entre o suor do meu rosto e o crédito dos outros quem saiu a ganhar fui eu. Lucky me.

O dia em que não desviei o olhar

Poderia ser um estripador, um ladrão, um bêbedo ou só um maluco. Vi-o a aproximar-se e caminhar na nossa direcção, sozinhas no escuro, e o coração não se alterou. Ao seu olá respondi olá. Depois não largou o meu olhar durante segundos que pareceram infindáveis e o coração não se alterou. Não desviei o olhar ou, como disse a minha colega, fiz-lhe braço de ferro. Dez, talvez mais segundos. Fiz-lhe até um gesto com a cabeça para o incentivar a falar, que repetiu, e continuou a olhar-me. Depois disse finalmente: "eu sou um estudioso do comportamento humano. Vocês não me provocam nenhum impacto mas...tu tens personalidade". A boleia chegou e apressei-me a dizer-lhe obrigada e a desejar um feliz natal, que retribuiu. E não sei se foi da noite bebida ou da verdadeira ausência de medo mas este terá sido porventura o primeiro dia em que não desviei o olhar e isso fez-me o dia. Parece que tenho personalidade.

Do deslumbramento

Há dias um ex-formando disse que ainda ia ouvir falar muito de mim. Ontem um premiado profissional da minha área comentou um link meu. Hoje um colega chamou-me um carinhoso "professora" e uma reconhecida expert da área disse que eu tinha um "impressive profile". Like a boss.

Why do you stay in prison when the door is so wide open?

O que sentes não é importante. Tão menos o que dizes ou escreves. O que importa é o que fazes com o que sentes, é o que fazes com o que não dizes e não escreves.

Médico, cura-te a ti mesmo

Dizem-me que chegaram aqui procurando “em caso de dúvidas ou persistência dos sintomas contacte o seu médico ou farmacêutico”, brilhante ironia. Aqui não encontrarás a cura. Não se peça ao médico que se cure a si mesmo. Tens o caos todo dentro de ti, portas abertas que terás de fechar antes que tudo seja possível. Os poetas dirão do som ensurdecedor do silêncio no tamanho dos dias e rir-lhes-ás na cara. Haverão de trazer-te o consolo e a esperança e cuspirás no seu rosto. Que se cale deus e os seus desígnios insondáveis. O silêncio é isto e nenhuma palavra é suficiente. As palavras que te trazem são as mesmas que te levam agora. Vai até ao fim do mar. No último momento doer-te-á o fôlego mas insuflar-te-á de vida. Se hoje me puderes ouvir, que recomeces. Que te baste um pouco de céu, o toque da tua mão sobre as bochechas quentes de um recém-nascido, e serás celeste.

Stop this train


A culpa é das estrelas, cantou.

Diz-me a profundidade do teu fundo, o tamanho da tua solidão. Mas não mos digas de rompante e sem defesas ou com a urgência de uma angústia. Não mos digas também no desespero de um silêncio, quando os olhos já não se fecham. Diz-mos como tos são e como os sentes. Quero mudar a cor dos teus dias. Aprender ainda da humildade do amor. Pegar-te pela mão e descobrir-te o peito. A vida é possível.

Estado de espírito

"Há coisas sobre as quais não se pode escrever como sempre se escreveu. Algo muda. Primeiro os olhos, depois o coração – ou os nervos ou aquilo a que os antigos chamavam alma – e finalmente, as mãos."

Agora e na Hora da Nossa Morte, Susana Moreira Marques,
via Bibliotecário de Babel

Shine bright like a diamond


Era uma vez um coração sempre a bater, a bater, a bater.

"Se o Pai Natal não vier vou com a madrinha ao Pólo Norte ter com ele."

(Mauro, 4 anos)

Baltic Countries

A oportunidade só o é quando perseguida, alimentada, finalmente conquistada. Até mesmo as oportunidades exigem uma resposta ou, de outro modo, são moribundas de sentido. És tu quem escolhe a oportunidade, és tu quem a faz portanto, porque podes escolher correr atrás dela ou deixá-la passar. Todo o acaso resulta de um conjunto de decisões, mesmo que agora ainda não o saibas.

Poderias por isso ter deixado passar a oportunidade, é possível que lá estivesse até antes, mas agora surgiu-te como uma epifania, um destino que se quer fazer cumprir. Vemos o que queremos ver. Corres a apressá-la. Desta vez vais até ao fim. Com sorte, os telhados serão ainda mantos de branco e haverei de sorrir em cada regresso.

Enough now

Disse que encontrar o amor da sua vida seria um evento triste. Quando, intrigada, lhe questionei porquê respondeu que ainda queria ter muitos amores na sua vida.

