Já não me conheces. Será que alguma vez me conheceste sequer? Não sei se quando voltas, a esta terra que ainda é tua, te sentes longe e errante daquilo que és. Não sei se no fundo de ti não troças desta impavidez e ingenuidade, com a certeza de que sabes algo a que eu, pobre ignorante não poderei nunca aspirar. Sempre te soube diferente, especial, destinada a um mundo maior, pintado da cor de cerejas e com um cheiro que se confunde entre o mar daqui, o mar de lá e o rio daí.
Para ti sou só uma estranha. Porventura, vaga recordação dos tempos de escola, onde vestíamos mal mas éramos inocentes e felizes. Ou talvez apenas distraídas. Nunca to disse, mas via-me sempre a competir contigo, a querer superar-te e superar-me. Mas não me lembro de ter conseguido estar vez alguma à tua altura. Acaso, será isso admiração - querer estar à altura de outro e querer ver da maneira que ele vê.
Para mim és ainda e só a Joana de São Martinho. Se não te ver no Verão, quando te dignas descer a este mundo perdido, é provável que me não recorde de ti durante os dias que passam. Tenho sempre mais em que pensar. Acabaste por te tornar uma conhecida quase desconhecida. Mas, alguma vez fomos amigas? E ontem redescobri-te por mero acaso. Pedes para não incomodar, mas...não sabes que tens uma personalidade irresistível e que o fruto proibido é o mais apetecido? Tive então a confirmação. És de facto única, Joana Banana.
Não me tomo por uma pessoa interessante, não gosto de conversas de circunstância ou de convívios forçados, de cortesia. Sou aborrecida, desligada de tudo e de todos, reles e miserável. Não trago em mim histórias fantásticas nem sonhos mirabolantes (se bem que ontem sonhei com a Angelina Jolie e com o Carlos das Desperate Housewives e foi um tanto ou quanto estranho!). Não tenho fanatismos nem traumas psicológicos graves, dignos de arrancar olhares de medo ou de reprovação. Se analisar bem, sei até que a maioria me achará toda certinha. Talvez demais. Desde quando é que os certinhos têm graça? No fundo, sou muito comum. Se calhar como todos.
Mas, da próxima vez que te ver, cara Joana, diz-me "apraz-me assaz" e fala-me da banca do Charneca e eu ouvirei com atenção. É que gostava de te conhecer de novo, sabes?
E a propósito, também me apraz assaz este teu texto e é por isso que o partilho. Enjoy...
"Quero as faquinhas, todas as que tiver por aí. Quero-as na carne mesmo, que já as sinto cravadas lá no fundo de mim. Quero sentir as laminas a cortar, primeiro a pele, para, por momentos, esquecer as que estão nas entranhas mais fundas, num lugar de onde as não posso arrancar. Deixei entrar lentamente este anzol de laminas, engolio-o, peixe burro que sou. Quero cuspi-lo mas não posso. Da goela só verte sangue, vermelho como as nossas cerejas. Trinca-me, anda. Antes perder um pedaço meu na tua boca que ficar inteira e não te sentir nunca."
por JoanaMF
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