We're dancing like we never danced before.

Amor combate: o que não se diz no que se diz.

@Wasted Rita

O amor é sempre um combate contra o medo.

It takes two to make an accident.

A vontade é mais forte do que o hábito. O toque, mais esclarecedor do que qualquer memória. De tudo, sobreviveu viva aquela sesta dum tempo longínquo e acredito ser isso prova suficiente para teorizar que todas as verdades se revelam perto do sono, quando o mundo enfim se cala.

Quanto tempo tenho para matar esta saudade?

A saudade faz-se convidada, não pede, não espera. É preciso saber resistir-lhe ao chamamento, apreciando contudo a sua presença, respeitando-lhe tempos e caprichos. Pode nunca mais voltar. É o parente mal-amado que não conseguimos mandar embora porque somos bem-educados. Só se tem, só se mata, nada mais que se possa fazer com ela. Era já hoje que a matava.

Can you hear, when I say?


I have never felt this way.

Dos problemas enquanto falácias lógicas.

Sendo difícil, a vida é porém simples. As coisas são como são e uma interpretação raramente coincide no facto. Virtualmente, todos os problemas são falsos e só a morte é problema sem solução. Há tantos caminhos, como disseste. No egocentrismo de quem não é capaz de se olhar em perspectiva, inventamos não poucas vezes problemas que não estão lá. Na estranha dificuldade de nos afastarmos de nós mesmos e relativizar, ignoramos possibilidades que seriam óbvias. Quando disse que não tinha problemas, pasmaram de assombro, surpreendidos. Pediram-lhe que olhasse melhor, mais fundo, de certeza que haveria um problema, alguma coisa a curar, alguém a perdoar. Afinal, toda a gente tem problemas. Não o conseguiam acreditar que ela, na sua pronta determinação, se anunciasse sem problemas, nem ao menos um pequenino. Também eles, em face do simples, procuraram complicar como se, por ser simples, fosse incompleto ou desconecto da realidade. Não admitiam que se pudesse tratar um tema tão complicado de uma forma tão simples. A simplicidade parece-lhes a eles complexa.

Nos momentos de desassossego, volto ao meu amor pelas coisas simples como o caminho mais certo para o que se sabe importante. Olho o que se tatua na carne para melhor me lembrar, sempre do lado esquerdo porque é esse o lado do coração, como me ensinaste. Nas aves que me voam do braço, guardei para sempre essa lição. Dizem-me de partidas e regressos, dizem-me a liberdade, a simplicidade, o amor, tão perto umas coisas das outras. O teu nome, aquele. Quando me desassossego, é sempre ali que volto. Amar o destino como ele é, simplesmente, e encontrar aí todas as soluções.

You can usually see the person's arm holding out the camera in which case you can clearly tell that this person does not have any friends to take pictures of them so they resort to Facebook to find internet friends and post pictures of themselves, taken by themselves.

Quando chega alguém, senta-se à janela, ocupa a fila seguinte. Ninguém se senta no assento do lado. Todas as filas do autocarro vão ocupadas, todos os lugares à janela, à esquerda e à direita, apenas uma pessoa por fila. Do autocarro, às compras online, até à recente moda dos selfies com sticks: pedimos amizade a estranhos nas redes sociais, e vamos a cada dia ficando mais distantes uns dos outros.

But you have something to look forward to.

Disse que, ao contrário de mim, que podia esperar pelos meses de sol, ela não tinha nada por que esperar pois, ainda que a temperatura subisse, o céu continuaria da mesma cor. E eu, que não queria, vi-me acabada de chegar de Lisboa e a dar-lhe razão.

Saudade (é o ar que vou sugando e aceitando).

Ainda o amor puro.

A felicidade começava nela sempre pelos olhos, que se tornavam maiores, mais redondos, mais brilhantes, límpidos. Dois sóis se fosse dia, duas luas se fosse noite, coisa miraculosa e capaz de fazer acreditar finalmente num sentido para o mundo. Fosse feliz e os olhos encher-se-iam logo todos de luz. Só depois a sua felicidade alastrava ao resto do corpo, que a acolhia pronto como terra a receber água, a pele a ficar ainda mais suave e luzidia, aquele toque o mais agradabilíssimo. De todas as partes, importa porém realçar a boca e os sorrisos mais bonitos que se poderiam alguma vez criar numa boca. Quando sorri feliz, tudo se suspende para dentro daquele sorriso. É um sorriso cheio de verdade e salvação, que lhe acentua a beleza e que seria capaz de redimir a todos os pecados. Quando está feliz, ela sorri muito e a toda a hora. Sorri ainda na sua voz de criança feliz enquanto cede ao primeiro sono, já a tropeçar com esforço nas palavras da boa noite. Gosto muito de ti. Gosto tanto de ti. Olho-a, feliz, com a absoluta certeza de que é aquilo a felicidade e de que não quero sair de dentro daqueles olhos. Aproximo-me mais e abraço-a com firmeza porque a felicidade é coisa de agarrar.

