Obriga-me a abandonar os gestos e a dizê-lo por palavras. Que o diga, se o
quero. Porque a vontade é sempre imperativa, o corpo sempre submisso. Explícito o meu querer, cedo sem sacrifício ao seu sentido prático. Não
me sujes o vestido. Não me estragues o cabelo. Abreviamos entendimentos e
furtamo-nos ao escusado das entrelinhas e meias medidas. Sabemos
ao que viemos.
É muito na palavra que coincidimos e nos confirmamos. Mesmo no
silêncio, quando a sua mirada parou no achado da minha e assim nos reconhecemos
no fundo dos olhos uma da outra, eternidade de verdade e de vida, poder-se-iam
também julgar ali palavras. Olhava-la e sabia-se ali abraço, sabia-se sempre, sabia-se amor. Não-ditas estas mas, tão óbvias, tão brutas, tão
desnecessárias. É a palavra o que nos abre e nos fecha. É a palavra que nos convoca e nos liberta, que nos inquieta e nos domina. São ainda as palavras
que nos molham. Adoro, pois, a sua dicção.
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