O teu vestido preto

Mostrei à minha mãe o teu vestido e disse-lhe que tinha ficado com ele. A minha mãe achou bem. Já não tem o teu cheiro mas tem ainda os contornos do teu corpo. Um resto de ti que me ficou. De mim, atiram-mo com presunção de certezas, ficou-te apenas o meu nome, talvez nem isso.

Deveria ter deixado marca em ti, se fosse capaz. Tudo me parece insuficiente. Deveria ter usado o meu perfume para que sempre me recordasses o cheiro, deixar-te uma cicatriz profunda para que sempre te lembrasses de mim, susurrar-te ao ouvido mandamentos de eternidade enquanto dormias para que nunca me esquecesses, obrigar-te a saber que "para sempre" não deve ser mera expressão solta mas verdade viva. Deveria ter-te arrancado o coração para garantir que ele seria só meu. Nada disso fiz e por isso dizem que foi em vão porque hoje lembras a custo o meu nome. Talvez nem isso.

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