Sou o intervalo entre dois paradoxos. Oscilo entre o reconforto da conquista e a inquietação do que não soube manter. A convicção de que haveria sempre de apaixonar-me por ti, qualquer que fosse o nosso lugar e o nosso tempo, é tão forte como a suspeita de que nunca poderíamos ficar juntas. Somos a eternidade de um desencontro. A nossa paixão seria sempre trágica e não sei ainda se esta ideia me atormenta ou se me alivia. Tentámo-lo, alguma vez? Lembro-me de ver preços de casas em sítios onde não se passava nada, atirarmos para o ar um futuro e, mesmo aí, fui quem sonhou esse sonho. Os planos, se chegaram a ser nossos, sempre me foram apresentados. Havia uma hipótese de vida que ias traçando para ti e para a qual, atendendo à disposição dos dias, poderias convidar-me ou não. Nunca esperas por mim. Se eu quiser, que te siga. O teu corpo, as tuas regras.
O amor aconteceu-nos, tal como o desamor. Fall in, fall out. O pragmatismo do Inglês é tão bonito por vezes. Não estou certa de nele termos tido parte ativa. Quer dizer, há sempre o início e o início é sempre diferente, como quando se colocam rodapés em documentos. Diferente na primeira página. Mas depois, o resto. O rosto e o resto. Até quando se pode insistir numa ficção? O amor exige intencionalidade. O amor carece de destino, pois não é um fim, mas um meio.
A minha normalidade acabaria a qualquer momento por colidir na tua raridade. A isso não posso escapar. Haverei de continuar pessoa geral, e tu pessoa singular, rara.
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