“Ainda te lembras disto?”

Não contava que o céu se pusesse de repente de mil cores cintilantes mas não lhe ficaria mal se, uma vez por outra, despertasse diferente a acompanhar a vida, por exemplo. Quando acordei estava tudo igual e isso pareceu-me do mais descabido absurdo se, afinal, havia tanta coisa que mudara. A realidade em redor, a de hoje tão igual à de amanhã, seria por si suficiente para atestar tratar-se de mais um episódio de loucura, como uma miragem ou uma visão, e, porém, eu tinha a certeza que não, desta vez não podia ter sido uma visão porque a felicidade era aquilo e aquilo tinha-me acontecido. Era certo que o dia não fechou mais cedo, que não estou de t-shirt, e também os prédios mantêm a sua forma, eu esta enfadonha rotina, contas para fazer e para pagar, mas não podia ser uma coisa só da cabeça quando havia marcas espalhadas por todo o lado, provas, vejam, vejam. 

O céu sossegado, indiferente, sem se deslumbrar com o meu peito em chama, chega quase a incomodar. Talvez já tenha visto muito disto e saiba do que isto é feito, como é fugaz a felicidade, como é legítimo o que se confunde e ao mesmo tempo tão convincente. Escolho o céu doutro sítio.

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