Existem mentiras mais plausíveis que verdades, verdades mais sufocantes que mentiras. Ninguém leva uma vida a preto e branco, se todas são mil variações de cinza e até os gatunos têm códigos de ética. Ainda que nos facilite as contas e a lógica concreta de existirmos, o mundo não é dual e não se divide em pessoas boas e más. Somos todos bons e maus, heróis e vilões em potência, sujeitos às mesmas intempéries de impulsos e deambulações de sermos força e fraqueza, medo e coragem, memória e esquecimento, tudo aquilo de que não nos orgulhamos, tudo aquilo que não podemos lembrar. As fronteiras do bem e do mal não se fazem em leis e costumes, só existem na tua cabeça e existe a História para nos demonstrar, inclemente e a cada dia, que tudo nesta vida é uma questão de perspectiva. Todos os assassinos se julgam boas pessoas e até Hitler, dizem, adorava crianças. Não queiras assim procurar uma explicação sem que te seja dada a possibilidade de andares nos seus sapatos, viveres as suas circunstâncias. A vida precisa de contexto para ser passível de ser entendida. Diz-me por isso que cortinas de ferro te abrigam, que facas te cortam o peito quando fechas os olhos, que prisões te guardam arrependimentos, omissões e honras, que palavras e que olhares te dilaceram a pele, sobre que temores se edificam ainda os teus gestos. Diz-me que segredos se deitam contigo a cada noite. Diz-me que não preciso de ter medo.
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