Diz-me o tamanho da tua noite e em que templos entras a medo. Diz-me que nem sempre se perde, também se ganha e que os dias não são apenas a soma das horas, que nem tudo se soma. Conta-me por que lado amanheces e se ainda te espanta o milagre de existirmos. Diz-me, como no poema, que somos contemporâneos do impossível, mas resistimos. Diz-me que podemos coincidir num erro, que há acidentes que perduram e fragilidades que são de acarinhar. Conta-me o segredo das aves e o que vês do alto do teu céu. Diz-me de novo que o amor não se mede, que não há muito nem pouco. Fica. Fica esta noite. Lembra-me que sonhos se abrigam na limpidez do olhar e o absurdo de se ser feliz em silêncio. Diz-me o sorriso de covinhas, porque contam os antigos que antes é que era bom. Diz o meu nome. Di-lo agora. Diz-me que a razão não trai o sentir e que o corpo guarda memórias. Que pode ser essa casa p’ra regressar, vivenda virada para o mar e tardes de prestável inutilidade e qualidade de vida, o conforto mais estimado entre o cheiro do teu cabelo. Diz-me que nos reconhecemos até no mais longínquo acaso. Diz-me que é possível e que ainda há tempo.
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