É bonita, competente, determinada. Importa dizer também que é nova. Haverão de ter dito em sussurros de corredor que é demasiado nova. Como se houvesse tempo e espaço próprio para a dor. Em conversa, apanha-me desprevenida. Desconcerta-me o formalismo do busyness. Pergunta se sei o que lhe aconteceu. Assim, cru. Imaginei que se referisse àquele momento que lhe dividiu os dias, antes de e depois de. Tinham-me contado. Notando o meu desconforto, avança sem esperar resposta. O que lhe aconteceu foi que o marido morreu-lhe e ela tem um filho bebé a cargo. Olho-a sem saber o que dizer, o que fazer, foi sempre assim. Di-lo sem aspereza, quase serenidade. Não está ali para a piedade, a caridade ou a esperança. Di-lo com um propósito. Precisa de mim para mudar as práticas de gestão da empresa onde trabalha, para que se sinta ainda motivada a ir trabalhar todos os dias, para que o trabalho a ocupe quando está longe do filho, para que o pensamento não volte àquele dia que divide os outros, para que possa ainda viver. E eu, que sempre duvidei do real valor da minha profissão, achei-me naquela hora triste, porém, útil.
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