O passado acontece sempre em diferido, só ganha significado no futuro. O sentido das coisas vem depois da sua existência, é a hora seguinte que afecta a precedente, amanhã isto fará sentido e já não será este. A verdade surge-nos imediata mas mutável e o que se diz ignora o que se faz. É na pele que se decifram todos os sentimentos, é ao sabor dos caprichos que se reescrevem todas as memórias. Somos, eu e tu, uma antologia de luas e marés, a metáfora duma razão mal esquecida. Quando o passado de hoje vier, ouvir-se-á ainda o canto de ave no peito a contrariar o espaço. Pela noite adentro, dou-me aos passos do mundo. E escolho ser esta saudade que não se encerra.
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