Tão natural como as flores (be patient)

"Não quero esconder-me nunca mais, de nada, de ninguém. E sei muito bem que tenho de fingir. E nem é só por ser mulher. É porque ainda não chegou para todos o tempo das verdades que queimam e curam, que hão-de ser tão naturais como as flores, não as das jarras, mas as outras, as que desabrocham e morrem, naturalmente, no cristal de Abril, muito simplesmente, sorrindo ao sol e ao Sul de uma felicidade de repente tão brilhante como as escamas dos peixes.
(...) Temos de atravessar ainda cidades e pessoas, prisões que hão-de explodir, certames de clítoris libertos, sebes como lâminas agudas, que havemos de colher e empacotar, para efeito de catalogação; e forçoso nos será andarmos sobre rochas, à beira-mar, à beira-útero, sobre pontas de diamante e pólipos vermelhos, com corrimento...
Algum dia, acredita, tornaremos a encontrar-nos e então completamente nus, tanto quando poderão está-lo, frente a frente, um homem e uma mulher.
Será preferível saber? assumirmo-nos totalmente?
Penso que será diferente meu amor."

Urbano Tavares Rodrigues,
Fuga Imóvel

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