E eu, como um estranho, passava no jardim fora de mim como alguém de quem alguém se lembrava vagamente (talvez tu), num tempo alheio e impresente.

Nunca tinha ali estado antes. Esta não é ainda a cidade que me deste. As ruas, os cheiros, as pessoas, o frio, o rio, porém, ecoavam a mesma memória. As paredes confessavam o teu nome. Por um momento, o peito expande-se em contentamento. Dir-se-ia que reconheceu a morada ou nele se acendeu inesperada uma alegria. Procuro por essas pessoas que fomos. Encontro-te em sítios onde não estás, onde é impossivel que estejas. São a lembrança de outra vida, noutro sítio, noutro tempo. Gostava de voltar a essa hora onde existimos debaixo do mesmo horizonte e ainda te conseguir fazer rir. Essa hora certa e de coração seguro. É uma esperança inútil, bem sei. Como quando me reservei para o almoço tão ansiado e, desgraçados, agora meteram uma erva qualquer no nosso querido pão com queijo e, repara, o nosso franguinho já nem há. A hora é outra. Mudou.

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