Não é preciso ser atento para notar que, em comum, só temos o nosso passado. O mesmo ponto de partida, referência geográfica que me começa mas que não me limita. Não conhecem as músicas que oiço, as séries que vejo, os livros que leio ou os locais que frequento, as pessoas com que me dou, esta língua com que trabalho. Mesmo de ti sabem pouco. Mesmo a estes textos, são indiferentes. A nossa relação existe apenas porque existiu o passado e o passado é sempre um sítio demasiado frágil, longínquo, para a gente habitar. Não sei se elas já o pensaram também, mas há coisas que não se devem perguntar a fim de que não se tornem reais. Apesar disso ou talvez por isso, esforçamo-nos, umas mais que outras, umas mais que outras vezes. Sempre que vou, faço por vê-las. Cocó, ranheta, facada. São a minha evidência de que é possível, uma raridade bem sei, viver do passado.
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