Que dizer de nós.


Breviário de encher chouriços ou Sempre que a morte ronda, dá-me uma vontade estranha, quase obscura, de ler Vergílio Ferreira.

Não esperes pelos dias calmos ou pelo verão. Não esperes que o medo passe, que a dor passe, que os dias passem. Não poupes o coração de sentimento algum. Não guardes o melhor para depois. Não adies nada.

Alta definição ou Esta música não me acende

Não gosto de pessoas que fazem do seu local de trabalho a sua casa, enchendo a secretária com plantas, fotografias da família, desenhos dos filhos a lápis de cera. Quem não tem fronteiras é também, quase sempre, quem não respeita a dos outros.

O amor é como o sol.


Não se escreve sobre o óbvio, disseste.

E desde então não consigo escrever nada de jeito sobre o que fazes em mim.

Do futebol como da vida: não é como começa, é como acaba; não é (só) amanhã, é (só) hoje.

Quando perguntou se poderia ser antes um gestor, respondeu que sim, desde que não fosse um borra-botas. E eu sorri, naturalmente, mas já não sei se foi por mim.

Esta poderia muito bem ser a fita de graduação que nunca te hei-de escrever.

Se o vento mudar de direcção e se nos desencontrarmos na estrada, que saibas hoje que não duvido por um segundo. Haverás de ser a maior. Porque não conheço mais ninguém que ambicione com tanto detalhe o seu futuro sem porém se prender a um único plano. Há tantos caminhos, disseste, e nunca mais esqueci. Porque não te distrais nas quedas e nos meios, porque sabes o fim a que buscas. Porque não conheço mais ninguém que coloque tanta determinação e tanta paixão num tópico, ninguém tão completo no seu conhecimento do que importa, em altura, profundidade e comprimento, e cumprimento. Porque sacrificas a vontade e te obrigas a lembrar o porquê a cada manhã, recusas teorias enciclopédicas e firmas e confirmas o trabalho e a vocação pela prática dos dias. Porque sabes ver. Porque não tens dúvidas de que vais ser a maior, haverás por isso de ser ainda maior. E eu poderei então dizer que sempre soube, a boca escancarada de vaidade para dizer que nisto nunca te sobrevalorizei. O mundo é uma aldeia e tu és a maior.

You're the summer of my life.

Em caso de dúvida, prefiro esclarecer a vontade a esclarecer a verdade.

Baby we both know that the nights were mainly made for saying things that you can't say tomorrow day.


Inspira-me com a tua inspiração (sempre foi assim).

Depois era sempre assim, uma suspeita livre de confirmação, uma equação maior do que eu. As palavras não eram hesitações mas eram sempre defesas. Iam sem regressarem. Cruzo-me com elas e não sei já de quem vou ao encontro. Continuo pó no universo em busca de um significado simples de existir. Arrisco a imparcialidade do meu julgamento por um único sussurro da sua boca que chegue inequívoco a fazer luz. Perco-me nos sentidos de sentir e naqueles de significar e amedronto-me nas incertezas que a história levanta porque a história repete-se sempre, as metáforas sempre redondas. O momento tantas vezes adiado faz-se de efemeridade e urgência. É fácil olhar para trás e apostar um resultado. É possível ter nostalgia do futuro. Eu olhava e era sempre assim, um burro e um palácio, um entendimento de ludibriar leigos ou a clareza a quem vê o que quer ver, o mistério que se desmente pelos factos a quem é de factos. O peito, porém, não aceita estatísticas e convence-se do que lhe aprouver. Quero repetir-te. Se preciso for, seguir cega mas determinada a esclarecer a vontade e ganhando pelos teus olhos o discernimento do mundo. Só os meus olhos a olhar nos teus, como naquele momento que imobilizei no tempo para memória futura, poderiam agora vir dizer tudo. E então, talvez deixasse de ser sempre assim.

We laugh until we think we'll die.



Home.

Melhor é experimentá-lo que julgá-lo.

Se o final de todas as histórias for já conhecido e repetirmos as mesmas graças por todas as vezes, saberás, ainda assim, ao que vais. Metes a vida toda dentro de um pressuposto e fá-la rolar. Abres os braços e seguras com força o que vier de volta. Não ignoras a inconstância da fatalidade ou o emaranhado de elementos que fazem a sorte, a incerteza imensa que te faz estar aqui neste momento que já passou enquanto te demoraste a pensar na palavra seguinte. Não negas aquela espécie de acusação, metade zelo, metade conselho, também. Talvez seja verdade e te iludas num falso controlo, estejas por agora a alardear afinal uma ignorância que te faz seguir ao encontro de um desastre.

