Coincidência? .|.

Não que tivesse desistido mas o corpo cansava-a, tempo passara, a vida já estava toda arranjada, e ela resignou-se a aceitar o mistério, porque já não lhe sobrava mais que pudesse fazer. Sempre que lhe perguntavam pelo neto, ela já não chorava, já não se perdia em pensamentos e impossibilidades, já não imaginava histórias e explicações. Baixava a cabeça e respondia que "não", não havia neto. 

Quando, já nos seus 97 anos, aquele desconhecido lhe apareceu à frente, ela não poderia imaginar que era um neto seu, o tão procurado. Ele, de coração na boca, não o poderia revelar ainda, há um tempo que é preciso recuperar aos poucos, acalmar a alegria de descobrir finalmente alguém, a sua avó. Falaram-se como boas pessoas, são a partir daquele dia um pouco mais completos. Continuam lúcidos das voltas do mundo, perdendo-se e regressando nele, sorridentes de sempre chegarmos aonde nos esperam.

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