Até mais

Não te despeças com "até mais". Até mais é quase sempre até nunca mais, uma expressão fria de quem não se conhece e não tem nisso interesse, despedida vazia no vazio que existe entre duas pessoas que nada partilham.

Perde-se a familiaridade, perde-se a cumplicidade, pode até perder-se a confiança quando duas pessoas se perdem uma da outra, quando tudo é já perdido. Foi também assim. E, mesmo quando se tem a oportunidade da amizade, é um trabalho árduo e demorado, todas as reconstruções o são. É por isso que nem todos aguentam. Pode até já nem magoar mas não te atreves a arriscar a abrir a ferida, por isso há perguntas que preferes não fazer porque não queres ouvir a resposta que sabes de antemão, porque não queres ceder mais à tentação das comparações fáceis e erróneas, porque nada, nunca, é comparável. Há assuntos em que não tocas porque não queres escutar o nome que vem por arrasto e que não é o teu, há passados que já não têm futuro e aí a razão para não insistir e evitar criar essa sensação de embaraço, como quando, inocentemente, te mostrei lembrar todas as moradas e todas as ocasiões que já foram nossas, e logo o silêncio, consequente e pesado, com um sorriso.

Todas as conversas são limitadas nesse intervalo, liberdade condicionada a esse quadrado fechado onde podemos existir em simultâneo sem segundas intenções, assuntos tabú criados instintivamente para a nossa protecção, a de todos. Por isso, recomeço com prudência, espero a tua vontade, deixo-te conduzir, vou só se me levares contigo e páro se decidires parar. Não vejo mal nisso, não reclamo, é, aliás, uma questão de bom senso necessária.

Como quando alguém morre e tu acreditas que está algures numa estrela a zelar por ti, porque nunca te poderia deixar. Ou como quando, mesmo sem acreditares, às vezes, quando tudo falha, Lhe falas e pedes, porque não acreditas que possa ser só assim. Procuramos um reconforto, uma segurança, mesmo certos da sua ilusão, porque temos necessidade dela, não nos conseguimos bastar em nós. Como quando prefiro acreditar que só existes tu e que, por mais nomes que ainda possas ter do teu lado, nunca te vais esquecer do meu.

Por isso não digas "até mais".

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