Um ano

Faz hoje um ano e, enquanto penso nisso, mil pensamentos esvaem-se em todas as direcções. Tanta coisa para te contar e tanta coisa que nunca soube.
À distância de um ano, é ainda aquele momento em que mexeste por um instante os olhos quando te toquei na mão, aquele que mais me dói. A mulher forte, mau feitio, que cortava a luz aos inquilinos quando estes estavam a fazer demasiado barulho, ali, agarrada a um fio de vento.
Hoje relembro também a festa dos 75 anos, cerca de uma centena de pessoas a celebrar uma vida cheia, e tu, no fim, a ter de pedir 100 euros ao meu pai e teu filho. Soube-se depois que todos te sugaram, todos se aproveitaram, corja de hienas escondidas pelos laços da consanguinidade. Ninguém sabia, mas eras demasiado boa pessoa. Quando todos te desamparavam, quando todos te desiludiam, nunca reclamaste, nunca exigiste. Dever ser isso o amor incondicional. Merecias ter sido tão mais amada!
Eras a matriarca, decisora maior numa família de novela, enredo perfeito para histórias que só são capazes de fazer sentido na vida real. Nunca foste apenas esposa. Valias por ti própria, com uma personalidade única. Hoje, sei com firmeza o valor de um nome e o orgulho de ser "Capote". E a responsável és tu.
Hoje precisava de olhar para trás e saber que estarias lá. Como sempre.