Violinista no metro

"No início do ano, o Boston Symphony Hall cobrou bilhetes na ordem dos cem euros para um concerto com Joshua Bell como solista. No passado sábado, ao mesmo violinista foi atribuído o prestigiado Avery Fisher Prize, entregue oficialmente ontem, em cerimónia no Lincoln Center (Nova Iorque). Já invulgar foi o desafio lançado pelo Washington Post: o de, por uma só vez, mas sem qualquer anúncio nos jornais, tocar numa das estações de metro da capital dos EUA. Uma jornada de 43 minutos de música durante os quais, mesmo acompanhado por um violino com quase 300 anos (avaliado em mais de três milhões de dólares) e por um programa de peças que nenhuma sala de concertos desdenharia, lhe rendeu, dos transeuntes, uns magros 32 dólares e 17 cêntimos lançados ao chão. Contabilidade a que podemos somar 20 dólares, mas estes "oferecidos" pelo único passageiro que o reconheceu.

Com um Stradivarius de 1713 nas mãos, incógnito, sem fotógrafos a registar o momento (o aparente anonimato era, está visto, condição necessária nesta experiência), Joshua Bell chegou, como qualquer outro músico de rua, à estação L'Enfant Plaza, localizada no centro da cidade. Começou por tocar a Chaconne da Partita n.º 2 em ré menor, de J. S. Bach. E continuou o programa com uma série de outras peças que costuma apresentar nos seus recitais. Tocou exactamente durante 43 minutos. À sua frente passaram 1097 pessoas, poucas das quais tendo parado para o ouvir, menos ainda (na verdade apenas 27) as que lançaram mãos ao bolso e de lá tiraram uns trocos para oferecer ao músico. Entre os que se detiveram à sua frente, nem que por alguns momentos, contaram-se sobretudo crianças, muitas delas rapidamente puxadas para o passo seguinte pelos adultos, com pressa, que as acompanhavam.

Segundo a "cronometragem" apresentada depois no jornal, apenas sete pessoas roubaram mais de um minuto ao seu tempo para ficar a escutar aquele inesperado concerto... gratuito. Mas ninguém aplaudiu.Estava-se perto de uma hora de ponta, numa zona da cidade que recebe visitantes dos museus Smithsonian e de alguns departamentos oficiais. Mas, contra as expectativas do maestro Leonard Slatkin, director artístico da National Symphony Orchestra, de Washington DC, o afamado violinista recolheu uma receita bastante parca.Slatkin, contactado pelo Washington Post antes da experiência, vaticinou que Joshua Bell deveria arrecadar "ofertas" na ordem dos 150 dólares e que, a cada mil transeuntes, 35 certamente se deteriam à sua frente, conquistados pela beleza da música. Enganou-se! "
DN de 11-04-2007

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