Iniciação aos Jogos Sem Fronteiras: das pessoas

A Americana que não queria jantar sozinha e que foi viajar só para poder renovar o visto. A Canadiana loira fofinha e a conterrânea que vai trabalhar por um mês num hostel na Roménia, embora quando crescer queira ser consultora de gestão. O Polaco que me perguntou se a Alameda é uma boa zona para se morar. O Americano que é fascinado pelo nevoeiro e que tem uma colecção de fotografias de sinais de trânsito no iPhone. Eles, do meu distrito, tão jovens e inocentes, a quem secretamente desejei que a distância não apartasse, agora que ela ia começar o Erasmus. Eu, Portuguesa, num bar na Hungria, acompanhada de um Húngaro e um Checo, a conversar com uma Australiana sobre Golders Green, em Londres. Eu a falar do António Damásio e ela a dizer-me que cangurus são diferentes de wallabies. A Eslovaca, ainda estudante, que não sabia se preferia vir a trabalhar em Budapeste ou em Bratislava. A outra que trabalhava em Viena como assistente social mas que queria mesmo era ser actriz e que, quando lhe disse que a vida era curta para não se fazer o que se gosta, me perguntou se eu tinha Facebook. A Espanhola que me desenhou o itinerário em Viena e, não sei porquê, escreveu-me como se pedia um copo de água. A Russa que fazia questão de contar todas as aventuras do dia, vaidosa da sua esperteza de arranjar os bilhetes baratos para a ópera. O desconhecido do meu lado a desenhar num caderno a barraca dos kebabs. As Eslovenas e Eslovenos, pessoas tão bonitas. Ah, a vida, só mais um bocadinho.

(sou ainda uma pessoa facilmente impressionável pese embora a tendência para a realidade, porém, nunca haverei de deixar de me maravilhar com a relatividade do mundo.)

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