You're a shooting star I see

Um teólogo que se torna gestor de projecto, uma advogada que se torna operadora de call center, uma cozinheira que se faz médica. Não queiras fazer planos para a vida. Não a tentes adivinhar. A vida é uma coisa sempre diferente.

Da gente poucachinha

Disse que não existia gente má, existia sim gente poucachinha.

Do melodramático (o último)


I need a friend to make me happy



Que te desperte um sorriso.

via Viagem Les

Good things come to those who wait

A mulher que eu amo sabe a distância certa entre o abraço e o beijo. Sabe quando me deve abraçar e quando me deve beijar. A mulher que eu amo sabe a distância certa entre a presença e a ausência. Sabe quando se deve afastar e quando é necessária. A mulher que eu amo és tu, aquela de quem preciso presente, agora.

(sempre fui eu a precisar de ti.)

Awake my soul

Olha bem para ti. Acorda. Pára. Para que não magoes. Para que não te magoes. Vai aonde precisas de ir. Voa. Só depois podes regressar. Esquece o amor. Não há tempo.

I'll fight with you

Hoje, se não te conhecesse, haveria de te querer conhecer. 

(larga o mundo e agarra a minha mão.)

My mamma told me that sometimes people have to cry out all the tears to make room for a heart full of smiles.‏

Do eterno retorno

As mesmas histórias, as mesmas dores, as mesmas palavras, os mesmos gestos. Somos aquele eterno retorno.

Quantos gritos cabem num silêncio

A aceitação é uma mentira que insistimos em contar. Ninguém aceita. Procuro-te ainda as palavras, chamo-as ainda, mas palavra não puxa palavra nesta urgência quase obsessiva. Hoje não será diferente. Vais-me afastando, até que a vista não se turve e tudo seja claro. O efeito adverso é sempre incontrolável. Persisto no erro, os meus passos nas pegadas dos teus passos, com medo de que o caminho se desfaça e se cubra de ervas, intransitável. Secretamente, peço-te que não me afastes, que não te afastes.

Este chão já não tinha espaço pra tudo o que foge.



só hoje esperei
já sem desespero
que a noite caísse
nenhuma palavra
foi hoje diferente
do que já se disse
e há qualquer coisa a nascer
bem dentro no fundo de mim
e há uma força a vencer
qualquer outro fim

Deixa sair o sol

O circo do Victor Hugo Cardinalli, em Lisboa por estes dias, anuncia pela primeira vez em pista leões brancos juntos com leões normais. Ainda há razões para sorrir.

We will never be the same I

A história, qualquer que seja, dimensiona-se em tempo e espaço. Não esqueças isto.

We will never be the same

Situações diferentes não se resolvem com comportamentos iguais, palavras iguais. Gerir em vez de resolver, como bem disse. Não julgues que sabes, diz-me. Respeita, diz-me.

(não faças isso, oiço.)

But I'm up here holding on to all those chandeliers of hope.





Christmas night, another fight
Tears we cried a flood
Got all kinds of poison in
Poison in my blood

I took my feet
To Oxford Street
Trying to right a wrong
Just walk away
Those windows say
But I can't believe she's gone

When you're still waiting for the snow to fall
Doesn't really feel like Christmas at all

Up above candles on air flicker
Oh they flicker and they float
But I'm up here holding on
To all those chandeliers of hope

Like some drunken Elvis singing
I go singing out of tune
Saying how I always loved you darling
And I always will

Oh when you're still waiting for the snow to fall
Doesn't really feel like Christmas at all
Still waiting for the snow to fall
It doesn't really feel like Christmas at all

Those Christmas lights
Light up the street
Down where the sea and city meet
May all your troubles soon be gone
Oh Christmas lights keep shining on

Oh Christmas lights
Light up the street
Light up the fireworks in me
May all your troubles soon be gone
Those Christmas lights keep shining on

The search II

Recebe o que conseguires. Vê o que puderes. Ouve tudo. Sente tudo. Aceita e não desperdices nada.

The search I

Escolhe a tua montanha.

The search

Não é a paixão. É a centelha.

Falou-me de ti e estava feliz.

Volto ali mais vezes do que aquelas que tenho coragem de confessar, oráculo que tudo sabe, presença que sempre te embalará o sono. Em cada rua, em cada passo. Nos momentos tristes volto ali para saber o amor e a abnegação, o abandono total e livre à tua vontade. Ama e faz o que quiseres, ama tudo, ama sem medo e sem tamanho, de peito aberto e alma exposta. Volto para saber que nada disto importa, que isto passará e é menor porque existes tu no mundo e volto para recordar do tempo que é sempre pouco. Volto para sentir que é possível. 

