Por vezes, uma simples palavra é suficiente para trazer-nos de volta. Acontece-me muito, uma música, agora. Olho-te a vida em retrospectiva e a palavra é sempre a mesma: resistência. O dicionário diz que resistir é opor e toda a gente sabe que és do contra, o que me leva a concluir que é uma palavra que te serve bem. Daquela altura, soube apenas as vulnerabilidades que não me ocultaste. As outras, de que me protegeste, sei que foram sempre maiores do que os meus medos. Asseguram-me que se nota na voz e vou-me esforçando para atingir essa clarividência que ainda não chegou. Só pode dizer que viver é mais importante do que existir quem conseguiu suportar o dia seguinte.
Ignoro todas as defesas que praticas, todas as memórias que fizeste por esquecer, todas as cicatrizes que disfarçaste por debaixo da pele, tudo o que nunca te conseguirei perguntar. Afasto qualquer egoísmo e coloco finalmente o passado no passado, o presente no presente. Olho-te mais uma vez e reconheço a importância de todas as coisas mas sobretudo essa: estás forte, salva, segura. E descanso porque, independentemente do que amanhã nos traga de comum, do que possas despoletar e terminar em mim, existe este momento, agora, em que estás forte, salva e segura. Depois da morte, a melhor maneira de ganhar à vida é continuar a viver.
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