Não me leva a sério ou, leva, mas tem aquele meio sorriso, meio tapado pela mão, de quem pagava para ver. Dizem-me que sou dele uma cópia perfeita por isso o sei: aquele meio sorriso é o mesmo que o meu. Herdei dele mais coisas do que gostaria, mas, suponho que seja sempre assim. Sorrimos da mesma maneira, envergonhamo-nos da mesma maneira, irritamo-nos da mesma maneira. Argumentamos nas mesmas palavras fracas, uma espécie de meios argumentos, quebramos do mesmo modo, à mesma velocidade, amuamos igual e a vida pode passar-nos à frente sem que a víssemos, cegos da mesma maneira. Ao primeiro encontro, tem a ver com o idioma dos olhos, o mesmo franzir de sobrancelhas, uma certa posição das mãos enquanto esperamos, vemos as notícias ou nos exasperamos.
Ouve-me com orgulho, mas não sabe explicar bem de quê. Às vezes, digo-lhe que sou a melhor só para obrigá-lo a duvidar. Interessa-se pelo que não entende, mas vê pouca utilidade nisto e eu só lhe posso dar razão. Na escala maior das coisas, é verdade, isto não serve de muito. Já os feijões. E começa então a contar da feira em Espanha e dos tamanhos e cores e variedades. Quando os outros vão, já ele veio. Foi sempre assim e ainda bem.
Quando falam da distância, dos horrores da distância, das relações que não sobrevivem à distância, é neles que penso. Nunca estivemos tão próximos como agora, distantes.
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