Pointless

Enquanto lhe contas que te estás a curar (a descoberta e as flores que te distraem nas horas), que estás a progredir, que já percorreste este e aquele outro passo, que já não é ironia e obsessão (aquele texto foi para mim? - apagaste, riscaste, enterraste no mais profundo baú do teu miserável coração), que afinal bastava tentar para conseguir (fazes aquele sorriso idiota de quem achou ter-se convencido a si mesmo com tão manifestas provas de sucesso. Parabéns para ti.).

E logo repetes que só lamentas o desfecho que te deram (os teus comportamentos despropositados, dão-te a mão e queres roubar o braço para ti, o sabor da indiferença) pois uma coisa não impede a outra (a insegurança e o medo e a fragilidade dos primeiros meses) e porque sempre havíamos dito que não perderíamos a nossa amizade e afinal (a voz treme-te, a denunciar-te) e que te revolta a ideia de que uma vida, sonhos, histórias, esforços e sorrisos se percam assim no tempo como se nunca tivessem existido (para onde vai a nossa intimidade depois de nós?).

Aceleras o carro (sempre notam quando estás nervosa - as tuas mãos, o teu olhar, a tua pressa em terminar) e ela só te diz:


Para quê? Para quê? Diz-me.
(como minha melhor amiga tem obrigação de saber onde tocar e de tocar onde vai doer.)

E aquele para quê traz-te para a realidade. Mesmo que só olás e tudo bem e jóia e beleza e o tempo e a vida impessoal e a conversa de circunstância (Para quê?).

2 comentários:

AM disse...

'Para onde vai a nossa intimidade depois de nós?'

... era a isto que me referia no 'não é só isto'.

Está tão bonita esta passagem...

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Marisa disse...

Obrigado, AM :)