Mas é igualmente verdade que nunca ninguém sabe, nem outros achados mais preparados do que tu, estamos todos na mesma escuridão. É igualmente verdade que não te poderias estar a cagar mais para isso. Porque há o respeito e há a liberdade de escolher e talvez seja essa a necessidade mais essencial na pirâmide de qualquer relação e o resto apenas patamares que se vão alicerçando naqueles. Não te entenderiam, não vale a pena. Mesmo tu já o entendeste tão tarde. Deixas-te inundar na luz daqueles olhos e esqueces por um bocado o mundo. A vida pode ser tão simples como uma canção pela boca dela.

Continuas porque a vida acontece em directo e não sabes outra maneira senão esta ou, melhor dizendo, porque é a única coisa que podes fazer. Então entras com tudo e esperas para ver, porque nisto da vida não há cash-out disponível.

Alta definição ou Esta música não me acende

Não gosto de pessoas que riem das suas próprias piadas. Geralmente são aquelas tão boas que quem conta até tem de explicá-las. Tipo títulos em blogues.

Heart on: instrução das massas.

(boas descrições.)

Heart on ou Há quem acorde com felácios e há quem acorde com falácias.

Não é, como pensei durante muito tempo, uma coisa absoluta, mas uma coisa cheia de relatividades e fragmentos, própria a cada um. Não é abstracta, não o “tu” a que atribuí tantas palavras e sonhos, mas é antes o que há de concreto num desejo, uma coisa com nome e medos e vontades. Não é do geral mas do detalhe particular, é do gesto e da realidade de cada dia. Não é uma ideia mas é um princípio, não é um fim mas é um princípio, não é pr’amanhã se é o que se sente hoje. Não é omnipotente como vem nas histórias, é cheio de percalços e mal-entendidos, não supera tudo porque não pode tudo mas faz o que pode, faz se pode. Não é eterno, tem início, meio e fim. Não é uma comunhão, uma união ou outras palavras que rimam com colonização, não é um mais um igual a um, é só um mais um que é igual a um mais um e está tudo bem com isso. Não é alienação, metades ou complementos, não é o encaixe alinhado de qualidades e defeitos, vales e relevos, mas atritos e choques, excessos e lacunas, uma imperfeição que se aceita. Não é uma conversa ininterrupta, frases que se completam, mas o silêncio suportável. Não é a necessidade, a dependência, viver por isso, mas o respeito, a liberdade, viver com isso. Não é o que pensei durante muito tempo, mas o que sinto por tua causa, à tua custa, contigo.

Formas de desculpabilizar a burrice (caso já tenham ouvido falar da Oxford comma, claro está).

Desde que estou em Oxford, e mesmo quando não se trata de uma enumeração, passei a ter dúvidas sobre onde colocar as vírgulas.

Sem mais assunto de momento, subscrevo-me com a máxima consideração.

Na falta de assunto, volto àquele casal italiano que tomava o pequeno-almoço e lembro aquela pergunta incrédula “o que é que achas que aquelas pessoas, juntas há tanto tempo, ainda têm para conversar?” e assusto-me porque não sei a resposta.

O meu ego é maior do que o teu

Diz que tens uma carreira de sucesso e percebes daquilo mais do que os outros e haverão de prontamente confundir a tua confiança com arrogância.

When I met you in the summer.


O problema é quase uma solução.

Se teimarem que o tempo passa à mesma velocidade em todas as companhias e independente do espaço, terei de teimar ainda mais fortemente sobre esse engano. A perfeição dos dias de sol não se pode ter dado há apenas um par de semanas, como conta o calendário. A distância que vai desta terra à minha é seguramente maior do que aquela que se ouve anunciar nas badaladas do relógio. Não me mintam, então.

Einstein entendeu em boa hora que o tempo é relativo, que o passado e o futuro caminham sempre à nossa frente e de mão dada, envoltos em promíscuas relações de sentido pouco claro, não se sabe já onde começa um e acaba o outro, que destino os uniu e que conspiração antecipam. Vão juntos e não se coíbem de troçar do presente, que segue ingénuo e a tropeçar nos seus próprios planos, qual idiota.

Não há uma linha que separa o antes e o depois do dia de hoje, não há para trás e para diante ou sequer uma superfície plana e firme a que nos possamos agarrar. Não somos um ponto em andamento. Avançamos no escuro, cegos e a tactear o mundo, num círculo que é este eterno retorno onde te encontro sempre a ti. Seduzo a palavra e rendo-me à evidência: tenho saudades. Sou feita de sonhos e de saudades.

Tornas-te eternamente decepcionado pelas expectativas que cultivas.

Não te iludas: o que chamas de injustiça é, quase sempre, pura indiferença cósmica.

(Irvin D. Yalom, se não me engano)

Como naquele filme, "a minha namorada tem amnésia"

Ao fim de algum tempo, não é uma questão de, como dizem, reconquistar a outra parte todos os dias. É sim lembrar-lhe, todos os dias, por que é que ainda está connosco, combater a amnésia que mais tarde ou mais cedo se instala. Não é manter, é recriar.

Alta definição ou Esta música não me acende

Na maioria dos casos, não gosto de blogues escritos a dois.

