De vez em quando, um desses mistérios que não quero esclarecer, ainda bate uma puta saudade. Ler-te. As palavras. O corpo. Uma breve ideia de amor. Vou-me tornando menos abstracta, menos lírica, porventura menos paciente, e nem por isso ignoro o concreto da tua boca e o fogo que ainda conseguirias produzir em mim, a mesma agitação de uma promessa. Penso se és já outra pessoa e se encontraste novas banalidades, pequenas alegrias, outros nomes para a solidão. Penso no jeito com que mexes no cabelo, na tua figura a maquilhares-te frente ao espelho, o chamamento das ancas, e arrependo-me de não te ter beijado este Verão. Eu estava tão cheia mas tão feliz naquela noite e tu estavas tão bonita, meu amor. Penso nos teus olhos grandes de ver tudo e procuro reconstruir o grito como que me conseguirias ainda acordar agora. Contorno de lembranças a margem táctil do teu corpo, como anotou o poeta, e digo o teu nome de cair sempre de pé, minha gata. Trocava num instante o meu reino pela tua gargalhada.
Sem comentários:
Enviar um comentário