Quando eu fugir, não deixes de comer, de sorrir, de subir ao cabeço, de ver como são bonitas as auroras, toma conta das ovelhas, têm um coração carente e são medrosas, nunca as assustes, é muito triste. Não deixes de ser malcriado. Quando deus ficar feio vai arrancar-nos a cabeça como se espremesse um bago de feijão. Porque somos imbecis, aprendemos nada e sonhamos com o que não nos compete. Tu nunca deixes de namorar, Einar. Atira-te às raparigas. Pões-lhes as mãos no rabo, lembras-te. Elas vão dizer que não gostam, mas estarão sempre a mentir. Convence-as de tudo, e faz-lhes filhos, não te importes que sofram. Elas vão ter de sofrer de qualquer maneira e não vale de nada a vida se não a jogarmos por inteiro. Traz as raparigas para aqui e faz-lhes filhos bonitos. Se nascerem rapazes, serão sempre Hilmar. Se forem meninas, tu sabes, podem chamar-se Halldora. Mas tu não guardes vazios os meus lugares. Deixa-me ir. Olha pelo meu pai. Se ele te falar dos poemas, ouve tudo. É a única coisa que conta, a poesia. No lugar da Islândia colocar um poema. No lugar do coração colocar um poema. Depois, dizê-lo uma e outra vez, até ser tudo.
valter hugo mãe, A Desumanização
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