Ralhas-me por ter as calças amarrotadas e por pôr demasiada manteiga no pão. Ralhas-me por conduzir depressa e por conduzir devagar ou por já estar dentro da rotunda e ainda estar a travar. Ralhas-me por não te enviar fotografias do almoço e ralhas-me por ter passado a tarde a ler em vez de estar a trabalhar. Ralhas-me por ir sem casaco, por entrar no restaurante de óculos na cabeça, como se fosse uma esplanada, e ralhas-me por ir de saco de pano azul, como se fosse às compras, ou por levar os meus poucos pertences nas mãos, como os homens. Ralhas-me por não estar com a cabeça à sombra e ralhas-me por comer coisas que me fazem mal. Ralhas-me por falhar a saída e por ter o rádio demasiado alto. Ralhas-me por levar ainda o biquíni vestido e por não encher a colher, comer em bicadas de passarinho. Ou ralhas-me por não estar sentada direita à mesa, esta fraca postura. Ralhas-me por tudo e por nada. E eu adoro, convencendo-me de que, enquanto ralhares, ainda te preocupas.
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