(Ajuda-me agora.)

Onde tudo morre, tudo pode renascer.

Dizem-te que acredites, que confies, que esperes. Fé, esperança, caridade. Dizem-te que amanhã será melhor, o tempo, o tempo, o tempo que resolve tudo, deus é afinal o tempo e ainda complicam tanto a descobri-lo. Dizem-te o que sabem dizer e o que não sabem dizer. O amanhã é demasiado longe para a eternidade de cada dia, o resto dos dias. Partirias sem dizer adeus. Estás tão cansada. Não te censuro. Acreditas que não te censuro, que compreendo?

Olha para mim agora, sem que os olhos se afastem, sem que as mãos se larguem. Vê além da noite, estamos tão para lá disso. Estas linhas não sabem de ti mas querem saber. Eu não sei nada mas quero saber. E enquanto existirmos nós, que saibas que existirá a minha mão na tua, um abraço que não dói, que saibas que não vais inteiramente sozinha nessa viagem, vigiarei ventos e marés, sereias de cantos enganadores e adamastores só para que chegues bem. Porque onde tudo morre, tudo pode renascer, escreveste um dia. Porque o mar se reinventa todos os dias. Porque quero que fiques e que nunca partas. Porque um dia houve em que disseste que querias ficar. Não te largo a mão.

T2: segundo titular

"(…) O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” 

Carta de S. Paulo aos Coríntios 

(hoje perguntaram-se se andava bem. gostava de ser mais como tu.)

Don't you worry child

Um esforço imenso para não sair a contar-te que o pijama guardou o teu cheiro.

(a vida é tão breve para que percamos tempo a conter o que não cabe em nós, amor.)

Tempo infinito para que a voz cresça e se transforme em canto

esperar que os teus olhos se pousem nos meus. esperar que a chuva pare e tu irrompas na claridade das nuvens abatidas sobre o mar. esperar um gesto, uma palavra que faça o corpo mover-se em direcção a ti. mesmo que eu o não deseje. mesmo que o mundo desabe nos lábios sobre os lábios. e nenhuma palavra seja possível tonar-se à flor da saliva. amo-te, se era isso que querias ouvir dizer. amo-te no silêncio e no medo de despertar em mim as palavras que tu entenderás. e me comprometam, e me desarmam. amo-te vagarosamente. peço-te, dá-me Tempo para que as palavras se formem e tomem sentido, se organizem de modo a serem a fala simples e imediata dá-me tempo para reconhecer o meu corpo esquecido algures na treva duma memória que eu tento esvaziar. dá-me Tempo para aperceber de novo a falsidade dos espelhos, e de novo construir a minha sombra, o meu reflexo, a minha solidão. dá-me Tempo, Tempo infinito para que a voz cresça e se transforme em canto. Tempo, quero Tempo, para redescobrir a dor.

Al Berto, Diários

(tu disseste que era amor. eu disse-te que era dor. e talvez seja a mesma coisa)

I only trust in the things I feel

Banana boat

Escava na neve até encontrares o meu coração. Ainda que gelado, bate.

God only knows what I'd be without you

A minha agora ex-namorada a ligar à minha ex-namorada para me marcarem um voo de regresso. A neve toda em volta, árvores brancas, um cenário de magia, crianças felizes a observar os coelhos e velhinhos que aquecem as mãos, uma respiração que se sente no ar, a música de natal que envolve tudo. Um cenário de que não sei falar melhor, de tão perfeito.

Gosto muito de comédias românticas. Gosto dos meus amigos que me dizem que as comédias românticas têm sempre um final feliz.

Palavras do sábio Abel na casa do amigo Silvestre I

A felicidade não é coisa que se conquiste. Hão de dizer-te que sim. Não acredites. A felicidade é ou não é.  

José Saramago, Clarabóia

(enquanto a tua mão procurar a minha, serei feliz)

De Lisboa, com o amor

Tal como todos os fins, este terá sido precipitado. Poucas decisões são valorosas se tomadas às 3h da manhã de uma noite sem fim num quarto de hotel e sozinha num outro País. Tal como todos os fins, deixa um rasto de esperança. Este não será ainda o fim. Preciso que me vejas, que não me esqueças, que me saibas ainda. Não sairei daqui, não vou a lado nenhum. Chama e estarei, como no início, como sempre. Haverei de sorrir e haveremos de ficar bem, com convicção e certeza, foste tu quem me ensinou esse truque. Esperarei o futuro sem perder o presente. Esperarei o tempo suficiente, mesmo que seja todo. Nenhuma esperança é em vão. Não digas nada. Que o tempo seja bastante para nos resolvermos mas não tanto que nos afastemos. E, porém, não temo. Nada se perde. Não nos podemos perder daquilo que somos. Este não será ainda o fim.

