Apontamentos de uma viagem: Ollanta.

A Joana, com y, é uma mulher bonita com uma caligrafia bonita. Sorri quando lho digo. Nascida na pedra, criada na pedra, como ela diz. Entro no hostel e é como se lhes invadisse a casa. Sente-se um certo embaraço que se demora a soltar. Afinal, ali vive ela, o Juan Carlos, os filhos, os sogros. Entro no hostel como se me sentasse com eles à mesa. Ouvem-se os murmúrios de manhã e a telefonia alta sempre ao anoitecer. E há, é claro, o resto da família. Os pássaros de bons-dias na gaiola, um caniche caprichoso, a gata que se passeia nos telhados, os dois gatos filhotes, rapazolas, bebézolas, a brincar com uma barata que encontraram no vão das escadas. É esta uma casa simples, modesta, com uma mesa de jantar, corrida, grande. Um pouco como a aldeia, poderia dizer-se. Ollantaytambo é pequena e nada acontece. Dir-se-ia que é um desses sítios que começou e parou no tempo, à sombra das montanhas sagradas. Contam-se na mão as ruas de pedra, os aglomerados familiares, e até mesmo os dois polícias sinaleiros que governam as entradas e saídas são desnecessários. As vizinhas cumprimentam-se de manhã e seguem juntas para o mercado com os seus chapéus, as suas mil saias de cor, os sacos às costas sempre carregados, seja de milho, de cabras, de crianças. Ninguém pára em Ollanta, nem mesmo os turistas, e talvez por isso tenha sido este o predilecto. Só ficava a Joana e a pedra, ambas contrariando o pó dos dias.

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