Matou-se o João Orelhó. Matou-se o sr. João do gás, que morava ao pé do 100 à hora, digamos assim para que não se confundam. A morte do sr. João é outro sinal do tempo que teima em passar demasiado depressa. O mesmo tempo de catequeses e coros de jovens, ir ao café buscar garrafões de vinho ou à senhora Teresa comprar pescada congelada, ir passear o cão e dar boas-tardes aos velhos do banco ao pé da igreja, ir ao sr. João encomendar gás e acenar-lhe um adeus de amigos sempre que passava por mim de carro. Desta vez, foi o sr. João. Decidiu matar-se antes que o cancro o matasse a ele.
No espaço de menos de uma década, este é já o terceiro suicídio no meu pacato lugar. Para uma aldeia sobre a qual sei dizer pelos dedos das mãos os nomes das ruas, não sei bem o que significa isto, se estamos a tornar-nos uma aldeia demasiado progressista ou demasiado deprimida.
Aos poucos, vai-se enterrando em cada cova nova do cemitério a minha adolescência.
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