Este texto é bastante pertinente. Pensei-o muito depois de ler mas prefiro não opinar demasiado. Às vezes é preferível apenas ouvir até porque ter opinião implica conhecer, fundamentar, concluir, e também estar comprometido e defender, optar no fundo, o que, aliás, de pouco adianta porque, na generalidade dos casos, todos têm quase sempre razão.
Mas não podia deixar de o referir porque algumas coisas não se calavam cá dentro - a do ler estar na moda, a de ser mais fácil encarnar personagens, e a do lirismo de sofá, expressão por si só brilhante e que se auto-denuncia. E também a derradeira - porque se explora tanto o sofrimento, com ou sem recurso aos Russos, ao ponto deste quase ser exaltado como virtude?
Não sei se ler está, de facto, na moda. Mas, estando, haverá mal nisso? Há uns anos atrás li Paulo Coelho, Margarida Rebelo Pinto, dois ou três livros de Nicholas Sparks até e, embora todos os referidos se encaixem na apelidada categoria "light" (costumo chamar-lhes 'livros de auto-ajuda'), não me envergonho de dizer que os li, uma vez que talvez por esse mesmo motivo aprendi gradualmente a ser mais selectiva na escolha daquilo que leio actualmente. O ler por ler ou ler para se dizer que lê parece-me sempre algo inevitável numa sociedade de aparência e uniformidade (o espírito de rebanho) de que ninguém se quer sentir excluído. Até mesmo o recurso constante a citações poderá ser entendido como um 'disfarce de vacuidade sob a forma de pseudo-intelectualidade' (copyright da Luna) ou um certo exibicionismo ignorante e limitado (como quando indico no blog os livros que vou comprando) mas, ainda assim, é um risco que a maioria corre na esperança de que poucos descubram a fraude que somos. E acredito que, no meio de tanta insistência de parecer ou ler sem critério maior do que a capa dos livros, alguma coisa decente e positiva há-de resistir e quiçá a moda vira vício e a aparência vira realidade. Valha-nos isso.
Não há dúvida de que encarnar e explorar de outros ângulos o que já está feito é mais simples e também mais preguiçoso mas, criar algo novo numa altura em que todos já tentaram tudo assoma quase como tarefa impossível, creio eu, que disso nada sei. A chamada escrita criativa já nada cria, apenas repete de outras maneiras moldáveis, iludindo assim aqueles que ainda acreditam. As palavras que há não chegam e, mesmo que mais houvessem ainda assim não chegariam porque são todas vazias e isoladas. Mas são só as minhas teorias.
E depois há esse lirismo de sofá, que não vive mas quer viver, que se apropria de emoções universais e particulares como suas, que mergulha no sonho e, acordado, ainda não percebeu que acordou. Um querer tudo de todas as maneiras à Álvaro de Campos e o exagero das sensações imaginárias na tentativa vã de as tornar reais e intensas, mantendo os rendilhados (im)perfeitos e o cantar dos rouxinóis. Pobres sonhadores, não de espírito que o têm, mas da vida que almejam ter.
Finalmente, e daí derivado, o sofrimento dignificado a condição superior. E então calo-me porque não sei mais que dizer, porque olho em retrospectiva para mim e para os conteúdos deste blog e reparo que escrevi bem mais em períodos de sofrimento do que naqueles de felicidade e não sei explicar isso. Talvez entretida a viver? Não sei se existem estatísticas comparativas sobre o processo de escrita e o estado emocional do escritor (e não, obviamente não me coloco a esse nível, apenas uma observação!) mas seria interessante poder analisar. Sofrer, seja real ou fingido, estará também na moda? Talvez porque as vidas cor-de-rosa não são tão interessantes ou talvez porque às vezes basta meter um tiro nos miolos para se ser acolhido na crítica. Ou até porque se sofre mesmo e dói e a dor não sabe parar mesmo que se implore. Toda a gente tem uma ligeira obsessão com o sofrimento alheio e é por isso que sempre que há acidentes há uma dúzia de mirones entusiasmados, parece-me. E em que medida é que quem sofre se pode saciar em ter público e assim explorar até ao estado mais depressivo possível a sua dor? Não sei explicar mas a resposta deve estar algures entre o telejornal da noite e as novelas da TVI.
Mas, isto sou só eu aqui a debitar hipóteses que, como se pode ver, o meu lirismo também é só este, o do sofá em que estou deitada a escrever isto, até porque a mais não tenho pretensões.
