Notava-se que não fazia por exibir-se. Quando falava, existia uma razão para falar e era preciso que se julgasse certo para arriscar uma frase em público. Era um homem bonito, seguro de si e lacónico. Não gostava de desperdiçar nada. Nem palavras. De certa forma, foi por isso que lhe perdoei o cansaço do almoço. A verdade é que é possível que eu engane muita gente. Até mesmo aqui. Sobretudo aqui. Quando lancei para o ar a referência ao 1984, de Orwell, não foi porque estime 1984 acima de outros enredos. Quanto muito, lembro-o mais por coincidir com o ano em que nasci, simplesmente. Posto isto, eu não esperava uma resposta e muito menos uma pergunta. Quando começou com as ideias do political realism e as menções precisas aos personagens, eu já tinha abandonado, consulta às cinco. A verdade, aqui me confesso, é que não sou dada a essas conversas ditas profundas, tantas vezes apenas conversas instantâneas de pessoas instantâneas. Entediam-me de morte e a minha tolerância à conice e seus variados espectros vai diminuindo, parece. Resisto por uns cinco minutos, vá, e depois tudo me é um exercício de esforço.Tenho uma ligeira impressão que isto se acelerou por influência dela e só lhe posso agradecer. Gosto de ler, sim, ver filmes e espécies afins, mas não há nisso nenhuma sequência que se possa exigir e todos os silogismos me vão falhando. Eu não tenho fundo para poder ser profunda.
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