É preciso ter sorte, não nos enganemos. Tanta gente no mundo, pessoas que todos os dias se cruzam e, perdidas ou distraídas, não se vêem. Uma sucessão de encontros e acasos, a gota no oceano e, com sorte, talvez. Pode ser qualquer coisa nesse momento, um perfume que se arrasta no ar, mãos que se tocam para apanhar algo do chão como nos filmes, ou ainda mais inesperado e quando olhaste em frente alguém te olhou de volta. Mas é preciso teres a sorte. E, in a blink of an eye, a vida pode mudar. Terá sido o meu nome na tua boca, inesperado, naquele fim de noite. O nome é meu, tão pessoal, e tu quiseste logo ali, desafiante, tomá-lo para ti, aquele que era meu e que agora não me pertence de tão teu.
É por isso inadiável esta urgência de reconquistar o tempo que já existia antes. É urgente que descubras por que gosto tanto de Pedro Paixão e que saibas que choro em quase todas as comédias românticas. É urgente que vejas os meus filmes preferidos e que conheças os sítios a que chamo meus, da mesma forma que há urgência em saberes qual o meu gelado ou a música a que sempre volto. Uma pressa de não perder mais tempo, de recuperar e de conhecer. E a necessidade de te advertir que se me deres espaço, ocupá-lo-ei. Ser moralmente correcta e, em avanço, advertir-te da carência, da dependência, mas também da minha bruta insensibilidade, bicho do mato anti-social e arraçado de labrador. Todos os termos e condições, sem letras miudinhas de contrato de banco. Aqui me tens, faça-se em mim segundo a tua vontade.
É ainda importante que saibas que estou apaixonada por ti, completa e estranhamente apaixonada por ti, e que já não me lembro como me devo comportar nessa situação e acabo por isso a escrever posts longos como quem escreve desesperadas, pirosas, ridículas cartas de amor adolescentes. E uma vontade lasciva de te deixar marca, um vestígio que nos revele como comunicado a que não te possas furtar, e que apenas a decência e a necessidade limitam. Um nome de propriedade e a propriedade de um nome. Esse nome que ainda não sei qual será mas que quero também para mim. Uma ponte, chama-lhe ponte.
Quando me passas a mão cuidada e carinhosamente pelo rosto em demoras de certeza, o dedo suave em todo o seu contorno, devagar e em cada espaço e cerras um pouco os olhos cansados que lhe seguem atentos o percurso, no intervalo, os teus olhos nos meus olhos. E sorris numa calma pacificadora, um sorriso que me parece sempre de alguém muito grato, como se tivesses medo de me esquecer, medo que eu desapareça, e quisesses por isso guardar fundo na memória cada pormenor. Esse sorriso que me faz querer cuidar de ti. Talvez tenha sido assim que me apaixonei, entre o teu sorriso e o teu cheiro, meu amor.
Tudo para dar certo, ou então, vamos falando. Temo que isto ainda possa acabar bem.
4 comentários:
Genial!
Obrigada. :)
Incrível! Adoro a forma como escreves!
Que continue tudo bem.
Abraço
Obrigada, cegonhagarajau!
Farei por isso.
Abraço*
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