Reverencio esta forma de esquecimento na mesma proporção com que me assusta. É possível esquecer perto de cinquenta pessoas duma única assentada. Fazer tábua rasa de objectivos e prioridades como se nunca tivessem existido. A relatividade que me fascina é feita de abandonos e recomeços, cortes fundos e folhas brancas. Não te deixes enganar, a criação não terminou ao sétimo dia. A liberdade suprema é essa, a criação a suceder-se todos os dias e com eles a oportunidade de seres ainda tudo o que quiseres.
Debaixo do sol não há problemas. Todas as urgências são do tamanho do teu despertar, ajustáveis e transitórias como a vida. Todas são, literalmente, uma questão de tempo, uma questão de espaço. Quanto tempo e distância até que sejam apenas um devaneio, rumor que alguém lançou. Debaixo do sol, poucas coisas há que sejam realmente urgentes. Ela a perguntar o que tinha acontecido e nós já sem sabermos bem a resposta, apesar de nos ter acontecido a nós. O tempo esclarece tudo e a seu tempo apaga tudo. Parto e chego para concluir sempre que não há terra onde prender raízes a quem tem o firmamento por destino. Só a tua boca poderia ainda agora prender-me.
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