I should have known better: eu sei.

Nenhum sentimento puro acontece à vista desarmada. O que é de dentro só se pode ver dentro.

A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier.

Mesmo que a mágoa venha, talvez não seja agora. Mesmo que a morte seja anunciada, não é esta a hora. Se até ao lavar dos cestos é vindima, e se é seguro o intento e sincera a palavra, que o medo não tolde o dia. A saudade dura a vida toda e o futuro é só amanhã.

That girl makes me wanna be better.


She's fearless, she's free.

Hoje ainda dormia mais.

É a reacção o que (des)valoriza a acção. Não é (só) o que se diz, é (sobretudo) o que se sente. Hoje ainda dormia mais.

A imaginária linha oblíqua do apêndice.

É preciso imaginação e uma assombrosa capacidade de confiar totalmente, metade fé, metade absurdo. Constroem teorias e metodologias na areia do vazio. Apregoam um cientificismo que é, por natureza, artificial. Chamam rigor, previsibilidade e sucesso, sem repararem que tudo é um factor crítico do acaso. Cantarolam as boas práticas, sem notarem que dormem sobre pressupostos. Sorte. Defendem decisões em intervalos de probabilidade, sem perceberem que estão no escuro. O abstracto seduz, a roleta rola, alguém acredita e aposta tudo. Preferimos uma mentira forte a uma verdade fraca. Preferimos que nos convençam, a que nos esclareçam. Lidamos muito mal com a ideia de aleatoriedade, aquela falta de controlo, a rede ausente debaixo dos pés. Somos sonâmbulos à mercê duma qualquer voz, a que melhor saiba argumentar e persuadir. Talvez o maior perigo não seja a ignorância mas o que se toma por verdadeiro. Só saberemos o que não sabemos quando finalmente soubermos.

Há tristezas repreensíveis.

Já Nietzsche rezava que a compaixão é coisa de fracos.

(ilegítimas, diria ela)

Big eyes: you had me caged up like a bird in mid-summer.

Repara que a submissão exerce-se de dentro para fora. A coacção começa, não raras vezes, com uma aceitação, passiva ou activa, do facto. As vítimas são-no, muitas vezes, da sua própria fraqueza.

The shape of the song that we're singing.

Antes que me esqueça.

A primeira palavra dita é sempre a mais perigosa. Era um dia de calor e eu, metade razão, metade sentimento, ainda sei lembrar-me. Na tua boca, a palavra era sempre uma ousadia à espera do meu momento mais distraído para acontecer. Era preciso que conhecesses todos os passos do caminho, da frente para trás e de trás para a frente, para que não tropeçasses sem querer nessa palavra. A tua determinação não permitia acasos desses. E ela veio, com a mesma inocência e simplicidade das coisas verdadeiras. Nesse dia, eu deixei de saber o que fazer, admitindo que as palavras também se gastam e que não pode haver ciência no que é particular. No medo de não saber melhor, deito-te sobre o meu peito, confiando que podes ouvir ali todas as respostas. Tudo o que nem sei dizer.

Sink back into the ocean

A primeira reacção é de repulsa física. Um nojo que vem de dentro. Evitar a todo o custo o toque daquele corpo sujo, porco, conspurcado. Não me toques, não te atrevas a tocar-me. Depois vem a mutilação de todos os desnecessários, o que não importa e passa a importar, como se esse esclarecimento de retrospectivas pudesse iluminar a ignorância ou apaziguar a violência da descoberta. Quem, quando, quantas vezes, onde. O porquê, a única que valeria de algo, é sempre a última pergunta, repara. 

