Deixo cair o medo e rendo-me toda à fragilidade mais evidente. Adio a mágoa que chegará um dia (a mágoa chega sempre), porque ela tem razão quando diz que a dor não se procura. O passado não se repete e o futuro, pertencendo-nos, é sempre matéria desconhecida e em construção. Ouso palavras que a memória não perdeu mas às quais a vontade e a saudade moldaram o significar. São tratados da alma, estes que vão do peito à boca e só poderiam contar-se no chamamento da tua pele, quando desabamos no mesmo lado do querer. Isto que sinto fez-se maior do que o hábito.
Olho-te para ver o que vês, os mesmos tempos de rinocerontes e dinossauros, os mesmos sonhos que te dão a cor aos olhos. Oiço-te para desinquietar as verdades, ler a beleza das coisas simples no menor dos gestos. Entendo-lhe bem o susto e o fascínio mas não troco já a ideia mais genial pelo concreto da boca. Toco-te porque há uma certa inevitabilidade no conforto do corpo a que não consigo furtar-me, aquele sorriso no cansaço mais esperado. E conto os dias, porque há pessoas que são casa.
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