Esperei demasiado tempo pelas Cartas a Sandra, talvez o perigo tenha sido esse, o da espera. Quando o li obriguei-me a confessar a desilusão, supondo a autobiografia de cada carta. O escritor-ídolo, a quem jorravam torrentes de palavras do peito, o das convicções fortes, era afinal um homem fraco e subjugado. Não faz para não ser repreendido, cala para não ouvir, compreende tudo e é incompreendido em tudo, o amor é aquela humilhação que ele toma por sorte e gratidão. O escritor maior faz-se pequeno, não é sequer digno de desatar as correias daquelas sandálias, pobre diabo que não está à altura da mulher. Pobres diabos nós que, com tantos tamanhos e alturas no mundo, tentamos sempre medir-nos por alguém.
E todavia sei hoje a falácia deste julgamento. É preciso estar dentro da relação, sabê-la além das aparências e dos gostos fáceis, é um mundo maior do que o mundo, não dá para entender de fora. Um pouco como tu, felizmente.
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