A primeira reacção é de excitação. Uma aventura em que embarcam juntos, gozam juntos, e regressam juntos. Pelo meio, perderam-se muitas vezes em muitos corpos. Cruzam-se, olham-se, tocam-se. Observam-se como estranhos por uma vez. São donos e senhores de si e o desejo nos olhos dos outros é também o desejo deles. Quando a noite acaba, são sempre uma escolha consciente num mar de possibilidades imediatas. O risco é calculado e recompensado. Não fazem perguntas, repara.

O corpo que chama é o mesmo que afasta. A boca que beija é a mesma que cospe. A liberdade é além do consentimento mas o que é consentido é sempre com sentido.

Bury the evidence: 7

Por vezes bastam juntar-se duas mentiras para fazer nascer uma verdade.

Exemplo: 3

Quando lhe perguntaram do melhor golo, respondeu: "o próximo". É o melhor do mundo e isso é também porque sabe que nenhum sucesso se faz de passado.

Como é que se chamava mesmo aquela menina de 10 anos, na Nigéria?

O problema fundamental não foi o ataque à liberdade de expressão, pois que acontecem atentados piores, a liberdades maiores, todos os dias. O problema fundamental foi isto ter acontecido à pobrezinha da Europa, esse símbolo manifesto de harmonia, multiculturalismo e tolerância. O que chamam agora de revolta não é mais do que um cagaço grande de sermos europeus. O resto é conversa e já foi perdoado.

There's no point in saying anything but the truth.

A vontade não se guarda.

Pessoas como nós, independentes. É quando brincamos ao futuro que mais tenho medo de acreditar em ti, mesmo que me contes que os demónios não existem. A boca pode dizer todos os nomes e eu, que quero tudo, sei que tudo querer é também uma forma de se ser injusto. Invento-te verdades que bem poderiam ser mentira, o que não vou gostar de ouvir. Quantos segundos podem passar entre um dia e outro, quantas certezas reclama a memória? O que segura, sendo sentido, não é o mesmo que prende, e o amor não se diz. O corpo não acalma, só pede. O peito concede porque o mundo começa e termina a cada grito. Na minha ausência, tu és todas as sombras da noite, a desconhecida que quero levar p'ra cama. A vontade não se guarda e a minha ignorância é abençoada.

A felicidade precisa de testemunhas.

É mais fácil esconder a infelicidade do que a felicidade. A verdadeira felicidade, de tão imensa, não se contém, é uma exposição que é tão acidental quanto necessária. Eu cheguei e todos perceberam que estava feliz.

Os invisíveis.

Estão na cama. Ela está aninhada nele, a cabeça pousada no seu peito, os olhos cerrados pela preguiça da manhã, ainda mal habituada às cores do dia. Dorme como quem dormisse na mais confortável cama do mundo. Ele, meio sentado, tem uma mão atrás da cabeça, a outra agarra o cigarro, que leva à boca com gosto. Olha em frente, mas para lado nenhum. Poderia dizer-se que leva a lentidão extenuante que vem depois do sexo. Sorri, como quem inesperadamente encontrou num dia frio o calor dum sol de inverno.

À mesa da cabeceira têm tudo o que lhes coube por sorte no mundo, três ou quatro sacos de plástico mal cheios. Pertencem àquela rara raça de pessoas que ficam felizes por pouco. E seria este o cenário mais normal, não fossem estas pessoas fazerem daquele canto casa, debaixo da cobertura duma das lojas da moda, numa das ruas mais movimentadas duma das cidades mais cosmopolita do mundo.  Estranhos invadem a sua privacidade todos os dias, sujam-lhes o chão, olham-lhes nos olhos ainda por lavar e no cabelo despenteado. E eles despreocupados, espreguiçam-se, sorrindo.

Também não tenho grande jeito para o desenho.

Disto já não há.

Já não há empresários, só há empreendedores. Já não há fraquezas, só há áreas de melhoria. Já não há crianças mal-educadas, só há crianças hiperactivas. Já não há falhanços, só há desafios. Já não há ofensas, só há humor. Já não há julgamento, só há opinião. Já não há medo, só há respeito.

Aborrecimentos e patifarias ou Breve explicação do estado do mundo

Para qualquer problema, seja ele da humanidade ou pessoal, assim estrutural ou mesmo pequenino, há sempre um conjunto de culpados à disposição, a saber, por ordem de aborrecimento: o governo, a crise, o sistema, o capitalismo. É usar enquanto há.

