É preciso voltar ao lugar onde se foi feliz, por caminhos estreitos, gastos pelo destino.

Nem pensei. Sem dinheiro, sem tempo, sem férias, sem lógica, sem um perfeito juízo. Assim sou eu. Afinal, não se marcam voos de um dia para o outro. Muito menos na promessa de um convite para almoço, nem um par de dias. Mas chamas e eu vou. Isto já nem é excentricidade, é uma ordem. É instinto, necessidade, invocação primordial, do mesmo sítio das entranhas e da amígdala. Isto é uma coisa animal. Porque ele escreveu e bem do quanto é obsceno contrariar a direcção do sangue, indecente ignorar um apelo. E por isso eu vou. Porque tens o mesmo sabor do perigo e do interdito, a excitação exacta de quem se sabe em face do ilícito e o mesmo descaramento de ser bem-educada e não correr na fuga, livre como uma borboleta. Porque confundes o tempo e o espaço, de repente apenas distracções, e consegues aportar o mundo inteiro no olhar e quando me olhas não são já segundos, mas a vida, ela toda. És o segredo que não partilho. Tu chamas e eu não penso. És o mito, a fé, o ar, a excepção, deus, tudo o que não sei explicar. Há quem conte que é a ausência de lógica que nos sustenta o real. Gosto de ti e nada disto faz sentido

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