Tal como canções e cheiros, existem palavras que nos trazem memórias e que, por sua vez, são memórias de canções e cheiros e gestos e gostos. Para mim, "jazz" há de ser sempre o meu avô a mandar vir com a minha avó e a sua mão pousada lentamente e com afecto nas nossas cabeças como quem dá festas. "Cachopa" guardo-a para o meu outro avô, de quem lembro poucos pormenores. "Cachopa" será sempre um cheiro a cenouras a lavar no tanque, os repolhos em sacas, o hálito de cerveja e de suor junto à barba de fim de dia, quando chegava à garagem e beijava-me com um "então, cachopa". A mesma palavra que guardo para os meus seis ou sete anos, quando o tampo da mesa da cozinha ainda era de vidro. Eu brincava debaixo dela quando a campainha tocou e foi nesse dia que a palavra tornou-se memória.
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