Não me lembro de mais nada mas acho que fomos felizes.

No meio de uma qualquer pesquisa indiferente, apareces-me. Fico sempre desconcertada quando a memória de quem fomos me aparece à frente sem outra preparação. Nunca estarei preparada. Não busco nenhum passado, mas ele encontra-me. Está um passo à minha frente. Gosto tanto daquelas pessoas. Para onde foram e como se dariam com estas?
 
Era tudo tão novo. Havia uma vontade profunda de nos conhecermos. A nossa curiosidade era genuína e o nosso interesse despretensioso. Revelávamos de nós o que de mais real acreditávamos ter. Nessa altura, não te quis impressionar. Não precisava. Cheguei a tratar-te por “querida”, vê só. Prometiamo-nos livros com dedicatórias e a melhor parte dos nossos dias. Não exigíamos nada, demos tudo. Talvez por causa disso. Não havia imagem a construir, nada em que alicerçar uma ilusão além das palavras. As palavras eram a nossa presença e serviam de casa e de colo. Dava-te palavras como se te desse beijos. Palavras como quem diz nunca te deixo.
 
Não sei contar-te do carinho inestimável que tenho por aquelas pessoas. A sua ingenuidade, a sua honestidade, a sua inabalável crença nas possibilidades do futuro. Desse sonho que encontrei num acaso, perdura o essencial, agora como antes, mesmo que não nos lembremos de mais nada. Acho que fomos felizes.

2 comentários:

Kelly Alberto disse...

Estou sedenta de te ler.

Marisa disse...

Obrigada. Sou uma fácil.