A vida gostava de acontecer-nos no inesperado de qualquer último instante, como uma decisão que se tornasse assim mais resoluta. À última da hora, arriscamos todas as razões e alteramos a rota do mundo, relativizamos o tempo e não esperamos mais que passe. Fazêmo-lo um tempo nosso, livre de princípio e fim, desconhecedor de fronteiras senão outras que se conhecem na pele. Quando reparei, estavam todas as minhas saudades antecipadas e era já um ano novo num sentimento antigo. Nunca cheguei a sair daí.
Que a memória da vontade guarde agora a localização precisa daquele sítio feito para pousares a cabeça, o mistério indecifrável e tão longamente procurado sobre a posição do braço. Que o toque se confirme no sorriso que se forma na boca por todas as vezes. Acima de tudo, que, na ausência de certezas, perdure aquela de nos sabermos abraçar e cuidar. É bem possível que, por distracção ou amor, tenha deixado contigo mais do que contava.
Vem ainda e diz-me agora de novo que a realidade é isto, ontem, hoje e amanhã. Só mais um minuto, cinco minutos, só mais um dia, só mais uma vida. Vem e repete-me.
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