As palavras não são talismãs.

- diz-me o teu nome
Implora o rapaz do outro lado do muro
- se eu to disser, talvez me queiras ver, uma e outra vez, para mo dizeres, junto ao ouvido, num fingimento, porque ninguém diz o nome da pessoa amada, diz sempre: amo-te, sem mais, amo-te é tudo o que há para dizer quando se ama, o nome é uma espécie de amor ausente, doente, por isso perguntamos: Pedro, amas-me? se não temos a certeza do amor de Pedro, ou: Pedro, porque me abandonaste? se nos julgamos traídos, mas quando vemos aquele que amamos, dizemos unicamente: és tu?, tu, para ouvirmos como um eco da nossa voz: tu, és tu, 

Rui Nunes, A Boca na Cinza

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