(e, Margarida, não é sarcasmo ou ironia, é a verdade: li e vi-me.)
Mas não podia deixar de o referir porque algumas coisas não se calavam cá dentro - a do ler estar na moda, a de ser mais fácil encarnar personagens, e a do lirismo de sofá, expressão por si só brilhante e que se auto-denuncia. E também a derradeira - porque se explora tanto o sofrimento, com ou sem recurso aos Russos, ao ponto deste quase ser exaltado como virtude?
Não sei se ler está, de facto, na moda. Mas, estando, haverá mal nisso? Há uns anos atrás li Paulo Coelho, Margarida Rebelo Pinto, dois ou três livros de Nicholas Sparks até e, embora todos os referidos se encaixem na apelidada categoria "light" (costumo chamar-lhes 'livros de auto-ajuda'), não me envergonho de dizer que os li, uma vez que talvez por esse mesmo motivo aprendi gradualmente a ser mais selectiva na escolha daquilo que leio actualmente. O ler por ler ou ler para se dizer que lê parece-me sempre algo inevitável numa sociedade de aparência e uniformidade (o espírito de rebanho) de que ninguém se quer sentir excluído. Até mesmo o recurso constante a citações poderá ser entendido como um 'disfarce de vacuidade sob a forma de pseudo-intelectualidade' (copyright da Luna) ou um certo exibicionismo ignorante e limitado (como quando indico no blog os livros que vou comprando) mas, ainda assim, é um risco que a maioria corre na esperança de que poucos descubram a fraude que somos. E acredito que, no meio de tanta insistência de parecer ou ler sem critério maior do que a capa dos livros, alguma coisa decente e positiva há-de resistir e quiçá a moda vira vício e a aparência vira realidade. Valha-nos isso.
Não há dúvida de que encarnar e explorar de outros ângulos o que já está feito é mais simples e também mais preguiçoso mas, criar algo novo numa altura em que todos já tentaram tudo assoma quase como tarefa impossível, creio eu, que disso nada sei. A chamada escrita criativa já nada cria, apenas repete de outras maneiras moldáveis, iludindo assim aqueles que ainda acreditam. As palavras que há não chegam e, mesmo que mais houvessem ainda assim não chegariam porque são todas vazias e isoladas. Mas são só as minhas teorias.
E depois há esse lirismo de sofá, que não vive mas quer viver, que se apropria de emoções universais e particulares como suas, que mergulha no sonho e, acordado, ainda não percebeu que acordou. Um querer tudo de todas as maneiras à Álvaro de Campos e o exagero das sensações imaginárias na tentativa vã de as tornar reais e intensas, mantendo os rendilhados (im)perfeitos e o cantar dos rouxinóis. Pobres sonhadores, não de espírito que o têm, mas da vida que almejam ter.
Finalmente, e daí derivado, o sofrimento dignificado a condição superior. E então calo-me porque não sei mais que dizer, porque olho em retrospectiva para mim e para os conteúdos deste blog e reparo que escrevi bem mais em períodos de sofrimento do que naqueles de felicidade e não sei explicar isso. Talvez entretida a viver? Não sei se existem estatísticas comparativas sobre o processo de escrita e o estado emocional do escritor (e não, obviamente não me coloco a esse nível, apenas uma observação!) mas seria interessante poder analisar. Sofrer, seja real ou fingido, estará também na moda? Talvez porque as vidas cor-de-rosa não são tão interessantes ou talvez porque às vezes basta meter um tiro nos miolos para se ser acolhido na crítica. Ou até porque se sofre mesmo e dói e a dor não sabe parar mesmo que se implore. Toda a gente tem uma ligeira obsessão com o sofrimento alheio e é por isso que sempre que há acidentes há uma dúzia de mirones entusiasmados, parece-me. E em que medida é que quem sofre se pode saciar em ter público e assim explorar até ao estado mais depressivo possível a sua dor? Não sei explicar mas a resposta deve estar algures entre o telejornal da noite e as novelas da TVI.
Mas, isto sou só eu aqui a debitar hipóteses que, como se pode ver, o meu lirismo também é só este, o do sofá em que estou deitada a escrever isto, até porque a mais não tenho pretensões.
(e, Margarida, não é sarcasmo ou ironia, é a verdade: li e vi-me.)
Sem comentários:
Enviar um comentário