Preciso dos teus olhos de cidade devassada.

Adio. Deixo que o que senti se amenize ou se desfaça até à sua condição mais elementar e fundamental. Sem desperdício. Sem adornos. Depois, se sobrar, valia a pena. Se se perdeu, cá o ganho. Tudo deveria ser dessa aritmética simples. Ele bem escreveu que seria bom se as palavras fossem como números exactos e sem margem para enganos. Todas as palavras são um risco e nós já seguimos tão desgastadas, meu amor. Talvez até te irrite chamar-te meu amor, agora, e contestarias ambas. Há o tempo também, claro. Há o trabalho que liberta e que dá uma continuidade segura aos dias em que já não existimos uma para a outra, porque nos podemos habituar a tudo, até à falta que não nos fazemos. Há razões óbvias na minha insistência, por isso. Não são orgulho. Não são sequer hábito. É crítico reconhecer-te no movimento que fazes quando levas a mão ao cabelo. Se quisesse, esquecia-te e, se não te esqueço, que seja claro que é porque não o quero. Tu, minha gata, quantas vezes me esqueceste hoje?

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