Finalmente, Belgrado, Beogrado. No taxista que tenta enganar o sistema, que me fala de Dulce Pontes e me elucida sobre os sapatos Fly não serem Britânicos, mas muito Portugueses, os melhores. Nas pekarnas sempre abertas, o chamamento do pecado, pão e bolos. Nos cigarros em espaços fechados como se voltasses atrás. No Tesla, que sempre se soube génio antes mesmo de o ser, firme na sua convicção de ser génio. Nos grelhados, Cevapcici, carne muita e carne toda, como uma cidade que é o que é, primordial. No Sava que se junta ao Danúbio, relação perfeita em que um não aniquila o outro, são distintas as suas cores e feitios, os temperamentos particulares às geografias de cada um, tanto que poderíamos aprender com um rio. Na Skadarlija, bairro boémio que aiinal é uma rua, mas que importa isso se há a boémia, e os seus restaurantes, os Três Chapéus, os Dois Veados, os meus dois quilos, ai o kajmak, o kajmak. Nas encadernações dos livros, animais de acariciar, o desejo obsceno. No Meduza e a arte a cada canto como lhe compete. Nas marcas do bombardeamento da NATO, estão lá, testemunhas esventradas de que ninguém fala, mas que ninguém oculta, ninguém esquece. Belgrado é esse sítio, ninguém esquece.
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