My heart is an adventurer.


Algún día lo vas a entender, es que cuando nos echamos a correr hay mil maneras de seguir pero ninguna de volver.

Prepara com vagar e aprumo a solidão para que, chegando, não te apanhe sobressaltada.

A síntese de todos os finais: go fearless or go home I

A vontade não tem ética nem justiça, só força. Não pergunta, só responde. Não ouve, só vê.

A síntese de todos os finais: go fearless or go home.

No final, trata-se de uma escolha como outra qualquer, com risco e nenhuma certeza, apenas a esperança de não hipotecar demasiado a vida e desperdiçar demasiado o tempo. Nunca confies em quem não se arrepende de nada. É troca que não aceita negociações, cedem todas as partes e, ainda que implícitas, são conhecidas as condições subjacentes. Podes jogar se te sujeitares às regras. Nesse 20-80, é uma questão de valor, acima de tudo. Decide entre o valor do que podes ganhar e o valor do que podes perder, sabendo de antemão que estão ambos sujeitos a variações e inflações, certezas nenhumas. Decide o valor de alguma coisa contra o valor de nada, o valor do que dispões hoje pelo valor do que alcançarás quiçá amanhã, decide pelo plano ou pela fuga, pela excitação ou pela segurança, pela previsibilidade ou pelo inesperado. Decide se compensa ou se basta, se é de ficar ou de partir e não ignores que os sonhos só duram um par de segundos e só resta a realidade. Escolhe e depois avança.

We be all night.


É oficial: as Quartas são o meu dia.

Não sei quantas vezes fecho os olhos a desejar com força que sejas feliz. Ignoro quantas vezes digo o teu nome no intervalo que vai entre uma inspiração e uma expiração. Não consigo distinguir com nitidez onde começa e acaba a minha vontade de ti, o que é da memória e o que é da verdade, o que sinto do que sei por certo. Deixei de contar as vezes em que obedeci ao bom senso de calar o evidente e enlouqueço pela facilidade com que me acendes os instintos mais remotos e secretos. Se realmente não houver nada depois da felicidade, como disseste, que me seja permitido demorar-me contigo nesta rota de colisão. Seja da felicidade ou da morte, que aguentemos pois só saberemos quando lá chegarmos.  

Para já, que a vida seja um entusiasmo e que todos os caminhos sejam de ir e de voltar, estradas que cruzamos sem saber para onde ou porquê, quando e em que companhia, que começam agora e acabam mais adiante, mas sempre outras e sempre de inesgotáveis curvas, inesperados encontros e reencontros, partidas e abandonos. Nunca uma recta, nunca singular, nunca conhecido, nunca de ser nunca. Para já, que a vida seja esta corrente e eu vá nela. Que, eventualmente, sobrevivamos ao mar, eu e tu.

Porque não quero voltar a sítio nenhum, reviver nada, reparar ou compensar nenhuma falha, nenhuma ausência nem nenhum egoísmo. Não quero firmar esperanças ou arriscar o coração. Não quero perder este medo que me prende saudades. Ambiciono apenas a um engano. Por uma vez, enganar o destino, a natureza, poder enganar a todos. Sair por aí, por exemplo, dizendo pelas ruas que te esqueci.

(está aí a feira do livro, faz chuva na noruega e, fosse eu boa com datas, diria que houve um dia cheio de exactidão em que descobri que o esparguete come-se de colher e que existe no mundo uma mulher de olhos límpidos.)

I won't believe it till I can feel it.

O corpo não tem apenas mais sensibilidade. Tem também mais memória do que a razão. Cede.

Life is like painting the Forth Bridge.

Às vezes vale a pena estar aqui só para aprender certas expressões. aquela de fazer uma tempestade numa chávena de chá, por exemplo.

And if we try once more would you give me it all?

Desde que foste embora que faz frio.

Se não puderes ser honesta com os outros, que consigas ser honesta com as tuas emoções.

Conocí la memoria, essa moneda que no es nunca la misma.

Perdi a lembrança
Da mente risquei
A história que não me interessa
A história que eu não serei


Limpei a cabeça
De tudo o que ela não quer
E ao corpo fiz a promessa
Só serve pró que eu quiser.

António Variações

A independência dos gatos está altamente sobrevalorizada.

Sobe apenas às árvores das quais consigas também descer pelo teu próprio pé.

Não quero ver o que enganei nem quero ter o que já dei.

Tendo a acreditar que uma relação extraconjugal só funciona desde que ambas as partes sejam casadas. Dê-se o caso disto suceder para apenas uma das partes, e logo a outra virá, em algum momento no tempo, a reclamar do que se esconde, confundindo o risco com a vergonha e impondo assim, em último caso e como resposta, a sua presença omnipresente.

12: inconsistências da motricidade fina

Interessa-nos pouco quantas vezes sucedemos mas contaremos sempre com máximo rigor todas as tentativas falhadas.