Ignoro a densidade da penumbra que sobre ti caiu e o peso implacável das impossibilidades. Talvez seja um pouco como este céu insular que habito e que é esmagadormente próximo, rente aos ombros. O silêncio responde, todavia. Não será de estranhar que sigas agora periclitante à deriva entre a indiferença e o cansaço, mãos recíprocas que se lavam e cuidam como quem não sabe ou não consegue já melhor. Se não te sei triste, razões da distância, imagino-te triste, explicações do peito. Haverás de dizer que é mesmo assim, que a tristeza, como o sol, nasceu para todos. Nesses momentos tenho sempre uma vontade grande de te abraçar o sono, beijar-te o cabelo e assistir-te o descanso como uma trégua que finalmente chegasse. Não que isso mude nada, claro está.
Porém, somos mais do que a soma dos nossos sucessos e dos nossos fracassos e o que vemos nem sempre é tudo o que há para ver. Se perderes o norte, sei que é só porque todos os pontos cardinais disputam a tua atenção. Se o horizonte te parece doloroso e toldado, a sombra em que atentas cada vez mais escura, estou certa que há um propósito insondável que a justifica, pois que as estrelas celestes precisam de um lençol onde deitar a sua luz. Se este caminho é exigente, será somente para te recordar que existem tantos outros, como um dia me ensinaste, meu amor. A vida, essa, “levar-te-á onde te quiser levar, indiferente à paixão ou à minúcia dos teus passos”. Que confies, apesar e por causa de tudo.
Como ele diz, há momentos em que as palavras não são bem palavras ou não são só palavras e este é um deles. Tu vais a ler isto, parece-te evidente que são palavras, e afinal não são. Afinal isto sou eu a abraçar-te o sono.
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