Em verdade te digo, dias virão em que o homem repovoará a terra, não subjugando-a à sua condição de senhor, porque não o é, mas antes irmanando-se com ela, comungando da sua paz e sorvendo a sua beleza imaculada. Quedar-se, fitar e suspirar de fascínio e admiração. É então isto o paraíso.
Dias virão em que te saberás sozinho e sem limites, vazio de pretextos e nulo de amparos. Numa existência sem fundo, sem princípio e sem saída. Não quero, não quero. Verás então que o céu e o inferno são em ti e que o único relojoeiro és tu, e ainda assim nem o teu tempo controlas, quanto mais.
Por esses dias, numa violenta evidência que te brota do fundo, do nojo das vísceras, descobrirás que o homem não cabe num código, numa cor ou num sexo. A tua lágrima tem o mesmo sabor da minha. Serás ele e ele será contigo. A besta será destronada e o espírito será livre. Voa, meu anjo, voa.
Dias virão em que a penumbra será luz e a lua não trará lobisomens. Não tenhas medo, são só estórias. O Adamastor perecerá e o mar será a mão que te embala os sonhos, aquela para quem não tens segredos, porque dela saíste. E, quando assim for, serás genuíno na tua inocência de criança triste.
Quem tiver ouvidos que oiça! Porque só então chegarás lá, aonde queres mas ainda não o sabes, porque não o podes saber, porque foi só uma fumaça a desvanecer-se aquilo que pensas ter visto. Até que venham esses dias. Resigna-te. Esforça-te. Torna-os em ti. Estou só. E não temo.
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