Pick one

No cansaço de insistires nas aparências que não duram, porque nada dura para sempre, quando a verdade se dilui no álcool, confidencias-me, debruçada sobre o balcão, que talvez não devesses ser tão perfeccionista. Depois olhas-me com os teus olhos cansados mas que não perdem nunca o brilho, esperando a minha aprovação e concordância.

A insuficiência que apenas e sempre só tu notas no que outros chamam normalidade atrai-te para conclusões traiçoeiras em que seria menos doloroso acreditar - talvez sejas tu, tu que és exigente, tu que queres mais, tu que não te contentas com relações em lume brando, em que uns dias sim uns dias não (não deixes que te convençam). Talvez o problema sejas tu (não acredites, é uma armadilha).

Vais alternando entre momentos de lucidez que, por vezes, se confundem com intervalos de contentamento e resignação. Ris e choras e às tantas não sabes se ris ou se choras, é sempre assim, não há extremos que não acabem algum dia por se tocar. Quando não aguentas e a tristeza aparece disfarçada como aquele aperto na garganta que te sufoca e faz engasgar, contas-te em confissão. A constante ironia do mundo que te ataca também a ti e um rol de perguntas que vêm desde o início de sermos: aquela que pode ter quem quiser (olha os meus dedos, pick one), não se sente adorada por aquele, único, que tem. Ninguém te disse que seria justo (mas confia).

Queria poder salvar-te, resgatar-te para o meu mundo perfeito mas sabes porém que não te posso levar, mesmo que julgue que ninguém te ama como eu. Não te posso responder, mesmo que desconfie da resposta. Por isso não argumento. Porque sou, na realidade, pior que tu, não cumpro, toco a campainha e desato a correr. Salto mas preciso de pára-quedas, fujo só se souber para onde, tenho mais medo que tu mas apenas disfarço melhor. Mas não duvido que vais descobrir e que eu vou continuar lá. É que há coisas que tens de descobrir sozinha.

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