De Riga, com o amor (but I need B. to tell you, that I love you, it never rests. And I’ve bled every day now, for a year, for a year.)

este e o fim, mal escrito como este teclado sem acentos. tal como todos os fins, chega sem sentido, abrupto e inesperado, melodramatico como convem. ainda respira mas e-te um peso, tentas ignora-lo, abafa-lo entre uma ou outra inquietacao e nao consegues. por isso asfixia-lo. ele geme, aterrorizado e surpreendido, esperneia, cede e morre.

um dia entenderas que o amor nao faz mal e so pode aliviar o peso, nunca pesar. tentei todas as palavras, usei-as todas e nada mudou. fui, vim - continuo aqui ainda agora enquanto escrevo, na verdade - e continuou a ser o fim, ainda com o artigo determinado, a mesma determinacao com que hei-de sempre procurar-te os olhos limpidos.

estou vazia. noutro tempo, noutro lugar, noutro contexto talvez , essas merdas que sempre se dizem, talvez, ainda que o futuro se faca de hojes.

ha pessoas que nunca conhcem o amor. ha pessoas que perdemos sem que possamos fazer nada. que te (a)percebas e que nao seja tarde. diras que e o melhor embora eu nao saiba para quem. estaremos ainda juntas no mesmo sangramento, todos os dias desde este dia.

Nao se diga pois mais nada. Nao consigo. Isto e o fim do blogue.

Da existência periclitante

Quem se entristece nas pequenas coisas, alegra-se também nas pequenas coisas.

You took a chance on a losing game

Learn me

Por mais tempo que passe, por mais experiências que tenhamos, por mais consolidadas que estejam as nossas crenças, por mais que trabalhemos a auto-suficiência, nunca deixamos de esperar. Uma vida sem expectativas é absolutamente inconcebível. Esperamos coisas de nós e dos outros. Esperamos que o telefone toque. Esperamos ter e-mails para ler de manhã. Esperamos ser surpreendidos. Esperamos que as pessoas que somos sejam motivo de alguma coisa, um gesto, uma frase, uma atenção. Acreditar num Humano absolutamente despojado, imune àquilo que o mundo lhe traz, é o mesmo que acreditar que somos máquinas. E até mesmo estas, se não forem usadas, acabam por avariar. O pó fixa-se-lhes nas entranhas, deixam de arrancar. O que acontece é que, seja por amor, seja por birra, tendemos a esperar coisas erradas.

no Colectivo Chato

Take me to the place where you go, where nobody knows if it's night or day.


You ain't exactly sure if you've been away for a while.

Corremos todos para um ponto de não-retorno. Sem que nos apercebamos, todos os nossos passos nos conduzem para lá. Feliz de ti se vires a tempo os sintomas, se não pensares que são outra coisa, se não achares que é normal, feliz de ti se não te abandonares ao inevitável como quem se abandona ao cansaço de um dia qualquer. 

Quero tanto que me conheças que corro o risco de me conheceres toda. Que o mistério não se perca. Que te consiga ainda surpreender e que isso não se resuma ao facto de não saber quais os valores normais para a pressão arterial. Que a tua barriga se forre de borboletas nos minutos que vão do meu abraço ao teu. Que a espera seja sempre longa para quem se quer tanto. Que a tua boca seja a minha perdição e a minha salvação ao mesmo tempo. Que o meu nome seja a incandescência do desejo quando o pronuncias tu. Que queiras ainda dormir com a palavra e com a mulher. Que as seduzas e as sequestres, que as domes e as despertes. Que as palavras te inflamem ainda, que te molhem, assim, sem pudor. Que te molhem. O amor não é uma coisa respeitável que se possa idolatrar. 

Sopra a brasa para a incentivar e fortalecer mas cuida o sopro à chama. Que não se apague.

Sitting here in silence

Às vezes dá jeito ir de metro só para poder ver o que se passa, multidões como escaparates, pessoas como espelhos que perderam o brilho. Não obstante um ou outro dia, é uma viagem agradável de se fazer. Foi lá que descobri que ela lançou outro livro, a escritora mais lida em Portugal. Ela diz que a maneira mais bela de recordar os outros é sermos a pessoa que fizeram de nós. E pensei nesse momento que essa poderia, de facto, ser a maneira mais bela mas era igualmente a maneira mais enganadora. As recordações, como os hábitos, renovam-se.