Alta definição ou Esta música não me acende: awesome

Não gosto de pessoas que usam estrangeirismos sem necessidade.

Às vezes sou o tempo que tarda em passar.

Vamos embalar-nos neste abraço.

Não me digas que, indignado, pois, também tu és o Charlie, certo, mas qual deles?, não serás dos mortos, não, disso não chegaste a tempo, mas é uma questão de solidariedade, percebe-se, porque te choca que tirem a vida a alguém pelo que possa escrever, desenhar ou nem isso, pelo que possa dizer (afinal estamos no século XXI - essa concretização miraculosa), então és a favor da liberdade de expressão, que bom, e já somos tantos, mas e para quê, não me digas, vais escrever um post no facebook, melhor: um poema, exaltar-te contra o radicalismo, que bom, que deus te pague, houvesse mais corações justos feito o teu e o mundo certamente seria um lugar melhor, mas não chega, agora vamos ser muito emocionais, lacrimais, o mais enfáticos possível, ponha-se uma boca de senhas e vamos em fila tirar todos, à vez, fazer bicha, muito barulho e minutos de silêncio, para condenar o que há de errado neste mundo, o que há de vil, como é que há gente capaz de um acto tão hediondo?, choquemo-nos todos, em coro, religiosamente, vamos embalar-nos neste abraço, vamos pegar em armas (i.e. lápis, canetas) e dar luta, sim, não nos podem vencer, a nós e à nossa liberdade fabulosa, esmagadora, e amanhã ou quando não houver mais tiros e granadas por cá, voltamos a ser os mesmos mesquinhos&medíocres-a-cheirar-a-mijo que já andavam a pé ontem por volta das onze da manhã, em Paris, mas por agora somos sensíveis, civilizados, tolerantes, magnânimos, quanto ao resto, morte aos radicais!

Língua Morta

Make no mistake: o terrorismo não tem nada a ver com religião.

Nenhum terrorista mata por religião. Um terrorista mata apenas por ser terrorista.

Je suis Gustavo Santos.

Há nisto uma súbtil ironia: os que choram pela liberdade de expressão são os mesmos que atacam duramente Gustavo Santos por exprimir a sua. A liberdade é, de facto, um paradoxo.

Wicked problems have no stopping rules.

Morreu a mãe da Eunice. Eu, que tantas vezes perguntara pelo paradeiro da Eunice, vi hoje a Eunice na televisão. O único atentado chocante que vi nestes dias foi a Eunice ter envelhecido tanto.

I know it's not true.

Tens toda a razão.

Talvez o que chamam de prudência, sensatez, não seja mais do que um medo disfarçado de razão e o calculismo, a desconfiança, não passem de formas envergonhadas de cobardia. De tão vulneráveis, há pessoas que nunca ousam expôr-se a ninguém. De tão assustadas, nunca arriscam ir com tudo a jogo. Não sem um mínimo garantido. Não avançar, não contar, não dizer sem que haja a certeza e que todas as provas eliminatórias tenham sido ultrapassadas. Tanto o terror de ser possuído pela posse, que nada possuem. São aqueles que vivem em cativeiro os que gritam à noite pela liberdade. Há quem se distraia todos os dias da felicidade e diga que primeiro tem outras coisas para fazer. Há pessoas para quem é mais fácil reconhecer uma falha do que reconhecer um sentimento. A razão é um pretexto como outro qualquer mas são os parvos os que não têm medo. E são felizes.

Há exercícios para treinar a verdade como, por exemplo, ter medo.


Oh I do, but I say I don't.

Faites attention: este poderá muito bem ser o evento social do ano.

Parece que vai haver mais um jantar de blogues, não deixem fugir isto.

A dança não tem memória.

interditar a memória.
Tornar a inteligência bela é voltar à não inteligência.
Só é belo o que não é inteligente; porque o inteligente é o não imediato: um passo atrás ou à frente, enquanto o belo é o instante, a superfície tão fina que frente igual a COSTAS, o início é o mesmo que o FIM.
interditar a memória.
a memória é ocupação do espaço.
a memória é o não imediato,
a memória é o inteligente.
O Corpo inteligente é inteligente mas não é corpo porque corpo é estar presente, agora, por completo, e o inteligente, repito o inteligente é o não-imediato, um passo atrás ou à Frente.
a dança não tem Memória.
A criatividade não tem Memória.
O Corpo começa agora no momento que acaba.
O Corpo começa no mesmo sítio que acaba.
O corpo é 1 sítio e 1 tempo e depois 1 outro sítio e 1 outro tempo que não recordam o sítio e o tempo anteriores.
CORPO AMNÉSICO.
Esqueceu porquê aqui e agora.
Aqui e agora e antes nada.
Aqui e agora e depois nada.
CORPO AMNÉSICO e sem projectos.
Cortar-lhe a cadeira dos velhos e o monte donde se vê o FUTURO dos NOVOS.
Um CORPO sem cadeira (não há cansaço porque antes não existiu) e UM CORPO sem VISÃO (o FUTURO é 1 espaço onde ainda não se chegou).
Sem visão não há nenhum lado onde se chegar, e sem cadeira não há sítio onde descansar, portanto só resta ao corpo ser todo aqui e agora e só resta ao corpo dançar.
(Corpo a quem cortaram a cadeira e os olhos).

Gonçalo M. Tavares

Tudo o que tenho para te dizer não se diz.

São sempre os loucos e os amantes os que seguem à frente na escuridão. A razão porque não vacilam é a mesma porque avançam: são esperançosos. Acreditam que a sua loucura ou o seu amor são invencíveis a qualquer perigo e hipotecam o amanhã à mais remota possibilidade de se cumprirem já hoje. Consomem a vida com pressa e cegueira, como um vício.

(enganei a todos e senti-me invencível.)

O problema da escrita é a leitura I

Por vezes chego a ter medo que o António de Deus-Rosto seja o Pedro Chagas Freitas. Como ela bem notou sobre o primo gay, o problema não era de todo que o fosse, pois que cada um é como cada qual, mas antes que se colocasse essa hipótese de falso testemunho e afinal ele não ser. Assim se vê que há, de facto, casos em que a inconsistência do engano é, já por si, a maior ofensa.

O problema da escrita é a leitura.

Tenho a presunção de saber reconhecer a olho o que é bom e acredito até que, em todas as esferas, consigo encontrar sem grande esforço as jóias mais bonitas e brutas. Se é verdade que hoje em dia não é preciso grande talento para a escrita, que ao menos deus me livre de perder o discernimento entre o que é bom e o que é medíocre. Sei o que é bom e esse será talvez o meu pressuposto mais castrador. É por saber o que é bom que talvez nunca venha a escrever nada.

When I look in your eyes I forget all about what hurts.

Eu também.

Não largava palavras em vão. Quando as disse, descobriu-se-lhe um sorriso feliz por dentro, porque as palavras vieram e eram a verdade.

O teu murmúrio é aquilo que eu quero.

De vez em quando, aconteciam-nos pequenas eternidades. Tu, sempre uma excentricidade pela minha boca.

All in ou A vida conseguiu ser interessante.

A vida gostava de acontecer-nos no inesperado de qualquer último instante, como uma decisão que se tornasse assim mais resoluta. À última da hora, arriscamos todas as razões e alteramos a rota do mundo, relativizamos o tempo e não esperamos mais que passe. Fazêmo-lo um tempo nosso, livre de princípio e fim, desconhecedor de fronteiras senão outras que se conhecem na pele. Quando reparei, estavam todas as minhas saudades antecipadas e era já um ano novo num sentimento antigo. Nunca cheguei a sair daí.

Que a memória da vontade guarde agora a localização precisa daquele sítio feito para pousares a cabeça, o mistério indecifrável e tão longamente procurado sobre a posição do braço. Que o toque se confirme no sorriso que se forma na boca por todas as vezes. Acima de tudo, que, na ausência de certezas, perdure aquela de nos sabermos abraçar e cuidar. É bem possível que, por distracção ou amor, tenha deixado contigo mais do que contava.

Vem ainda e diz-me agora de novo que a realidade é isto, ontem, hoje e amanhã. Só mais um minuto, cinco minutos, só mais um dia, só mais uma vida. Vem e repete-me.

O meu cansaço é sempre feliz.

Não desprezes ou reclames do cansaço do corpo. Vê como anda a par e passo com a felicidade.

Só se define o que não tem história.

Tal como a castidade só se conhece na provação, também a eleição só se conhece na abundância. Nota que primeiro não significa melhor, tal como um hábito não se faz só por recorrência. Repara que só é eleito, a melhor escolha, aquele que assim se confirma pela comparação.